domingo, 30 de dezembro de 2012

Purificação da mente: trabalho essencial



Purificação da mente: trabalho essencial
Walter S. Barbosa
            “Abster-se do mal, realizar o bem, purificar a mente, esse é o ensinamento de todos aqueles que despertaram” (Dhammapada). Esses três conselhos do Buda – termo que, por sinal, significa “O desperto” – resumem tudo que devemos fazer.
            Quanto de mal realizamos diariamente, desde as agressões mais rudes reportadas pela mídia, até as que podem ficar ocultas nas rodas mais íntimas: violências morais, injúrias, furto de ideias e maledicência? Se fizermos um exame retrospectivo de nosso dia antes de dormir, podemos descobrir um pouco de nossa contribuição nesse sentido.
            De onde surge tudo isso? Justamente de nossas impurezas mentais, reforçadas de minuto a minuto pelos estímulos à posse, à competitividade, à inveja. Por outro lado, essas impurezas nos impedem de realizar o bem, alimentando desconfianças ou preconceitos, criando bloqueio aos impulsos generosos do coração. “Abster-se do mal”, contudo, vem antes porque a prática deliberada do mal se situa no nível mais baixo das defesas do ego, que cresce pela diminuição do outro.
            Com impacto ainda mais profundo e abrangente, sem defesas, age o mal praticado por meio do pensamento. Da mesma maneira que, como um “pecado” mental, a inveja é capaz de fulminar uma planta até a raiz ou arruinar a saúde de uma criança pelo “mau olhado” – baseando-se no uso inconsciente de energias negativas – o mal que praticamos mentalmente não conhece barreiras, atravessa o mundo.
            Se a total abstinência do mal é difícil, a prática do bem é um “salto quântico”, encontrando felicidade exatamente no oposto: desejar o melhor para o outro. Quantos de nós ficamos em paz com a felicidade alheia ou somos capazes de cooperar com ela?
            A disposição para realizar o bem nasce da espontaneidade do amor, que chegará um dia a ser incondicional, abrangendo todas as criaturas vivas. Esse amor já existe em algum lugar dentro de nós. Sua expressão é impedida pela supremacia do ego, ocupado somente de seu próprio conforto. Porém, baseando-se tal comportamento no medo, em que resulta? No desconforto, porque o medo divide o mundo, nos isola das pessoas, contamina as bases da sociedade, cria juízos errôneos e fortalece a corrupção.
            Desprendimento e amor caminham juntos, da mesma forma que o egoísmo e o medo. Assim, o medo se encontra na essência de nossas impurezas mentais, girando em torno da sobrevivência do ego – falso eu criado pela mente – princípio de todos os males do mundo (colocar nossos problemas em algo externo, incluindo o “demônio”, apenas faz com que eles continuem engordando, ignorados, dentro de nós).
            Como superar o medo e abrir caminho à purificação mental? Essa possibilidade pode vir de uma lógica muito simples: nada temos a perder na prática do bem, no exercício da generosidade, do amor. Sim, porque tudo que acreditamos pertencer-nos de fato já está perdido, sendo apenas uma questão de tempo, não é mesmo?
            Por outro lado, a vida que tememos perder é Deus em nós, um dom eterno. Cresce, contudo, em realidade, beleza e plenitude na proporção que a livramos da obsessão pelas posses e, principalmente, da sensação de possuir. Tal sensação confere-nos uma identidade ilusória (somos isto ou aquilo pelos títulos e bens que possuímos), dando mais força ao ego e originando o medo das perdas inevitáveis.
            Isso tudo é um peso enorme, mas ao mesmo tempo puramente mental, encolhendo quando focamos sobre ele algo infinitamente maior e mais potente: a luz de nossa própria consciência. Podemos experimentar isso agora.

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