domingo, 14 de setembro de 2014

Os Princípios Masculino e Feminino no Amor, Sexo e Eros (I)


Por Regina Maria Horta Barbosa de Oliveira
(Texto integrante do curso on-line “Relacionar-se com olhos abertos”, junto à Universidade Livre para a Consciência)

Na aula de hoje trataremos de três forças específicas do universo: a força do amor, do modo como se manifesta entre os sexos; a força erótica; e a força sexual. São três princípios ou forças notadamente diferentes, mas frequentemente confundidas, sendo de grande importância para os relacionamentos esclarecer esta questão.
De acordo com Pierrakos (2007), a força erótica é uma das mais poderosas forças existentes no Universo. Tem a função de fazer a ponte entre o sexo e o amor, embora raramente o faça. Nas pessoas espiritualmente desenvolvidas, esta força transporta a experiência erótica, que é de curta duração, para um estado de puro amor e sua centelha mantém-se acesa. Quando a personalidade ainda não aprendeu a amar, cultivando todas as qualidades e requisitos necessários para o verdadeiro amor, a força erótica se esgota rapidamente e este é o problema do casamento. Como a maioria das pessoas é incapaz de amor puro, também é incapaz de atingir o casamento ideal.
Eros é a expressão do apaixonar-se e, sob muitos aspectos, assemelha-se ao amor, por provocar impulsos de altruísmo e afeto que a pessoa de outra forma não manifestaria, como acontece com as pessoas apaixonadas. É por isso que Eros é confundido com amor. Com a mesma frequência, Eros é confundido com instinto sexual, que também se manifesta como um forte desejo.
A força erótica tem grande finalidade espiritual porque permite às pessoas experimentar o grande sentimento e a beleza contidos no amor verdadeiro. Sem Eros, o anseio de amar permaneceria profundamente enterrado na alma e o medo do amor seria mais forte que o desejo.
“Eros é a experiência mais próxima do amor que o espírito não- desenvolvido pode ter”, afirma Pierrakos. É capaz de elevar a alma, tirá-la da apatia, do mero contentamento e do estado vegetativo. Por meio desta força, até um criminoso tem durante algum tempo, pelo menos com relação a alguém, um sentimento de bondade do qual não seria capaz. Enquanto dura Eros, o egoísta tem impulsos altruístas, os acomodados saem da inércia, o escravo da rotina livra-se dos hábitos fixos.
Eros mantém a pessoa num plano acima da separação, mesmo que por um curto período de tempo. Proporciona à alma o antegozo da união. Quanto mais forte a experiência de Eros, menos satisfação encontra a alma na pseudosegurança da separação. Até a pessoa totalmente centrada em si mesma, durante sua experiência de Eros é capaz de fazer um sacrifício. Como esta força capacita a pessoa a fazer coisas que normalmente não tem inclinação, ela é facilmente confundida com o amor.
No entanto, o amor é um estado permanente da alma e Eros é passageiro. O amor só pode existir se for fortemente alicerçado pela purificação e desenvolvimento da alma. O amor não vai e vem ao acaso como o faz Eros que aparece subitamente e, muitas vezes, pega a pessoa de surpresa e pouco predisposta a passar pela experiência.
Só quando a pessoa aprende a amar é que Eros se torna a ponte para o amor manifesto entre o homem e a mulher. A experiência erótica lança na alma uma semente e faz com que ela anseie pela unidade, a grande meta da evolução espiritual. Enquanto a alma está separada, só lhe resta isolamento e infelicidade. Eros permite que a personalidade deseje a união pelo menos com algum outro ser. “Nas alturas do mundo espiritual, existe união entre todos os seres – e, assim, com Deus”, diz Pierrakos. Na esfera terrena, a força erótica é propulsora para o verdadeiro amor, seja ela compreendida ou não. Quando não é utilizada para cultivar o amor na alma, rapidamente fenece.
Algumas pessoas tem medo das próprias emoções e evitam as experiências eróticas por medo de sair do estado de separação. Mesmo para elas, Eros aparece subitamente como um bom remédio apesar da mágoa e da perda que podem sobrevir após o término da experiência. Outras pessoas, embora tenham outros medos, não receiam esta experiência ou mesmo buscam-na avidamente. Voltam-se para diversos indivíduos, mas não se dispõem a aprender o amor puro, usam a força erótica para o prazer e, quando este se esgota, buscam-no em outra parte.
A experiência erótica muitas vezes se combina com o impulso sexual, mas nem sempre precisa ser assim. As três forças, amor, Eros e sexualidade, muitas vezes aparecem totalmente separadas, enquanto, as vezes, duas delas se combinam. Apenas nos casos ideais, as três se combinam harmoniosamente.
Ao contrário de Eros, a força sexual pura é totalmente egoísta. O sexo sem Eros e sem amor pode ser considerado animalesco. Nas pessoas razoavelmente saudáveis, Eros e sexo se fundem e ambas fluem em uma só corrente.
Em relacionamentos prolongados é comum a coexistência de amor com sexo, mas sem Eros. Nestes casos, embora o amor não seja perfeito, existe afeto, companheirismo, amizade, respeito mútuo, mas sem a centelha erótica que desapareceu há algum tempo. No entanto, com Eros ausente, o relacionamento sexual acaba sofrendo e este é o problema da maioria dos casamentos.
Na parceria amorosa ideal entre duas pessoas, é preciso que as três forças estejam presentes, o que fazer, então, para manter Eros? Eros só pode ser mantido se for usado como ponte para a verdadeira parceria amorosa, no sentido mais elevado. Como isso acontece? (Continuação em “Os Princípios Masculino e Feminino no Amor, Sexo e Eros II).

