quinta-feira, 26 de abril de 2012

Orgulho, vontade pessoal e medo: obstáculos à autoexpressão - cont. (II)


Walter S. Barbosa[1]
“A tríade composta de orgulho, vontade pessoal e medo também se aplica à barreira entre o eu e o parceiro”, diz Pierrakos[2]. Sendo o processo da consciência baseado em nossa parceria com o mundo, essa tríade está, na verdade, afetando qualquer relacionamento, incluindo os que acontecem dentro de nós. Quando tememos examinar com mais detalhe nossos pensamentos estranhos – alguns são mesmo escabrosos, não é? – ou os defeitos que apontam em nós, desperdiçamos uma oportunidade de autoconhecimento e autossuperação.

Considerado como chefe dos “sete pecados capitais”, o orgulho está na essência do que Helena Blavatsky chama de “heresia da separatividade” na obra “A Voz do Silêncio”. Por essa razão, na simbologia da “Queda dos Anjos” quem está presente? O orgulho. Tal fato coincide com a formação do ego humano – essa ilusão do eu separado baseado na mente – dando vida à personalidade que tanto buscamos adornar, em detrimento do Eu espiritual. Sempre que damos força à vitória do orgulho em nossas relações, bloqueando a presença do amor, quem perde é o verdadeiro Eu.

Conforme Pierrakos, “o orgulho entra em cena porque tantos os homens como as mulheres têm medo da aparente impotência – e, portanto, vergonha – de submeter-se a uma força maior que o pequeno ego. O amor entre os sexos é uma experiência de humildade; portanto, é inimiga do orgulho. O orgulho quer dirigir e controlar; ele não quer render-se a nenhuma força, mesmo que ela seja a mais desejável”. Nessa luta pelo controle o homem costuma negar o próprio Criador, selando o destino final dos “Irmãos da Sombra” pela escolha persistente da separatividade. Ela é sua glória e também seu túmulo na “oitava esfera”.

O inverso da separatividade é o amor. “Mesmo que vocês e todas as outras pessoas passem pela vida querendo amar, continuam bloqueando o amor e encontrando formas de descobrir um meio-termo entre essas correntes contraditórias dentro da alma, que continua a resistir. A força que leva ao amor é de fato grande, pois se origina da natureza mais íntima. No entanto, a força do orgulho, da voluntariedade e do medo afasta o amor. O caráter voluntarioso se opõe ao amor porque deseja controlar tudo, não consegue submeter-se”, ensina Pierrakos, afirmando também que a causa disso é a ideia equivocada de que só estamos seguros sob o comando do ego. E quem nos dá essa certeza? Ele mesmo, o ego, valendo-se de nossa identificação com a mente. A raposa guarda o galinheiro.

Aqui se sobrepõe, então, um ensinamento básico para quem deseja trilhar, de maneira exitosa, o caminho do autoconhecimento. Além do estudo da filosofia esotérica, é essencial meditar e servir ao próximo. A meditação nos eleva acima da mente, pondo-nos em contato com o Eu espiritual. O serviço desinteressado nos ensina a solidariedade e o desapego. O estudo desligado da prática – como meditação e serviço – tende a estimular o orgulho e a separatividade.

Num ensinamento magistral, diz Pierrakos: “Vocês bloqueiam a experiência do amor por medo de perder a dignidade – ou seja, o orgulho – e a individualidade – ou seja, o caráter voluntarioso – quando, na verdade, a verdadeira dignidade e individualidade só podem ser alcançadas renunciando ao orgulho e à vontade pessoal”.

Essa renúncia coincide com o retorno à casa do Pai, pela morte do orgulho, significando autoentrega. Trata-se da última oferenda do ego no altar do sacrifício, levando à sua extinção como “eu separado”. A realidade dessa experiência introduz a questão da morte como veículo de autoexpressão, na abordagem de Eva Pierrakos.


[1] Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência - www.uniconsportal.org.br
[2] PIERRAKOS, Eva & SALLY, Judith. “Criando União”, editora Cultrix.

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