Por Regina Maria Horta Barbosa de
Oliveira
(Texto
integrante do curso on-line “Relacionar-se com olhos abertos”, junto à
Universidade Livre para a Consciência)
Na parceria amorosa ideal entre duas pessoas, é
preciso que as três forças – Amor, Sexo e Eros – estejam presentes. O que
fazer, então, para manter Eros? Eros só pode ser mantido se for usado como
ponte para a verdadeira parceria amorosa, no sentido mais elevado. Como isso
acontece?
Para responder a esta pergunta vamos analisar o
principal elemento da força erótica: a aventura, a busca do conhecimento de
outra alma. Este desejo é natural em todas as pessoas porque a força vital
inerente precisa, no fim, tirar a pessoa do seu estado de separação, então,
Eros fortalece a curiosidade pelo outro ser. Enquanto existe algo de novo para
descobrir na outra alma e enquanto um se revela para o outro, Eros vive. Quando
as pessoas acreditam que descobriram tudo o que há para descobrir e revelaram
tudo o que há para revelar, Eros parte. O grande erro é achar que há um limite
para o conhecimento um do outro.
Quando se atinge um determinado grau de revelação,
em geral, superficial, as pessoas se acomodam. Eros, com seu forte impacto,
levou até esse ponto. A partir daí, a vontade de continuar buscando as
profundezas sem limites do outro e, voluntariamente, revelar e expor a própria
busca interior determina se Eros está ou não sendo usado como ponte para o
amor, o que, por sua vez, é sempre determinado pela vontade de aprender a amar.
É impossível chegar ao ponto de conhecer totalmente a outra alma.
Nada do que é vivo permanece estático. As pessoas
sábias usam o poderoso momento de Eros como impulso inicial e, depois, prosseguem
por conta própria. Nesse momento, Eros se incorpora ao verdadeiro amor do
casamento. Quanto mais as duas almas se revelam uma para a outra e buscam
descobrir novos aspectos do outro ser, mais feliz é o casamento de forma a
possibilitar sua verdadeira finalidade espiritual.
Segundo Pierrakos, só quando duas pessoas fazem
isso é que elas podem ser purificadas juntas e, assim, ajudar uma a outra. Duas
almas desenvolvidas podem satisfazer-se mutuamente por meio da procura das
camadas profundas da alma do outro. Dessa forma, o que está em cada uma das
almas aflora à mente consciente, ocorrendo a purificação. A chama da vida
(Eros), então é mantida, para que o relacionamento nunca fique estagnado e nem
degenere. Eros, assim, se transforma no verdadeiro amor.
Durante o processo de revelação mútua todas as
máscaras caem por terra, até mesmo as mais profundas de cuja existência a
pessoa não tinha consciência. De acordo com Krishnamurti, basta um dos
parceiros ter a compreensão do significado do relacionamento. Ele será capaz de
ajudar o outro e, aos poucos, os dois estarão no processo de revelação e
purificação.
Se você estiver sozinho, poderá, também, com esse
conhecimento e com essa verdade, reparar o dano que causou à própria alma,
abrigando conceitos errados no inconsciente. Talvez você descubra o medo de se
lançar com o outro na busca da revelação das almas, o que explicaria o fato de
estar sozinho. Quem não estiver disposto a correr o risco dessa grande
aventura, não pode conhecer a verdadeira felicidade do casamento.
Resumindo para tornar mais claro: Quando as pessoas
se apaixonam e iniciam um romance, Eros está se manifestando. Dependendo da
capacidade de se revelarem um ao outro que, por sua vez, depende do
desenvolvimento, da disposição, da coragem, da humildade, poderão usar Eros
como uma ponte para o amor. Ao revelarem-se um ao outro, revelam-se também a
Deus e, ao mesmo tempo acontece a purificação.
Vocês devem estar se perguntando: Onde entram os
princípios masculino e feminino nessa história?
À medida que as pessoas vão se purificando pelos
relacionamentos vão equilibrando seus princípios masculino e feminino. O
inverso também é verdadeiro. Quando equilibramos nossos princípios masculino e
feminino melhoramos nossos relacionamentos e vamos corrigindo nossas
distorções, isto é, vamos nos purificando, como vimos na aula passada.
Conforme vamos nos libertando da fantasia de
encontrar a pessoa perfeita, vamos compreendendo que é preciso integrar o
masculino e o feminino dentro de nós e, a partir daí, começa-se a experenciar a
unidade. Para integrarmos o masculino e o feminino dentro de nós é preciso
desejar a integração. Muitas vezes uma parte de nós quer a integração e a outra
não, porque não queremos nos abrir para o outro.
Estamos obstinados a fazer o outro realizar nossas
fantasias, nossos desejos. Queremos que o outro seja aquilo que acreditamos que
ele deve ser. Isso não é amor, é egoísmo. Não é olhar para o outro, é olhar
para si mesmo. Precisamos deixar de buscar amar imperfeitamente seres
perfeitos, para amar perfeitamente seres imperfeitos.
Quando queremos que o outro atenda às nossas
expectativas, bloqueamos a possibilidade de compreender como o outro funciona e
adiamos a integração do feminino e do masculino dentro de nós e,
consequentemente, adiamos nosso encontro com Deus. Olhar para o outro
objetivamente, significa olhar para a luz e para as imperfeições do outro e,
estar aberto para amá-lo, mesmo com as suas imperfeições. Reconhecemos as
imperfeições, mas não damos força para elas.
É preciso aceitar as diferenças. Só aceitamos as
diferenças quando podemos olhar para elas. Mas, para poder enxergá-las,
precisamos estar abertos para isso. É necessário transparência, não ter
segredos, não ter mentira. É estar aberto para receber a revelação do outro e,
o outro estar aberto para receber a nossa revelação. E assim vamos crescendo no
amor.
Assim, vamos perdendo a motivação de forçar o outro
a dar algo que ele não tem para dar. Começamos a respeitar o tempo do
outro e abrir mão da necessidade de ser amado exclusivamente, porque
experimentamos o amor. Se temos para dar, podemos abrir mão da necessidade de
receber o tempo todo. Dessa forma, a mente vai se aquietando e se tornando
equânime, serena. Surge, então, a felicidade.
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