Os Princípios Masculino e Feminino no Amor, Sexo e Eros (conclusão)

Por Regina Maria Horta Barbosa de Oliveira
(Texto integrante do curso on-line “Relacionar-se com olhos abertos”, junto à Universidade Livre para a Consciência)

Na parceria amorosa ideal entre duas pessoas, é preciso que as três forças – Amor, Sexo e Eros – estejam presentes. O que fazer, então, para manter Eros? Eros só pode ser mantido se for usado como ponte para a verdadeira parceria amorosa, no sentido mais elevado. Como isso acontece?
Para responder a esta pergunta vamos analisar o principal elemento da força erótica: a aventura, a busca do conhecimento de outra alma. Este desejo é natural em todas as pessoas porque a força vital inerente precisa, no fim, tirar a pessoa do seu estado de separação, então, Eros fortalece a curiosidade pelo outro ser. Enquanto existe algo de novo para descobrir na outra alma e enquanto um se revela para o outro, Eros vive. Quando as pessoas acreditam que descobriram tudo o que há para descobrir e revelaram tudo o que há para revelar, Eros parte. O grande erro é achar que há um limite para o conhecimento um do outro.
Quando se atinge um determinado grau de revelação, em geral, superficial, as pessoas se acomodam. Eros, com seu forte impacto, levou até esse ponto. A partir daí, a vontade de continuar buscando as profundezas sem limites do outro e, voluntariamente, revelar e expor a própria busca interior determina se Eros está ou não sendo usado como ponte para o amor, o que, por sua vez, é sempre determinado pela vontade de aprender a amar. É impossível chegar ao ponto de conhecer totalmente a outra alma.
Nada do que é vivo permanece estático. As pessoas sábias usam o poderoso momento de Eros como impulso inicial e, depois, prosseguem por conta própria. Nesse momento, Eros se incorpora ao verdadeiro amor do casamento. Quanto mais as duas almas se revelam uma para a outra e buscam descobrir novos aspectos do outro ser, mais feliz é o casamento de forma a possibilitar sua verdadeira finalidade espiritual.
Segundo Pierrakos, só quando duas pessoas fazem isso é que elas podem ser purificadas juntas e, assim, ajudar uma a outra. Duas almas desenvolvidas podem satisfazer-se mutuamente por meio da procura das camadas profundas da alma do outro. Dessa forma, o que está em cada uma das almas aflora à mente consciente, ocorrendo a purificação. A chama da vida (Eros), então é mantida, para que o relacionamento nunca fique estagnado e nem degenere. Eros, assim, se transforma no verdadeiro amor.
Durante o processo de revelação mútua todas as máscaras caem por terra, até mesmo as mais profundas de cuja existência a pessoa não tinha consciência. De acordo com Krishnamurti, basta um dos parceiros ter a compreensão do significado do relacionamento. Ele será capaz de ajudar o outro e, aos poucos, os dois estarão no processo de revelação e purificação.
Se você estiver sozinho, poderá, também, com esse conhecimento e com essa verdade, reparar o dano que causou à própria alma, abrigando conceitos errados no inconsciente. Talvez você descubra o medo de se lançar com o outro na busca da revelação das almas, o que explicaria o fato de estar sozinho. Quem não estiver disposto a correr o risco dessa grande aventura, não pode conhecer a verdadeira felicidade do casamento.
Resumindo para tornar mais claro: Quando as pessoas se apaixonam e iniciam um romance, Eros está se manifestando. Dependendo da capacidade de se revelarem um ao outro que, por sua vez, depende do desenvolvimento, da disposição, da coragem, da humildade, poderão usar Eros como uma ponte para o amor. Ao revelarem-se um ao outro, revelam-se também a Deus e, ao mesmo tempo acontece a purificação.
