Walter S. Barbosa[1]
Ao estabelecer seu “ministério”, o Cristo cercou-se
de homens simples, na maioria pescadores do Mar da Galiléia. Entre eles foram
eleitos os “doze”, a quem o Divino Instrutor entregava os ensinamentos mais
profundos, ensinando “aos de fora” por parábolas.
Por que razão Jesus foi procurar seus discípulos junto
a esses homens rudes, ao invés de preferir os intelectuais, os sacerdotes do
Templo que, em função de sua cultura e capacidade de atuar como “formadores de
opinião”, teriam aparentemente melhores condições de assimilar e propagar sua
mensagem?
A resposta para isso é bastante óbvia. Os “doutores
da Lei” estavam comprometidos com sua própria mensagem. A do Cristo vinha
justamente contrariar seus interesses, colocando em risco a autoridade que
desfrutavam junto ao povo. No final, foi o clamor do povo que O sentenciou,
preferindo, sob a incitação dos sacerdotes, libertar Barrabás.
A dominação gera um laço misterioso entre
dominadores e dominados. Eles se gratificam mutuamente, porque afinal há uma
“mercadoria” em jogo, sustentada por meio da “tradição”: o anseio de segurança,
de continuidade. Isso nos faz adversários de tudo que representa necessidade de
alterar parâmetros, eventualmente lançando-nos em caminhos desconhecidos. A
propriedade da matéria por trás disso chama-se inércia (tamas), afetando especialmente
nossa disposição para pensar. É a “preguiça” em todas as suas facetas.
Na “Escada de Ouro” descrita por H.P.Blavatsky[2], há um trecho que nos convida
a ter “mente aberta, coração puro e intelecto ardente”. A expressão “ardente” sugere
ligação com o fogo. Este pode queimar de forma renovadora – limpando a erva má
para que a boa prevaleça – ou simplesmente de maneira destrutiva.
O que caracteriza um homem de cultura, na acepção
comum? Ser detentor de muitas informações na perspectiva horizontal do conhecimento, onde a
complexidade é extrema, pela diversidade que a caracteriza. Nessa condição, o
observador está olhando a “pirâmide” do conhecimento de baixo para cima, sendo
para ele difícil enxergar a relação entre as partes. Daí para o “materialismo”,
ou ceticismo, a distância é um passo.
A respeito, o teósofo indiano I. K. Taimni[3] diz: “Somente quando a
consciência de um indivíduo está apta a entrar em contato com a mente divina é
que ele percebe o seu trabalho e conhece o esplendor das realidades internas
ocultas nos planos espirituais, por trás do trabalho aparentemente caótico e
sem propósito do universo físico”.
A “Escada de Ouro” refere-se ao intelecto
ardente
desse homem que, por ser de mente aberta e coração puro, tem condições de ir
além da própria mente, tornando-a um canal do Espírito. O fogo alimentado aí
queima as impurezas que nos prendem ao jogo dos apegos e auto-importância. Só
dessa maneira cada um de nós pode deixar de ser um “sócio” de Barrabás, em
cada momento preferindo libertá-lo ao invés do Cristo Interno.
Quando não sustentado pela pureza, o aprofundamento
intelectual gera mais resistência e, freqüentemente, maus frutos. Curiosamente,
porém, acabou ficando nas mãos de um intelectual – o apóstolo Paulo – a missão
de fundamentar os passos iniciais do Cristianismo, depois de passar pelo fenômeno
ocorrido na estrada de Damasco (encontro com o “Cristo Ressuscitado”), provavelmente
simbolizando sua “Iniciação”.
Esse é o lado misterioso do intelecto: quando
afinal se submete ao Pai, ao Eu Real, torna-se poderoso elemento de
transformação, podendo mudar o mundo.
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