quinta-feira, 26 de abril de 2012

Perdão: um novo jeito de olhar

Walter S. Barbosa[1]
Perdoar é certamente uma das mais belas virtudes. E também redentora, pois tem o poder de nos livrar dos laços mortais do ódio, devolvendo-nos para a vida, o amor, a paz.

Um dos grandes obstáculos para o perdão é a idéia de que estamos “passando a mão” na cabeça de alguém, deixando de punir, esquecendo sua falta. E isso pode ser intragável, apesar de sabermos que estamos, nós próprios, longe da perfeição.

É curioso o fato de que os santos, ou pessoas espiritualmente elevadas, não apontam os defeitos de ninguém. Isso poderia significar que quando apontamos os erros dos outros, são os nossos que ficam à mostra?

“Vemos os criminosos como culpados e tentamos puni-los”, diz Williamson[2]. Mas, “o que quer que façamos aos outros, fazemos a nós mesmos”. Um de seus argumentos é que as prisões, construídas com o objetivo de punir, acabam se tornando escolas para o crime, devolvendo os faltosos à sociedade piores do que antes.

Será que devemos perdoar um estuprador? – pergunta Marianne. Se alguma coisa não for feita para isolar uma pessoa nessas condições, evidentemente ela não vai parar. Caso o perdão signifique “não fazer nada a respeito”, o caos tomará conta do mundo em proporções maiores do que as atuais. Então, como perdoar?

Williamson propõe que ao invés de nos preocupar com punição e culpa, busquemos apenas o reconhecimento e reparação do erro. Enquanto punir é um movimento vingativo – que será recebido do outro lado também com um sentimento de vingança – tratar da reparação do erro é viabilizar um caminho de recuperação do desvio, a chamada reinclusão social, sempre tentada sem que de fato encontremos o caminho.

Chamando o perdão de “arte marcial da consciência”, onde driblamos a força de quem nos ataca em vez de tentar reagir, propõe-se que sejamos neutros a essa força, deixando que ela retorne ao atacante. Dessa forma, ela terá começo e fim nele mesmo. Não estaremos realimentando o processo. “Quando contra-atacamos, e a defesa é uma forma de ataque, iniciamos uma guerra que não terá vencedor”.

Como deveriam ser as prisões, na perspectiva daquela autora? “Casas de recuperação”, em lugar de casas de punição. Quando mudamos determinado propósito – ou prática – da condição de medo para a de amor, “abrimos infinitas possibilidades de cura”. E não é a cura exatamente aquilo que estamos buscando?

Em termos psicológicos, o medo realmente afasta, tentando eliminar o que causa dor ou desconforto. Na prática, entretanto, não há afastamento algum. Pelo menos não definitivamente, pois a energia do medo nos mantém ligados à sua causa.

Vivemos neste mundo como se cada um fosse um vaso estanque, separado dos outros. Mas essa separação – causa do egoísmo e de todo sofrimento – só existe em nossa mente. Cada ser humano encontra-se mergulhado num oceano de energia mental, interagindo sem saber com tudo e com todos. É o que têm afirmado os físicos quânticos, exibindo provas dessa realidade.

Em tal perspectiva, a cura que buscamos para os outros é a nossa cura, sendo o perdão o remédio que bebemos – inclusive para as faltas próprias – apaziguando o mundo a partir de nosso coração.


[1] Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.
[2] WILLIAMSON, Marianne. “Um Retorno ao Amor”, Editora Novo Paradigma.

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