Vocês devem estar se perguntando: Onde entram os princípios masculino e feminino nessa história?
À medida que as pessoas vão se purificando pelos relacionamentos vão equilibrando seus princípios masculino e feminino. O inverso também é verdadeiro. Quando equilibramos nossos princípios masculino e feminino melhoramos nossos relacionamentos e vamos corrigindo nossas distorções, isto é, vamos nos purificando, como vimos na aula passada.
Conforme vamos nos libertando da fantasia de encontrar a pessoa perfeita, vamos compreendendo que é preciso integrar o masculino e o feminino dentro de nós e, a partir daí, começa-se a experenciar a unidade. Para integrarmos o masculino e o feminino dentro de nós é preciso desejar a integração. Muitas vezes uma parte de nós quer a integração e a outra não, porque não queremos nos abrir para o outro.
Estamos obstinados a fazer o outro realizar nossas fantasias, nossos desejos. Queremos que o outro seja aquilo que acreditamos que ele deve ser. Isso não é amor, é egoísmo. Não é olhar para o outro, é olhar para si mesmo. Precisamos deixar de buscar amar imperfeitamente seres perfeitos, para amar perfeitamente seres imperfeitos.
Quando queremos que o outro atenda às nossas expectativas, bloqueamos a possibilidade de compreender como o outro funciona e adiamos a integração do feminino e do masculino dentro de nós e, consequentemente, adiamos nosso encontro com Deus. Olhar para o outro objetivamente, significa olhar para a luz e para as imperfeições do outro e, estar aberto para amá-lo, mesmo com as suas imperfeições. Reconhecemos as imperfeições, mas não damos força para elas.
É preciso aceitar as diferenças. Só aceitamos as diferenças quando podemos olhar para elas. Mas, para poder enxergá-las, precisamos estar abertos para isso. É necessário transparência, não ter segredos, não ter mentira. É estar aberto para receber a revelação do outro e, o outro estar aberto para receber a nossa revelação. E assim vamos crescendo no amor.
Assim, vamos perdendo a motivação de forçar o outro a dar algo que ele não tem para dar. Começamos a respeitar o tempo do outro e abrir mão da necessidade de ser amado exclusivamente, porque experimentamos o amor. Se temos para dar, podemos abrir mão da necessidade de receber o tempo todo. Dessa forma, a mente vai se aquietando e se tornando equânime, serena. Surge, então, a felicidade.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Por que não vemos o "lado positivo" do outro?


Walter S. Barbosa[1]
A natureza humana é dual. Provavelmente, a mais objetiva evidência disso é a relação  entre o masculino e o feminino, que são forças ligadas ao princípio criativo universal, estando presentes dentro de cada ser humano. Atuando no aspecto da sexualidade (além de outros), esse princípio é responsável pela geração de corpos físicos destinados a abrigar e expandir consciências no mundo dos relacionamentos. Tais relacionamentos, por sua vez, são vivenciados sob o jugo de outra dualidade: o prazer e a dor, causando muitos conflitos. Desses conflitos deve nascer a Luz.

No nível estritamente material a história se repete: a polaridade inerente à estrutura do átomo gera relações eletromagnéticas que levam à formação de elementos e substâncias – sob a direção das Hierarquias Criadoras –, sustentando o aspecto material de todo corpo. De diferentes maneiras isso deve acontecer em todos os planos da manifestação – seguindo a máxima de Hermes Trismegistro "Assim como é em cima, é embaixo" – pois todos são atômicos, materiais, com diferentes graus de densidade. Atuando no plano mental essa realidade nos escraviza, mas também nos liberta.

