quinta-feira, 26 de abril de 2012

O que é verdadeiro? O que é falso?


Walter S. Barbosa[1]
Na visão do sábio indiano Ramana Maharshi, segundo suas próprias palavras, “tudo é real” (Pérolas de Sabedoria, Editora Teosófica). Mas vale a pena aprofundar a questão. Que realidade é essa? No que ela difere da visão materialista, que se prende ao corpo físico e assim teme perdê-lo, enquanto Maharshi não tinha o menor apego a ele?

Em termos práticos, o principal efeito de tomarmos o falso como verdadeiro chama-se sofrimento. Pode-se fazer uma interessante distinção entre dor e sofrimento. A dor tem quase sempre uma conotação física, enquanto o sofrimento é mais abrangente, incluindo a dor moral ou psicológica, que talvez corresponda a 90% ou mais de todo o sofrimento. Essa é uma informação maravilhosa. Em 90% do tempo sofremos por nada!

Qual a natureza da dor psicológica? É essencialmente mental, vinculando-se a sentimentos de medo, perda ou impotência de qualquer tipo, baseando-se naquilo que a mente quer ver, e não no que “é”. Pensamento e sentimento trabalham juntos na natureza humana, mas o condutor principal é a mente, como um corpo superior. A possibilidade de dominar e reeducar os sentimentos vem de “cima” para “baixo” – do espírito, ou Self, para o ego – subordinando-se à pacificação da mente, que está no “meio”.

Mente pacífica é uma mente quieta. Só pode estar quieta uma mente sem apegos ou medos. O que também significa “sem desejos”, porque estes é que provocam toda a sucessão das buscas e ansiedade que geram apego e medo.

Podemos também fazer distinção entre os desejos. Há os de natureza mais física, instintiva, e os de natureza mental-emocional, sendo uma regra o fato de que os desejos densos – como o sexual, ou a ânsia pela comida – geram mais apego (busca da repetição) pela energia envolvida. Numa comparação grosseira, é mais fácil tirar o pé de um balde cheio de água do que de um cheio de cimento. Assim, o “truque” é sutilizar o desejo.

As necessidades físicas estão ligadas em parte à sobrevivência do corpo. São, portanto, uma coisa bem real, orgânica. O estômago começa a roncar, a partir de certo momento, pedindo comida. Contudo, essa exigência varia de intensidade em cada um de nós. Se temos domínio (obviamente, mais difícil para o glutão), podemos adiá-la por algum tempo, sem sofrer. Vemos, assim, que mesmo a sensação física depende de quem a sente, perdendo a conotação de realidade conforme a autoeducação de cada um.

No campo psicológico, todas as necessidades desaparecem, em termos de urgência, quando a mente se aquieta. Comparada nas histórias orientais a um macaco, sempre pulando de galho em galho, essa inquietude deve-se unicamente à sua impureza, aos pontos de apego que existem nela. Aí, novamente a questão do apego, esse laço tão presente, em especial, nas relações familiares, que vão mudando de uma vida para outra.

Na visão do sábio, o verdadeiro e o falso fundem-se na própria realidade. Uma bolha de sabão é verdadeira enquanto bolha, mas não enquanto permanência. O pôr do sol é verdadeiro enquanto um jogo de cores, mas também se esvanece, como a beleza que o corpo físico às vezes tem. A diferença deste para uma bolha de sabão, em termos de realidade, é apenas uma questão de tempo.

Por que ter medo de perder aquilo que, por sua própria natureza, já está perdido? Reconhecer isso talvez seja uma das principais distinções entre o sábio e o tolo, aí incluindo todos nós, que em nossas práticas somos de fato materialistas, não importando as crenças religiosas que dizemos ter.


[1] Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.

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