Ante
o sofrimento, rebelar-se ou crescer?
Walter S. Barbosa
Um dos mais simples e belos ensinamentos
do Buda está no “Óctuplo Caminho”, que começa afirmando a realidade do
sofrimento, batendo diariamente à nossa porta. Tal ensinamento diz também que a
causa do sofrimento é o desejo, a força que leva à união do macho com a fêmea, ao
impulso de comer um doce, de comprar um carro e, na origem de tudo, até ao surgimento
do Universo pela união do pai e mãe cósmicos, desdobrados de Deus (Absoluto): o
espírito e a matéria.
Sofrimento e desejo andam juntos a
partir do fato de que desejar é insatisfação no agora, o sentimento de
incompletude e a respectiva dependência de que algo aconteça como felicidade no
“vir a ser”. Não paramos de desejar nunca, passando de um desejo a outro.
Assim, quando o futuro chega a felicidade não se realiza. A insatisfação -
sempre rondando - sufoca a alegria que se criou ante o objeto de desejo
conquistado, levando-nos freqüentemente a concluir: “Não era bem isso que eu
queria”.
O que é isso, senão a continuidade
sem fim do sofrimento?
Pagamos o preço. Jamais desistimos. Por
quê? Porque de fato há um tesouro na essência de nossa busca. Ele é a serenidade
e a paz que intuitivamente sabemos existir (apenas por já existir é que pode
ser real). Sintetizando amor, união, plenitude, isso é a própria felicidade,
absorvendo a potência de todos os desejos. Às vezes temos sua presença no
sentimento de “estar em tudo” ou “conter tudo” que a meditação provoca.
Nessa experiência abre-se um espaço
de silêncio dentro de nós, significando ausência de pensamento. Tudo acontece
nesse silêncio, levando afinal ao “samadhi”, que é a realização de nossa
natureza divina, fundamentada no poder sobre a matéria, que cresce na proporção
que vencemos nossos defeitos. Essa é a completude que, ilusoriamente, buscamos em
coisas externas.
Enquanto não chegamos lá, porém, o
sofrimento domina. Diante dele, rebelar-se ou crescer? Rebelar-se é não aceitar
o sofrimento, ou seja, negá-lo, buscar culpados, anestesiar-se com drogas e
outros recursos de fuga. Quando a aceitação não acontece, a causa do sofrimento
segue desconhecida, aumentando o problema.
Tudo aquilo a que resistimos, fortalecemos.
Aceitar não significa, porém, desistir da mudança. Ao contrário, quando olhamos
a situação com receptividade, a raiz do problema - de base mental, incluindo
desejos insatisfeitos - vem à tona, indicando uma ação harmonizadora,
extinguindo o problema. A razão é simples: pusemos consciência nele, expandindo
a vida espiritual. A escuridão não suporta a luz.
Eckhart Tolle[1]
nos dá uma chave ao dizer que a escuridão é passiva e a luz é ativa. Quando
iluminamos um quarto escuro não é a escuridão que sai, é a luz que entra. Por
isso, Helena Blavatsky diz que o mal não tem existência própria, é apenas ausência
do bem. Somente de cada um de nós depende manter ou eliminar a realidade do
sofrimento, crescendo no processo. Sofrer ou não é escolha nossa. Freqüentemente,
porém, escolhemos sofrer – como nas situações de ódio mantidas por longo tempo –
gerando o paradoxo de arruinarmos a vida com nosso próprio veneno.
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