Contrapondo-se à dualidade como aspecto governante da forma – incluindo os corpos ligados à personalidade –, encontra-se o Princípio da Unidade inerente à Consciência ou Espírito por trás da forma. “Corporificado” em Deus como origem de tudo, esse princípio pode ser resumido na palavra Amor, que é Sua manifestação. O Amor é a “cola” universal. Por meio dele manifestamos Deus em tudo que fazemos. E quanto mais o fazemos, menos a dualidade age destrutivamente nas relações, perdendo seu principal impulso: a reatividade (tentáculo do passado no presente).

Desde a estrutura do átomo, não há corpo sem consciência e nem consciência sem corpo, variando numa escala infinita o tamanho ou grandeza dessas consciências. Na matéria inerente aos planos físico, emocional e mental, essas consciências denominam-se "essência elemental". Segundo Besant & Leadbeater, “Essa matéria se amolda muito facilmente à influência do pensamento humano. Todo impulso que brote do corpo mental ou do corpo astral, cria imediatamente uma espécie de veículo temporário, que se reveste dessa matéria vitalizada”[2]. A essência elemental é semi-inteligente, e as formas que ela anima são denominadas simplesmente “elementais”.

Vivendo em nossos corpos – mas pertencendo ao arco descendente da evolução – essas forças influenciam nosso comportamento na medida em que nos entregamos a elas, manifestando inveja, ira, rancor, preguiça etc., justificando as palavras do apóstolo Paulo: "Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço". De que maneira vemos os outros por trás desse espesso véu? Da mesma forma que enxergamos a nós mesmos.

Em virtude das relações eletromagnéticas inerentes ao átomo e também à consciência elemental do plano mental, a criação da forma naquele mundo é instantânea, conforme a natureza da energia manipulada pela consciência a partir dos pensamentos. Como entidades autoconscientes – mas ainda ignorantes de nossos poderes – fazemos essa manipulação automaticamente, criando formas mentais dotadas de vida, contra os outros e até contra nós mesmos. Toda criação surge primeiro no plano mental, para depois se tornar física. Somos co-criadores do Universo.

Conforme o grau de nossas consciências, se revela o grau de nossos julgamentos em relação às pessoas. O que está determinando esse grau? Naturalmente, a dualidade, pois a consciência daquele que julga é permeada pela forma que a contém. Conforme a qualidade do corpo, em termos de energia, é a qualidade do pensamento, do sentimento e, consequentemente, da ação.

Quanto mais purificado nosso corpo (exaltando satva, a qualidade da harmonia na matéria), menor sua dualidade e, portanto, menos tendencioso e reativo é o julgamento, conseguindo sobrepor à nossa visão negativa aquilo que o outro tem de bom, até o ponto em que o julgamento se dissolve na pura compassividade.

Alguém poderá dizer: "Não são as essas suas palavras apenas um fruto do intelecto?" De fato, bem longe estamos de vivenciá-las em nosso dia a dia. É simplesmente a aspiração que se derrama por nossos dedos, algo que compartilhamos de coração para coração, como acontece a todo aspirante. A vida dos homens santos, porém, é um exemplo disso. Estando seu corpo e consciência unificados numa pura manifestação de amor, veem a realidade em toda parte – como diz o sábio Ramana Maharishi – e assim jamais apontam o dedo para alguém, jamais constrangem.

Ignorantes do mundo interno de cada um – com suas misérias e conflitos (o que só a compaixão pode captar) – e fazendo vista grossa às nossas próprias misérias, é de fato a arrogância que nos eleva à condição do julgador. Como reverter esse processo, diminuindo o hábito dos julgamentos – que anda de mãos dadas com a reatividade – trazendo harmonia às relações? Essa questão pode ser examinada, com muito proveito, pelo ângulo das energias, onde os aspectos psicológicos ganham a dimensão material.

Preliminarmente, como benefício direto do mundo dos relacionamentos, não há como negar o fato de que um defeito qualquer apontado em nós tem uma grande possibilidade de ser real, atuando por ressonância magnética (identidade vibratória) sobre o outro, gerando sua reação. Ou seja, a reação do outro pode não ser apenas uma projeção de seu próprio defeito, algo que ele vê distorcido em função da cor dos “óculos” mentais.

