Radha Burnier[1]
Dentre
os diversos perigos com que se depara a Terra e seus habitantes, estão as novas
invenções e a tecnologia avançada que podem resultar em desastre em vez de
benefícios. Na corrida pelas novas informações, numerosas experiências estão
sendo feitas em todo mundo em busca do lucro das patentes ou pelo crédito da
primazia num dado campo. Em seu livro Our Final Century (Nosso Século
Final), Martin Rees reporta diversos perigos que podem destruir a vida na Terra
ou obstruir o progresso evolucionário. Um deles é a nanotecnologia.
Macacos
que receberam instruções computadorizadas, encapsuladas num chip implantado, foram capazes de
colocar robôs em
movimento. Isso mostra a possibilidade de que um piloto possa
ficar no conforto de seu lar e daí dirigir sua aeronave e lançar bombas mortais
sobre o território “inimigo” sem qualquer risco para si.
Esse
tipo de pesquisa é empolgante e como os pesquisadores são ambiciosos, não
voltarão atrás nem reduzirão o ritmo das pesquisas. A clonagem de seres humanos
é um dos empreendimentos que incitam a cobiça de estar à frente nessa corrida,
enquanto reduzir o ritmo e agir com cautela parece uma afronta à competência e
ao orgulho dos pesquisadores.
Ocasionalmente
vem à luz a insensatez feita no passado. Como num filme recente sobre a
lobotomia, intitulado A Hole in One. É muito óbvio que abrir caminho de
modo impetuoso pode não ser apenas um desastre, mas também uma violação trágica
às considerações éticas que devem regular o comportamento e a sociedade humana.
Em
1935, o neurologista português Egas Moniz declarou ter curado um paciente com
problemas mentais ao remover uma porção de seu córtex pré-frontal. Isso foi
chamado de lobotomia, e é realizado através da cavidade acima dos olhos com
objetos metálicos. Foi alegado que esse procedimento reduzia a violência em
pacientes mentais turbulentos. O filme Um Estranho no Ninho, produzido
décadas mais tarde, retratou como um homem vivo pode ser reduzido a um estado
vegetal com este tratamento.
Foi feito um novo filme sobre
lobotomia, inspirado nos relatos de um paciente. Um menino de doze anos, que
perdera sua mãe aos três, estava mentalmente muito perturbado, vivendo com sua
intransigente madrasta, que também o indispôs com seu pai. Ele teve problemas
em casa e na escola devido a seu comportamento anormal, ora destrutivo, ora
apenas estranho.
A história do caso relata: Um dia
ele saiu em disparada da aula e foi para o pátio onde ficou correndo sem parar
sob uma chuvarada. Ele conta: “Eu simplesmente amava a chuva, isso é tudo.
Ela caía tão forte que você não via o chão”.
Esse desafortunado jovem foi
“lobotomizado” como também muitos esquizofrênicos o foram durante as décadas
entre 1930 e 1950. Pesquisas posteriores sobre os efeitos da lobotomia
demonstraram que a região pré-frontal do cérebro é crucial para a habilidade de
a pessoa agir com responsabilidade.
O menino tornou-se um homem,
consciente do que lhe havia acontecido, perdido no que fazer com o resto de sua
vida. Diz ele: “Você não sabe o que
realmente você é. Sempre está perguntando: Isto sou eu?”
A despeito desses terríveis
erros, os pesquisadores estão experimentando e intrometendo-se na Natureza sem
cautela nem hesitação. Com o aumento do conhecimento, a velocidade com que
essas descobertas são feitas também aumenta. Da mesma forma, aumenta o perigo
de correr onde os anjos temem andar.
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