Walter S. Barbosa[1]
Da boca de qualquer um de nós
pode já ter saído a frase acima. Se nesse momento a inspiração tiver brotado do
Ser, nossa parte divina, que ótimo! Inteligentemente, estaremos a um passo da
redenção.
Caso contrário, se “orgulhosamente”
estivermos assumindo nossa parte mortal – que temporariamente vai para o lixo quando
partimos deste mundo – é uma pena. Invocada das sombras pela força vibracional,
ela volta no próximo renascimento e outros mais, até que aprendamos a nos desidentificar dela, purificando-a. Enquanto
suja, egoísta, míope, interesseira – caracterizando o ego – ela é a fonte de
todos os nossos sofrimentos e vícios.
Relembramos aqui a história do
monge e do escorpião.
“Um monge e seus discípulos iam
por uma estrada e, quando passavam por uma ponte, viram um escorpião sendo
arrastado pelas águas. O monge correu pela margem do rio, meteu-se na água e
tomou o bichinho na mão. Quando o trazia para fora do rio o escorpião o picou.
Devido à dor, o monge deixou-o cair novamente no rio. Foi então à margem, pegou
um ramo de árvore, voltou outra vez a correr pela margem, entrou no rio,
resgatou o escorpião e o salvou. Em seguida, juntou-se aos seus discípulos na
estrada. Eles haviam assistido à cena e o receberam perplexos e penalizados.
- Mestre, o Senhor deve estar
muito doente! Por que foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse!
Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda: picou a mão que o salvava!
Não merecia sua compaixão!
O monge ouviu tranqüilamente os
comentários e respondeu: “Ele agiu conforme sua natureza e eu de acordo com a
minha”. Que natureza tem preponderado em nós?
Freqüentemente as pessoas honestas
– e, especialmente, as desprendidas – são tomadas como tolas ou muito espertas.
O desprendimento é uma coisa incompreensível dentro do senso comum. Só podemos
enxergar conforme as lentes dos nossos óculos: se elas estão sujas, enxergamos
sujeira em toda parte. Essa fica sendo a “nossa natureza”.
A imagem do escorpião é explorada
também em outra história, onde ele contracena com o sapo. Este – como todos
sabem, um exímio nadador – estava para atravessar uma lagoa. O escorpião
chegou-se a ele e pediu uma carona. Queria atravessar nas costas do sapo. O
batráquio coçou o queixo e sabiamente ponderou:
- Ora, escorpião, se eu fizer
isso, você vai me picar no meio da lagoa e nós dois morreremos.
- Você acha que sou tolo, meu
caro sapo? Eu também gosto da vida – replicou o escorpião. Convencido por
argumento tão lógico, o sapo mandou que o escorpião lhe subisse às costas e lá
se foram os dois. No meio da água, aconteceu o que previra o sapo: veio a
picada do escorpião.
- E agora, escorpião! Lamentou o
sapo – Vamos morrer os dois!
- O que posso fazer? – respondeu
já se afogando o escorpião. É a minha natureza!
O sofrimento é uma realidade, como
ensina o “Óctuplo Caminho” do Senhor Buda. O problema é que gostamos de sofrer
e por isso escolhemos a natureza-escorpião que nos habita, ao lado do Espírito
– a própria luz. Aquele pobre bichinho não tem escolha. Nós temos.
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