quinta-feira, 26 de abril de 2012

Vida Una, o portal da Verdade

Walter S. Barbosa[1]
 “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Quando isso ocorrerá? A frase crística parece remeter-nos a um homem em gestação dentro do processo evolutivo, juntamente com a própria verdade.

Em tudo o que fazemos há um reflexo de nossas crenças. Assim, como ensina o “Óctuplo Caminho do Senhor Buda”, se a crença não for “reta” – baseando-se em superstições, julgamentos e preconceitos – tudo o mais estará comprometido. Estando focados no intelecto, por ali fluem nossas ações, marcadas então por imediatismo, paixão e superficialidade, pois o intelecto - além de separatista - subordina-se ao capricho dos desejos.

A via intelectual está sempre nos traindo com certezas que marcam enganos históricos, como a busca da eugenia por Adolf Hitler, pretendendo eliminar os “fracos e deficientes” para purificar a raça ariana[2], com ênfase na superioridade do povo alemão. Noutro equívoco célebre e menos trágico, um dos membros da Academia Real de Ciência da Inglaterra propôs no século XIX que ela fosse extinta, sob a alegação de que não havia nada mais a ser descoberto.

Assim, à verdade – de fato merecedora desse nome – só podemos chegar com recursos que vão além do intelecto. Esse é o domínio da consciência intuitiva, a fonte do “conhecimento direto”, algo que I.K.Taimni[3] chama de “razão pura”. Quando o homem se encaminha com reverência e humildade na direção dos mistérios da vida, a razão pura começa a florescer nele, tanto faz que siga o caminho da mente ou do coração.

Taimni diz: “De acordo com a Filosofia oriental, o intelecto é considerado um instrumento muito ineficiente de conhecimento, e afirma-se que o verdadeiro conhecimento só é possível a uma pessoa pela fusão de sua mente ou consciência com o objeto que procura conhecer”. Esse conhecimento “é direto, vívido, dinâmico e não sujeito a erro ou ilusão”. Tem sua raiz na origem divina de todas as coisas.

Impotente em si mesmo como fonte da verdade, o intelecto pode, contudo, iluminar-nos com a razão humana. Se algo tido como verdade contrariar frontalmente a razão, deve ao menos ser posto em dúvida. Somos “sementes de Deus” diz o ocultismo. “Faremos o homem à nossa imagem e semelhança”, diz a Bíblia. Diante disso, há uma conclusão inevitável: a evolução da consciência é infinita! Mesmo no tocante à evolução humana – onde. estamos pouco além da metade do caminho, segundo Helena Blavatsky – como podem se sustentar radicalismos ferozes em torno de qualquer certeza?

Um exercício simples freqüentemente proposto ao intelecto diz respeito à crença literal no inferno bíblico. Dentro da imensa diversidade de condições que herdamos pelo nascimento (pobreza, riqueza, demência, aleijões, cegueira, feiúra, beleza ou inteligência), como poderíamos colocar toda humanidade num “mesmo saco” e daí retirar os merecedores do céu ou do “fogo eterno” após miseráveis 70 anos de vida?

Outra questão interessante: sendo o homem uma “centelha divina”, uma parcela de Deus, como iria Ele mandar um pedaço de Si mesmo para o inferno? E por toda a eternidade, diante de faltas finitas? Que pai humano faria isso com seus filhos?

Quanto à verdade final, diz o ocultismo que somente a conheceremos quando formos ela mesma. É o “tesouro que os ladrões não roubam e nem as traças corroem”. É o que Taimni denomina “fusão da consciência com o objeto que se procura conhecer”. Algo possível apenas no seio da Vida Una, na essência luminosa e imortal das coisas.

Caso queiramos saber se determinada idéia encerra uma verdade, podemos expô-la no altar na Vida Una. Se resistir lá por um segundo – correspondendo ao Amor Universal que nivela homens, cães, pássaros, árvores, vacas, insetos, planeta – poderá ficar para sempre. No plano da eternidade, não há diferença entre um segundo e um século.


[1] Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.
[2] Segundo o Glossário Teosófico de Helena P. Blavatsky, raça ariana é a 5ª Raça-Raiz, desenvolvendo-se a partir da raça branca em 7 sub-raças ao redor do mundo, sendo provavelmente a miscigenação a característica desse trabalho como defende Max Heindel no texto “Conceito Rosacruz do Cosmos”, em direção à fraternidade universal sem distinção de raças, credo ou cor.
[3] TAIMNI. I. K. “Autocultura à Luz do Ocultismo”, Editora Teosófica.

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