Walter S. Barbosa[1]
Segundo o físico Marcelo Gleiser[2],
“A mecânica do Universo não precisa de Deus, mas o homem precisa". Em síntese, seu
argumento é de que, para poder explicar o inexplicável, o homem comum precisa
de uma figura que seja a explicação de tudo – ou seja, Deus –, ainda que ela mesma
seja inexplicável ou incompreensível. Para ele, contudo, na medida em que o homem se
aprofunda pela ciência nos mistérios do Universo e começa a entendê-los, ele
percebe que tudo tem uma explicação lógica. Daí em diante, Deus não mais é necessário.
Até certo ponto damos razão àquele cientista,
considerando a visão antropomórfica de Deus nas religiões. Como pode um
velhinho de longas barbas, sentado em uma nuvem, governar o universo com bilhões
de galáxias? Será que Ele consegue? Essa ideia ainda reside no imaginário de
muitas pessoas, como herança dos tempos em que a Terra era o centro do universo
por imposição da Igreja, sob ameaça de morte a quem contestasse.
Na visão esotérica, porém, Deus – muito mais
que um expectador (o tal velhinho) – além de transcender Sua obra, encontra-se
mergulhado nela mesma, como Seu corpo, Sua vida e Sua consciência. Assim, se
olharmos para uma pedra, nela enxergamos Deus. Se olharmos para uma abelha,
nela enxergamos Deus. Se olharmos para um homem, nele enxergamos Deus. Deus é a
única realidade existente no Universo, como ensina a trindade egípcia na figuras
cósmicas de Osíris, Ísis e Hórus (Pai, Mãe e Filho), da qual a trindade cristã,
aparentemente, é uma cópia imperfeita.
Quando Gleiser diz que a mecânica do Universo
não precisa de Deus é justamente porque Deus é não somente o Universo, mas
também a vida que o anima e a inteligência que o habita (muito além da palavra
"mecânica"), parecendo por isso mesmo não ser necessário e nem
existir em lugar algum. É o que exprime Einstein[3]
ao afirmar: “Em
vista de tal harmonia [existente] no cosmos – que eu, com minha limitada mente
humana, sou capaz de reconhecer –, ainda há pessoas que dizem que Deus não
existe".
Nesse paradoxo, por analogia, reside também a
diferença entre o “ter” e o “ser”. Quando você possui algo, tal percepção
decorre da identificação desse algo fora de você mesmo, o que é perceptível
também por qualquer outra pessoa. Sendo Deus o próprio Universo, quem poderá
distingui-lo senão na realização de sua obra? Estando dentro de cada pessoa,
quem conseguirá vê-lo senão pela beleza e equilíbrio da constituição dessa
pessoa, assim como pela beleza e equilíbrio existentes em um átomo, numa
célula, no universo?
É da natureza da ciência estar sempre se
reformulando em suas certezas, na medida em que o conhecimento avança. Mas, na
justa proporção em que isso acontece, a beleza e inteligência inerentes ao
Universo – parecendo, a alguns, torná-lo autônomo, gerado por si mesmo – se apresentam mais e mais
extraordinárias, o que deveria contribuir até para aumentar as incertezas, em
lugar de diminuí-las. Ou, no mínimo, para colocar as certezas bem longe das
forças do acaso, como registra o biólogo Lipton[4]
no estudo maravilhoso do mundo das células.
Contudo, para os intelectuais que se
especializam em definir tudo em sua área de interesses, restringindo-se às
especulações da mente, seu tesouro se baseia justamente em tais definições. O
que representam elas em muitos casos, porém – desde o infinitamente pequeno ao
infinitamente grande – além da ousadia de tentar explicar, com os limites da mente
concreta, aquilo que está muito além dela?
Ante essa questão, é proveitoso novamente
lembrar o pensamento de Einstein[5],
que uniu – à genialidade do conhecimento – a prudência que caracteriza o
verdadeiro sábio. Diz ele, referindo-se aos mistérios de que se ocupa a
ciência: "Estamos
na posição de uma criança entrando em uma enorme biblioteca cheia de livros em
muitas línguas. A criança sabe que alguém deve ter escrito aqueles livros. Ela
não sabe como. Não compreende as línguas em que estão escritos. A criança
suspeita vagamente de uma misteriosa ordem na organização dos livros, mas não
sabe o que é. Isso, parece-me, é a atitude de mesmo o mais inteligente ser
humano para com Deus."
[1]
Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.
[2] Fonte: http://youtu.be/4yQFnQfRO5c
[4]
LIPTON, Bruce. “A Biologia da Crença”, editora Butterfly.
[5]
Idem.
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