domingo, 30 de dezembro de 2012

Em busca da verdade: aquilo que "é"



Walter S. Barbosa
            “Aquilo que é” denota permanência, duração sem limite, algo que poderíamos chamar "para sempre". Essa é a natureza da verdade. 
       Segundo o teósofo I. K. Taimni (2), o maior problema do mundo é a ignorância, significando esquecimento de nossa natureza divina – a fonte da verdade. Daí confundirmos essa natureza com o corpo de carne e sua condição mortal.
            Nessa confusão, baseada na vida separada do ego, origina-se o maior medo – perecimento das coisas deste mundo – e conseqüentemente o maior desejo, ainda que inconsciente: recuperar a noção da imortalidade espiritual, o sentimento de comunhão com toda vida, conforme simbolizado no “paraíso”. Nele, como relata a gênese bíblica, desfrutávamos de intimidade com Deus. O paraíso era a vida em corpos etéricos (primeiras raças humanas), sem percepção do mundo físico.
            Na terceira raça-raiz com acréscimo do atributo mental (episódio conhecido como “Queda dos Anjos”) , entramos no conhecimento do bem e do mal, esquecendo a plenitude da união com Deus. Em compensação, temos a oportunidade de dominar a matéria ao vencer cada fraqueza ou defeito, reduzindo a dualidade “bem e mal” (atração e repulsão) em nossa natureza. Assim, vamos recuperando a unidade perdida, acrescentando algo que não tínhamos no “paraíso”: a consciência do Poder de Deus em nós.
            O princípio supremo da Unidade - ou “intimidade” com Deus - é a origem da verdade, sendo Deus o ponto focal da consciência presente em tudo. Fora desse ponto, o que chamamos verdade é somente um “punhado de idéias”, com capacidade para gerar tragédias imensas. A partir dos conflitos familiares, todos – de origem religiosa ou não – são baseados nisso. A verdade não julga, não condena, não mata. Não tem interesses pessoais. Não faz escolhas. Não precisa de dogmas. Não tem preferência por nações. A verdade não tem lados. É a própria “Vida Una”.
            Sendo a ausência da verdade a base dos conflitos, e querendo evitá-los, que indicação temos para isso? Além de ser a “Vida Una” a fonte natural da verdade - levando-nos a eliminar comportamentos egoístas, inclusive quanto às plantas e animais - uma expressão utilizada por Eckhart Tolle(3) designa a verdade como “aquilo que é”.
            Qual o significado da frase? Em princípio, pode-se afirmar: a verdade nunca é o que pensamos ser, considerando determinado fato. Qualquer pensamento é simples interpretação nossa, carregada de memórias e preconceitos. Por isso, Rohit Mehta(4) diz que onde entra o pensamento, entra a falsidade, a impureza. Assim, só seremos capazes de saber a verdade – aquilo que “é” – quando isolarmos a mente do processo, deixando o trabalho para a consciência. A mente funcionará então como ponte luminosa entre o espírito e a matéria, trazendo justiça e paz a este mundo.
            A melhor chance de nos aproximarmos da verdade, em qualquer situação, é inibir a reação de julgar. Dar um tempo. Este simples esforço, como sinal de consciência, faz com que o ego vá renunciando à “sua” verdade – espada com que tem vitimado inimigos reais ou imaginários em todas as épocas – dando ensejo a que a verdade possa brotar, como água cristalina, do fundo do nosso coração.
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(1)     “A Ciência do Yoga”, Editora Teosófica
(2)     “O Poder do Agora”, Editora Sextante.
(3)     “O Chamado dos Upanixades”, Editora Teosófica.

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