Walter S. Barbosa[1]
“A tríade composta de orgulho,
vontade pessoal e medo também se aplica à barreira entre o eu e o parceiro”,
diz Pierrakos[2]. Sendo o
processo da consciência baseado em nossa parceria com o mundo, essa tríade
está, na verdade, afetando qualquer relacionamento, incluindo os que acontecem
dentro de nós. Quando tememos examinar com mais detalhe nossos pensamentos
estranhos – alguns são mesmo escabrosos, não é? – ou os defeitos que apontam em
nós, desperdiçamos uma oportunidade de autoconhecimento e autossuperação.
Considerado como chefe dos “sete
pecados capitais”, o orgulho está na essência do que Helena Blavatsky chama de “heresia
da separatividade” na obra “A Voz do Silêncio”. Por essa razão, na simbologia
da “Queda dos Anjos” quem está presente? O orgulho. Tal fato coincide com a
formação do ego humano – essa ilusão do eu separado baseado na mente – dando
vida à personalidade que tanto buscamos adornar, em detrimento do Eu espiritual.
Sempre que damos força à vitória do orgulho em nossas relações, bloqueando a
presença do amor, quem perde é o verdadeiro Eu.
Conforme Pierrakos, “o orgulho entra
em cena porque tantos os homens como as mulheres têm medo da aparente
impotência – e, portanto, vergonha – de submeter-se a uma força maior que o
pequeno ego. O amor entre os sexos é uma experiência de humildade; portanto, é
inimiga do orgulho. O orgulho quer dirigir e controlar; ele não quer render-se
a nenhuma força, mesmo que ela seja a mais desejável”. Nessa luta pelo controle
o homem costuma negar o próprio Criador, selando o destino final dos “Irmãos da
Sombra” pela escolha persistente da separatividade. Ela é sua glória e também seu
túmulo na “oitava esfera”.
O inverso da separatividade é o
amor. “Mesmo que vocês e todas as outras pessoas passem pela vida querendo
amar, continuam bloqueando o amor e encontrando formas de descobrir um
meio-termo entre essas correntes contraditórias dentro da alma, que continua a
resistir. A força que leva ao amor é de fato grande, pois se origina da
natureza mais íntima. No entanto, a força do orgulho, da voluntariedade e do
medo afasta o amor. O caráter voluntarioso se opõe ao amor porque deseja
controlar tudo, não consegue submeter-se”, ensina Pierrakos, afirmando também
que a causa disso é a ideia equivocada de que só estamos seguros sob o comando
do ego. E quem nos dá essa certeza? Ele mesmo, o ego, valendo-se de nossa identificação
com a mente. A raposa guarda o galinheiro.
Aqui se sobrepõe, então, um
ensinamento básico para quem deseja trilhar, de maneira exitosa, o caminho do
autoconhecimento. Além do estudo da filosofia esotérica, é essencial meditar e
servir ao próximo. A meditação nos eleva acima da mente, pondo-nos em contato com
o Eu espiritual. O serviço desinteressado nos ensina a solidariedade e o desapego.
O estudo desligado da prática – como meditação e serviço – tende a estimular o orgulho
e a separatividade.
Num ensinamento magistral, diz
Pierrakos: “Vocês bloqueiam a experiência do amor por medo de perder a
dignidade – ou seja, o orgulho – e a individualidade – ou seja, o caráter
voluntarioso – quando, na verdade, a verdadeira dignidade e individualidade só
podem ser alcançadas renunciando ao orgulho e à vontade pessoal”.
Essa renúncia coincide com o retorno
à casa do Pai, pela morte do orgulho, significando autoentrega. Trata-se da
última oferenda do ego no altar do sacrifício, levando à sua extinção como “eu
separado”. A realidade dessa experiência introduz a questão da morte como
veículo de autoexpressão, na abordagem de Eva Pierrakos.
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