quinta-feira, 26 de abril de 2012

Orgulho, vontade pessoal e medo: obstáculos à autoexpressão (III)


Walter S. Barbosa[1]
“A tríade formada por orgulho, vontade pessoal e medo também influencia a atitude em relação à morte. Morrer, no fim das contas, significa renunciar à autodireção – e essa renúncia, por estranho que possa parecer, se assemelha a uma humilhação”, diz Pierrakos[2]. E ainda: “Para evitar a humilhante verdade de que o pequeno eu não é todo-poderoso, vocês se agarram a ele através do orgulho e da vontade, criando assim ondas cada vez mais fortes de medo”.

Humilhação! Talvez essa palavra possa resumir a maior agonia do ego – e, portanto, a maior ameaça de morte – como o oposto daquilo que ele mais aprecia e que mais o fortalece: ser glorificado! Para superação do predomínio que, a partir daí, o ego exerce em nossas relações – sacrificando a possibilidade do amor com reatividade, mentiras e desculpas, que ajudam a manter sua máscara protetora – uma técnica importante é justamente forçar o contrário: dizer a verdade, especialmente sobre nós mesmos.

Quanto aos outros, contudo, para que isso aconteça nos limites do que é “útil, verdadeiro e amável” (simultaneamente), muitas vezes será preferível o silêncio, pelo risco de essa verdade ser uma grande mentira, desvirtuando-se em função de inveja ou rancor e, assim, predispondo-se a ferir. Nesse caso, pura maledicência!

Dizer a verdade sobre nós mesmos – ou abrir mão da reatividade, mesmo quando nos sentimos injustiçados – é um esforço muito penoso, porque em certa medida é o harakiri do ego. A respeito, diz Tolle[3]: “O segredo de viver é morrer um pouco a cada dia”. Uma das razões para isso é que, abrindo mão da reação – ou autoproteção – atravessamos a fronteira do medo, esse peso enorme que arrastamos vida afora, segurando nossas máscaras. O medo limita nossa vida, nossos movimentos, de certa forma nos tornando “mortos-vivos”.

No polo extremo de tudo que fazemos está o desejo. E do outro lado, o que encontramos? Com certeza, o medo: de não conseguir, de falhar, de ser ridicularizado, de ser humilhado. A consciência estaciona nesse ponto e também nosso sentido de existência – ou seja, de vida – que é proporcional ao domínio do espírito (nós mesmos) sobre os limites da matéria. Esse limite reside na ignorância daquilo que somos. Quanto mais autoconscientes, mais perceptivos nos tornamos de nossa infinitude, desaparecendo toda razão para o medo.

Quem pode garantir que somos tal infinitude? Para essa certeza, uma possibilidade está na própria ilusão de grandeza do ego “todo-poderoso” – seu intuitivo sentimento de ser imortal – pois ele é um reflexo da grandeza infinita do Eu espiritual aqui, nos planos mais densos. Ignorando que somos esse Eu – pela identificação com a matéria – ficamos tentando realizar no finito (corpo físico) aquilo que é infinito, eterno, imutável. A consequência é mais sofrimento.


A inexistência do sentimento de humilhação nos homens santos – verdadeiramente grandes – os torna imunes ao orgulho e a qualquer necessidade de revidar. Assim, sempre que reagimos a uma ofensa provavelmente a "mereçamos", vibrando na mesma energia. Outra possibilidade é que a ofensa nem exista, sendo uma criação puramente nossa. “Vemos o mundo conforme a cor dos óculos que usamos”.

Segundo a Teosofia, o Eu espiritual é autodeterminado, autossuficiente e autoiluminado, possuindo uma autodireção que não depende de fatores externos. Por essa razão, o homem espiritualizado não mais se motiva nem por orgulho e nem por medo. Já tendo vivido em si todas as mortes, renunciou à vontade pessoal, entregando-se à Vontade divina como sua própria vontade.

[1] Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência - www.uniconsportal.org.br
[2] PIERRAKOS, Eva & SALLY, Judith. “Criando União”, editora Cultrix.
[3] TOLLE, Eckhart. “O Poder do Agora”, editora Sextante.

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