Por Regina Maria Horta Barbosa de
Oliveira
(Texto
integrante do curso on-line “Relacionar-se com olhos abertos”, junto à
Universidade Livre para a Consciência)
Na aula de hoje trataremos de três forças
específicas do universo: a força do amor, do modo como se manifesta entre os
sexos; a força erótica; e a força sexual. São três princípios ou forças
notadamente diferentes, mas frequentemente confundidas, sendo de grande
importância para os relacionamentos esclarecer esta questão.
De acordo com Pierrakos (2007), a força erótica é
uma das mais poderosas forças existentes no Universo. Tem a função de fazer a
ponte entre o sexo e o amor, embora raramente o faça. Nas pessoas
espiritualmente desenvolvidas, esta força transporta a experiência erótica, que
é de curta duração, para um estado de puro amor e sua centelha mantém-se acesa.
Quando a personalidade ainda não aprendeu a amar, cultivando todas as
qualidades e requisitos necessários para o verdadeiro amor, a força erótica se
esgota rapidamente e este é o problema do casamento. Como a maioria das pessoas
é incapaz de amor puro, também é incapaz de atingir o casamento ideal.
Eros é a expressão do apaixonar-se e, sob muitos
aspectos, assemelha-se ao amor, por provocar impulsos de altruísmo e afeto que
a pessoa de outra forma não manifestaria, como acontece com as pessoas
apaixonadas. É por isso que Eros é confundido com amor. Com a mesma frequência,
Eros é confundido com instinto sexual, que também se manifesta como um forte
desejo.
A força erótica tem grande finalidade espiritual
porque permite às pessoas experimentar o grande sentimento e a beleza contidos
no amor verdadeiro. Sem Eros, o anseio de amar permaneceria profundamente
enterrado na alma e o medo do amor seria mais forte que o desejo.
“Eros é a experiência mais próxima do amor que o
espírito não- desenvolvido pode ter”, afirma Pierrakos. É capaz de elevar a
alma, tirá-la da apatia, do mero contentamento e do estado vegetativo. Por
meio desta força, até um criminoso tem durante algum tempo, pelo menos com
relação a alguém, um sentimento de bondade do qual não seria capaz. Enquanto
dura Eros, o egoísta tem impulsos altruístas, os acomodados saem da inércia, o
escravo da rotina livra-se dos hábitos fixos.
Eros mantém a pessoa num plano acima da separação,
mesmo que por um curto período de tempo. Proporciona à alma o antegozo da
união. Quanto mais forte a experiência de Eros, menos satisfação encontra a
alma na pseudosegurança da separação. Até a pessoa totalmente centrada em si
mesma, durante sua experiência de Eros é capaz de fazer um sacrifício. Como
esta força capacita a pessoa a fazer coisas que normalmente não tem inclinação,
ela é facilmente confundida com o amor.
No entanto, o amor é um estado permanente da alma e
Eros é passageiro. O amor só pode existir se for fortemente alicerçado pela
purificação e desenvolvimento da alma. O amor não vai e vem ao acaso como o faz
Eros que aparece subitamente e, muitas vezes, pega a pessoa de surpresa e pouco
predisposta a passar pela experiência.
Só quando a pessoa aprende a amar é que Eros se
torna a ponte para o amor manifesto entre o homem e a mulher. A experiência
erótica lança na alma uma semente e faz com que ela anseie pela unidade, a
grande meta da evolução espiritual. Enquanto a alma está separada, só lhe resta
isolamento e infelicidade. Eros permite que a personalidade deseje a união pelo
menos com algum outro ser. “Nas alturas do mundo espiritual, existe união entre
todos os seres – e, assim, com Deus”, diz Pierrakos. Na esfera terrena, a força
erótica é propulsora para o verdadeiro amor, seja ela compreendida ou não.
Quando não é utilizada para cultivar o amor na alma, rapidamente fenece.
Algumas pessoas tem medo das próprias emoções e
evitam as experiências eróticas por medo de sair do estado de separação. Mesmo
para elas, Eros aparece subitamente como um bom remédio apesar da mágoa e da
perda que podem sobrevir após o término da experiência. Outras pessoas, embora
tenham outros medos, não receiam esta experiência ou mesmo buscam-na
avidamente. Voltam-se para diversos indivíduos, mas não se dispõem a aprender o
amor puro, usam a força erótica para o prazer e, quando este se esgota, buscam-no
em outra parte.
A experiência erótica muitas vezes se combina com o
impulso sexual, mas nem sempre precisa ser assim. As três forças, amor, Eros e
sexualidade, muitas vezes aparecem totalmente separadas, enquanto, as vezes,
duas delas se combinam. Apenas nos casos ideais, as três se combinam
harmoniosamente.
Ao contrário de Eros, a força sexual pura é
totalmente egoísta. O sexo sem Eros e sem amor pode ser considerado animalesco.
Nas pessoas razoavelmente saudáveis, Eros e sexo se fundem e ambas fluem em uma
só corrente.
Em relacionamentos prolongados é comum a
coexistência de amor com sexo, mas sem Eros. Nestes casos, embora o amor não
seja perfeito, existe afeto, companheirismo, amizade, respeito mútuo, mas sem a
centelha erótica que desapareceu há algum tempo. No entanto, com Eros ausente,
o relacionamento sexual acaba sofrendo e este é o problema da maioria dos
casamentos.
Na parceria amorosa ideal entre duas pessoas, é
preciso que as três forças estejam presentes, o que fazer, então, para manter
Eros? Eros só pode ser mantido se for usado como ponte para a verdadeira
parceria amorosa, no sentido mais elevado. Como isso acontece? (Continuação em
“Os Princípios Masculino e Feminino no
Amor, Sexo e Eros II).