domingo, 30 de dezembro de 2012

O Universo precisa de Deus?


                                                                                                                 Walter S. Barbosa[1]
Segundo o físico Marcelo Gleiser[2], “A mecânica do Universo não precisa de Deus, mas o homem precisa". Em síntese, seu argumento é de que, para poder explicar o inexplicável, o homem comum precisa de uma figura que seja a explicação de tudo ou seja, Deus , ainda que ela mesma seja inexplicável ou incompreensível. Para ele, contudo,  na medida em que o homem se aprofunda pela ciência nos mistérios do Universo e começa a entendê-los, ele percebe que tudo tem uma explicação lógica. Daí em diante, Deus não mais é necessário.

Até certo ponto damos razão àquele cientista, considerando a visão antropomórfica de Deus nas religiões. Como pode um velhinho de longas barbas, sentado em uma nuvem, governar o universo com bilhões de galáxias? Será que Ele consegue? Essa ideia ainda reside no imaginário de muitas pessoas, como herança dos tempos em que a Terra era o centro do universo por imposição da Igreja, sob ameaça de morte a quem contestasse.

Na visão esotérica, porém, Deus – muito mais que um expectador (o tal velhinho) – além de transcender Sua obra, encontra-se mergulhado nela mesma, como Seu corpo, Sua vida e Sua consciência. Assim, se olharmos para uma pedra, nela enxergamos Deus. Se olharmos para uma abelha, nela enxergamos Deus. Se olharmos para um homem, nele enxergamos Deus. Deus é a única realidade existente no Universo, como ensina a trindade egípcia na figuras cósmicas de Osíris, Ísis e Hórus (Pai, Mãe e Filho), da qual a trindade cristã, aparentemente, é uma cópia imperfeita.

Quando Gleiser diz que a mecânica do Universo não precisa de Deus é justamente porque Deus é não somente o Universo, mas também a vida que o anima e a inteligência que o habita (muito além da palavra "mecânica"), parecendo por isso mesmo não ser necessário e nem existir em lugar algum. É o que exprime Einstein[3] ao afirmar: “Em vista de tal harmonia [existente] no cosmos que eu, com minha limitada mente humana, sou capaz de reconhecer , ainda há pessoas que dizem que Deus não existe".

Nesse paradoxo, por analogia, reside também a diferença entre o “ter” e o “ser”. Quando você possui algo, tal percepção decorre da identificação desse algo fora de você mesmo, o que é perceptível também por qualquer outra pessoa. Sendo Deus o próprio Universo, quem poderá distingui-lo senão na realização de sua obra? Estando dentro de cada pessoa, quem conseguirá vê-lo senão pela beleza e equilíbrio da constituição dessa pessoa, assim como pela beleza e equilíbrio existentes em um átomo, numa célula, no universo?

É da natureza da ciência estar sempre se reformulando em suas certezas, na medida em que o conhecimento avança. Mas, na justa proporção em que isso acontece, a beleza e inteligência inerentes ao Universo – parecendo, a alguns, torná-lo autônomo, gerado por si mesmo – se apresentam mais e mais extraordinárias, o que deveria contribuir até para aumentar as incertezas, em lugar de diminuí-las. Ou, no mínimo, para colocar as certezas bem longe das forças do acaso, como registra o biólogo Lipton[4] no estudo maravilhoso do mundo das células.

Contudo, para os intelectuais que se especializam em definir tudo em sua área de interesses, restringindo-se às especulações da mente, seu tesouro se baseia justamente em tais definições. O que representam elas em muitos casos, porém – desde o infinitamente pequeno ao infinitamente grande – além da ousadia de tentar explicar, com os limites da mente concreta, aquilo que está muito além dela?

Ante essa questão, é proveitoso novamente lembrar o pensamento de Einstein[5], que uniu – à genialidade do conhecimento – a prudência que caracteriza o verdadeiro sábio. Diz ele, referindo-se aos mistérios de que se ocupa a ciência: "Estamos na posição de uma criança entrando em uma enorme biblioteca cheia de livros em muitas línguas. A criança sabe que alguém deve ter escrito aqueles livros. Ela não sabe como. Não compreende as línguas em que estão escritos. A criança suspeita vagamente de uma misteriosa ordem na organização dos livros, mas não sabe o que é. Isso, parece-me, é a atitude de mesmo o mais inteligente ser humano para com Deus."


[1] Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.
[2] Fonte: http://youtu.be/4yQFnQfRO5c
[3] Fonte: Did Albert Einstein Believe in a Personal God? by Rich Deem
[4] LIPTON, Bruce. “A Biologia da Crença”, editora Butterfly.
[5] Idem.

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