Walter S. Barbosa[1]
“A tríade formada por orgulho,
vontade pessoal e medo também influencia a atitude em relação à morte. Morrer,
no fim das contas, significa renunciar à autodireção – e essa renúncia, por
estranho que possa parecer, se assemelha a uma humilhação”, diz Pierrakos[2]. E
ainda: “Para evitar a humilhante verdade de que o pequeno eu não é
todo-poderoso, vocês se agarram a ele através do orgulho e da vontade, criando
assim ondas cada vez mais fortes de medo”.
Humilhação! Talvez essa palavra
possa resumir a maior agonia do ego – e, portanto, a maior ameaça de morte –
como o oposto daquilo que ele mais aprecia e que mais o fortalece: ser
glorificado! Para superação do predomínio que, a partir daí, o ego exerce em
nossas relações – sacrificando a possibilidade do amor com reatividade,
mentiras e desculpas, que ajudam a manter sua máscara protetora – uma técnica
importante é justamente forçar o contrário: dizer a verdade, especialmente sobre
nós mesmos.
Quanto aos outros, contudo, para
que isso aconteça nos limites do que é “útil, verdadeiro e amável”
(simultaneamente), muitas vezes será preferível o silêncio, pelo risco de essa
verdade ser uma grande mentira, desvirtuando-se
em função de inveja ou rancor e, assim, predispondo-se a ferir. Nesse caso,
pura maledicência!
Dizer a verdade sobre nós mesmos
– ou abrir mão da reatividade, mesmo quando nos sentimos injustiçados – é um
esforço muito penoso, porque em certa medida é o harakiri do ego. A respeito, diz Tolle[3]:
“O segredo de viver é morrer um pouco a cada dia”. Uma das razões para isso é
que, abrindo mão da reação – ou autoproteção – atravessamos a fronteira do
medo, esse peso enorme que arrastamos vida afora, segurando nossas máscaras. O
medo limita nossa vida, nossos movimentos, de certa forma nos tornando
“mortos-vivos”.
No polo extremo de tudo que
fazemos está o desejo. E do outro lado, o que encontramos? Com certeza, o medo:
de não conseguir, de falhar, de ser ridicularizado, de ser humilhado. A consciência estaciona nesse ponto e também nosso
sentido de existência – ou seja, de vida – que é proporcional ao domínio do
espírito (nós mesmos) sobre os limites da matéria. Esse limite reside na ignorância
daquilo que somos. Quanto mais autoconscientes, mais perceptivos nos tornamos de
nossa infinitude, desaparecendo toda razão para o medo.
Quem pode garantir que somos tal
infinitude? Para essa certeza, uma possibilidade está na própria ilusão de grandeza
do ego “todo-poderoso” – seu intuitivo sentimento de ser imortal – pois ele é um reflexo da grandeza
infinita do Eu espiritual aqui, nos planos mais densos. Ignorando que somos esse Eu – pela identificação com a matéria
– ficamos tentando realizar no finito (corpo físico) aquilo que
é infinito, eterno, imutável. A consequência é mais sofrimento.
A inexistência do sentimento de
humilhação nos homens santos – verdadeiramente grandes – os torna imunes ao
orgulho e a qualquer necessidade de revidar. Assim, sempre que reagimos a uma
ofensa provavelmente a "mereçamos", vibrando na mesma energia. Outra
possibilidade é que a ofensa nem exista, sendo uma criação puramente nossa.
“Vemos o mundo conforme a cor dos óculos que usamos”.
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