Então, como podemos distinguir se o defeito é real, ou não? Um indicador seguro quanto a isso é o desconforto gerado em nós pelo julgamento de que formos alvo. Esse desconforto representa a continuação da cadeia da ressonância, mostrando que o defeito é verdadeiro, o que exigirá de nós muita reflexão e trabalho interno, pondo consciência no problema a fim de superá-lo. Caso contrário, poderemos olhar aquilo com indiferença e mesmo compreensão, extinguindo-se aí a cadeia da reatividade.

“Deixar de fazer o mal, fazer o bem e purificar a mente: essa é a lição de todos aqueles que despertaram”, ensina Gautama Buda. No extremo da dualidade, o egoísmo e a maldade predominam, nos tornando joguetes da vida elemental. Nessa situação, buscamos prazer unicamente para nós, sem nos importar com a dor que causamos aos outros, na verdade sentindo prazer com essa dor. O mundo mental provavelmente está cheio de formas-pensamento com essa finalidade.

Momentos assim, de maldade “explícita”, retornam ao nosso dia a dia mesmo depois que passamos ao 2° nível – começando a praticar o bem – incluindo as justificativas com que mascaramos nossos atos. É imensa a variedade desses comportamentos, indo desde os ataques físicos até a maledicência embalada em palavras doces, não esquecendo as situações em que – inclusive na sombra da omissão – gozamos silenciosamente nossa cota de prazer com o mal em jogo. Apesar do silêncio, a forma-pensamento nos delataria aos olhos de um clarividente, eventualmente descarregando sua carga negativa sobre nós próprios, seus criadores.

Por essa razão, na busca da purificação mental está a grande chave para a mudança. Segundo Mehta, "Somente os puros veem a pureza"[3].

Diante da impureza já existente em nosso campo mental, o trabalho de purificação é uma imposição da vontade espiritual já desenvolvida em nós, resumindo nosso grau de consciência neste momento. Por meio dela nos autodeterminamos a busca das melhores energias – e, portanto, dos melhores pensamentos – substituindo as que hoje caracterizam nosso comportamento dentro do jogo da dualidade, da reatividade. Sem essa autodeterminação não há como escapar à atração magnética do passado.

Quando julgamos alguém, o que fazemos? Ressaltamos seu lado pior (que pode até nem existir, como projeção nossa), por meio de nosso lado pior. Caso contrário, ressaltaríamos seu "lado positivo", porque seria esse que estaríamos enxergando (vemos conforme as cores de nossa mente). Pensar mal de alguém – ainda que em silêncio – é energia que nos limita e também limita o outro, agregando em nossas naturezas formas-pensamento de intriga e hostilidade, que se realimentam sempre.

A partir disso, buscar ver o lado melhor do outro (em essência, somos luz) é sem dúvida o caminho mais verdadeiro e mais inteligente, pois reforça seu aspecto positivo por ressonância com nosso pensamento e ainda substitui, em nosso campo mental, a energia aprisionante da maledicência pela energia do bem, da compaixão, do Amor.

Procurar ver o "lado bom" do outro, reforçando essa qualidade nele, é uma forma extraordinária de fazer o bem, pois funciona sem oposição alguma, podendo ser acionada a qualquer hora e de qualquer lugar do planeta. Vemos por aí de que maneira o conflito dos relacionamentos (quase inevitável porque neste mundo somos egos operando com egos) pode gerar os estados de transcendência.

Convém ressaltar que as energias são neutras: nem boas, nem más. Além disso, no plano da Unidade – ou do Espírito – apesar de ainda existir matéria, a dualidade não mais predomina. Nossa opção pela “energia do bem” neste momento significa apenas a neutralização daquilo que de impuro existe em nós – obscurecendo a energia do Amor, que é nossa natureza divina, original. Retirada essa impureza, a Luz certamente prevalecerá.


[1] Membro da Sociedade Teosófica e Diretor da Universidade Livre para a Consciência (UNICONSPORTAL)
[2] BESANT, Annie & LEADBEATER, C.W. “Formas de Pensamento”, Editora Pensamento.
[3] MEHTA, Rohit. O Chamado dos Upanixades, Editora Teosófica.