Walter S. Barbosa[1]
“Sonhar é bom”. Com suas
variações, essa frase é bem conhecida de todos nós, indicando que fazemos
planos para elevar as condições do nosso viver, geralmente com ênfase no
material-afetivo. Os homens santificados, pelo quase alheamento quanto a posses
ou mudanças no nível terreno – tendo atingido a plenitude do vazio, a total
existência no agora – naturalmente deixaram para trás todo “sonho”. Eles SÃO
tudo que poderiam sonhar, ainda que dispondo do mínimo necessário à sustentação
do físico.
De acordo com a sabedoria
oriental, “Tudo que está vazio tende a se encher; tudo que está cheio tende a
se esvaziar”, o que está ligado ao determinismo cíclico de toda existência. Assim
como os dias sucedem as noites, o frio vem depois do calor ou a morte segue o
nascimento, os ciclos acompanham a vida planetária, sendo que os maiores contêm
os menores. Nossa vida física, por exemplo – terminando com a entrega do corpo
à terra – é sustentada pelo nascimento e morte de trilhões de
células durante esse tempo. Diz-se que ao longo de 7 ou 10 anos todo o corpo se
renova inteiramente. Ou seja, em uma só existência morremos várias vezes sem
ter conhecimento disso.
No ciclo maior da evolução
humana – tendo o espírito como alvo final de toda experiência – o ego ou eu
psicológico (formado de corpo físico, emocional e mental) surge simples e
inocente no homem primitivo, torna-se ambicioso, ardiloso e cheio de posses no
homem mais adiantado e depois se torna simples outra vez, porém sábio, no homem
que se santificou. O que lhe aconteceu nesse período? O conhecimento e domínio da matéria, vencendo pela superação da
ira, da gula, da inveja, da luxúria – em suma, do sentimento de separatividade – sua “maya”, sua ilusão. Foi preciso se encher
dela, para depois abandoná-la, ficando como luminoso resíduo o conhecimento
real, a sabedoria, a unidade do amor. Por isso, só podemos renunciar àquilo que um dia já
possuímos, seja nesta ou em outra vida.
Enquanto não atingimos tal
domínio, “sonhamos”. Num estágio mais adiantado, em lugar de apenas sonhar – ou
desejar – colocamos em ação as forças necessárias para realizar o sonho,
desenvolvendo também a vontade ao enfrentar a resistência da matéria, o que é
sua grande lição. Enquanto evoluímos, crescendo em consciência, os sonhos e o
modo de agir para concretizá-los também evoluem. Lá na frente, o sonho (ou
aspiração) maior pode ser a iluminação, quando o apego aos bens terrenos já não
nos incomodam tanto, sugando a maior parte de nosso tempo e energias.
Ao listar as mudanças que
planejamos para 2013 – cuja base está nos milhares de anos de nossas
experiências anteriores – a qualidade da lista dependerá não só do “que”
colocamos nela, mas também do “como” realizar seus objetivos. O “como” fixa os
caminhos, estabelece os meios, indicando a pureza e viabilidade dos planos. Quanto mais
materiais eles forem, mais dependentes serão de fatores externos, fora de nosso
controle. Quanto mais íntimos, tenderão a ser mais puros, exigindo, contudo, maior
esforço e consciência (com observação do físico, das emoções e pensamentos).
Possivelmente tenhamos que fazer também uma revisão de nossos condicionamentos
mentais, onde programações inconscientes
podem estar desmoralizando nossos melhores esforços.
Para aqueles que já chegaram
à consciência de si mesmos em elevado grau – ou seja, ao autoconhecimento – o
determinismo cíclico possivelmente não faça tanta diferença. Eles vivem no
agora, além das limitações do espaço-tempo. Nesse agora já estão presentes não
somente os “planos”, mas também o “como” da sua realização, por decorrência de
nossa autoentrega ao divino, tendo por cúmplice a mão onipresente da sincronicidade.
Sinto (intelectualmente) que deve ser algo maravilhoso, como estar aqui e em toda parte, não possuir nada e, ao mesmo tempo, sentir-se possuidor de tudo, justamente por extrapolar os limites de toda posse (aquilo que possuímos também nos possui, mantendo-nos em seus domínios). Que possamos pensar nisso ao elaborar nossa preciosa lista para 2013. Que ela possa ser um projeto coroado de amor, de liberdade e de luz para nós e todos aqueles que compartilham nossa jornada terrena!
Sinto (intelectualmente) que deve ser algo maravilhoso, como estar aqui e em toda parte, não possuir nada e, ao mesmo tempo, sentir-se possuidor de tudo, justamente por extrapolar os limites de toda posse (aquilo que possuímos também nos possui, mantendo-nos em seus domínios). Que possamos pensar nisso ao elaborar nossa preciosa lista para 2013. Que ela possa ser um projeto coroado de amor, de liberdade e de luz para nós e todos aqueles que compartilham nossa jornada terrena!
[1]
Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência, www.uniconsportal.org.br.
Nenhum comentário:
Postar um comentário