Walter S. Barbosa[1]
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos
libertará”. Quando isso ocorrerá? A frase crística parece remeter-nos a um
homem em gestação dentro do processo evolutivo, juntamente com a própria verdade.
Em tudo o que fazemos há um
reflexo de nossas crenças. Assim, como ensina o “Óctuplo Caminho do Senhor
Buda”, se a crença não for “reta” – baseando-se em superstições, julgamentos e preconceitos
– tudo o mais estará comprometido. Estando focados no intelecto, por ali fluem
nossas ações, marcadas então por imediatismo, paixão e superficialidade, pois o
intelecto - além de separatista - subordina-se ao capricho dos desejos.
A via intelectual está sempre nos
traindo com certezas que marcam enganos históricos, como a busca da eugenia por
Adolf Hitler, pretendendo eliminar os “fracos e deficientes” para purificar a
raça ariana[2], com
ênfase na superioridade do povo alemão. Noutro equívoco célebre e menos
trágico, um dos membros da Academia Real de Ciência
da Inglaterra propôs no século XIX que ela fosse extinta, sob a alegação de que
não havia nada mais a ser descoberto.
Assim, à verdade – de fato
merecedora desse nome – só podemos chegar com recursos que vão além do
intelecto. Esse é o domínio da consciência intuitiva, a fonte do “conhecimento
direto”, algo que I.K.Taimni[3]
chama de “razão pura”. Quando o homem se encaminha com reverência e humildade
na direção dos mistérios da vida, a razão pura começa a florescer nele, tanto
faz que siga o caminho da mente ou do coração.
Taimni diz: “De acordo com a Filosofia
oriental, o intelecto é considerado um instrumento muito ineficiente de
conhecimento, e afirma-se que o verdadeiro conhecimento só é possível a uma
pessoa pela fusão de sua mente ou consciência com o objeto que procura
conhecer”. Esse conhecimento “é direto, vívido, dinâmico e não sujeito a erro
ou ilusão”. Tem sua raiz na origem divina de todas as coisas.
Impotente em si mesmo como fonte da
verdade, o intelecto pode, contudo, iluminar-nos com a razão humana. Se algo tido
como verdade contrariar frontalmente a razão, deve ao menos ser posto em dúvida. Somos
“sementes de Deus” diz o ocultismo. “Faremos o homem à nossa imagem e semelhança”,
diz a Bíblia. Diante disso, há uma conclusão inevitável: a evolução da
consciência é infinita! Mesmo no tocante à evolução humana – onde. estamos pouco além da metade do caminho, segundo Helena Blavatsky – como podem se sustentar radicalismos ferozes em torno
de qualquer certeza?
Um exercício simples
freqüentemente proposto ao intelecto diz respeito à crença literal no inferno
bíblico. Dentro da imensa diversidade de condições que herdamos pelo nascimento
(pobreza, riqueza, demência, aleijões, cegueira, feiúra, beleza ou inteligência),
como poderíamos colocar toda humanidade num “mesmo saco” e daí retirar os
merecedores do céu ou do “fogo eterno” após miseráveis 70 anos de vida?
Outra questão interessante: sendo
o homem uma “centelha divina”, uma parcela de Deus, como iria Ele mandar um
pedaço de Si mesmo para o inferno? E por toda a eternidade, diante de faltas finitas?
Que pai humano faria isso com seus filhos?
Quanto à verdade final, diz o
ocultismo que somente a conheceremos quando formos ela mesma. É o “tesouro que
os ladrões não roubam e nem as traças corroem”. É o que Taimni denomina “fusão
da consciência com o objeto que se procura conhecer”. Algo possível apenas no
seio da Vida Una, na essência luminosa e imortal das coisas.
Caso queiramos saber se
determinada idéia encerra uma verdade, podemos expô-la no altar na Vida Una. Se
resistir lá por um segundo – correspondendo ao Amor Universal que nivela
homens, cães, pássaros, árvores, vacas, insetos, planeta – poderá ficar para
sempre. No plano da eternidade, não há diferença entre um segundo e um século.
[1]
Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.
[2]
Segundo o Glossário Teosófico de Helena P. Blavatsky, raça ariana é a 5ª
Raça-Raiz, desenvolvendo-se a partir da raça branca em 7 sub-raças ao redor do
mundo, sendo provavelmente a miscigenação a característica desse trabalho como
defende Max Heindel no texto “Conceito Rosacruz do Cosmos”, em direção à
fraternidade universal sem distinção de raças, credo ou cor.
[3]
TAIMNI. I. K. “Autocultura à Luz do Ocultismo”, Editora Teosófica.
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