quinta-feira, 26 de abril de 2012

Meu corpo, meu templo


Walter S. Barbosa[1]
Segundo conhecida frase, “o corpo é o templo do espírito”. Entre todos os produtos da chamada sabedoria popular, esse está entre os mais sábios. Se levarmos a questão a sério, pode ser o começo da mudança tão desejada em nossa vida.
           
Também chamado Self , Ser, Consciência ou Deus, o Espírito – que tudo move – é o dono do corpo. Contudo, olhando as barbaridades que temos feito com o corpo, entupindo-o de venenos físicos, emocionais e mentais, constatamos que ele tem estado mais a serviço de nossa natureza instintiva, indo pouco além da reprodução e do alimento, ainda assim com pouquíssima sabedoria. As doenças são o resultado inevitável.
           
Nesse quadro, o que resta ao Espírito? Andar como um bêbado, talvez, pelos caminhos da vida, sendo essa impotência – que de alguma forma todos sentimos – uma das causas de darmos pouco ou nenhum crédito às palavras de Paulo, dizendo que o Cristo habita dentro de nós. Como assim, pode-se perguntar, se tudo que conseguimos ver é “Barrabás” em todos os cantos dessa habitação torturada, que é o nosso corpo?
           
Esotericamente, a passagem bíblica onde o Cristo expulsa os “vendilhões do templo” encontra seu maior significado nesta reflexão, apesar de aplicar-se aos que, em todas as épocas, têm mercantilizado os símbolos da fé. Numa visão mais profunda, os “mercadores” que deveríamos expulsar são o lixo que temos colocado indevidamente em nosso corpo, sob patrocínio do ego e o estímulo desenfreado do desejo.
           
Ninguém pode viver, fisicamente, sem o desejo. Ele está na base do movimento (“rajas”, em sânscrito). É o impulso da reprodução, a mola mestra do mundo. Essa mola deve, porém, ser compreendida e governada, caso contrário o mundo – o próprio corpo, com suas leis de sobrevivência – passa a ser a única coisa enxergada por nós, como ocorre, anuviando a realidade do Espírito a quem ele deveria servir.         
           
Uma das técnicas para o alcance dessa compreensão é a observação do corpo, das emoções, dos pensamentos. Assim, vamos perceber que somos algo muito maior que esses veículos, possibilitando à Consciência dominá-los e livrá-los de sua insanidade. Essa é a cura da qual todos necessitamos. A cura definitiva.
           
O reflexo final de toda distorção – o alimento ruim que ingerimos, inclusive mental ou emocional, como filmes de violência – é sempre no corpo denso. Esse é um dos efeitos da lei da gravidade, escoando a energia pesada para baixo até a final eliminação física.
           
Outra conseqüência dessa lei, após a morte do corpo, é descermos para o “inferno” situado abaixo de nossos pés (o umbral espírita), se nosso “peso” assim determinar. Não o inferno eterno cristão, mas um estado de consciência, assim como é também o céu.
           
Tudo que pensamos e sentimos é baseado em energia. Energia é matéria, portanto tem peso, equivalente à sua qualidade ou grau de pureza. Qual o resultado da energia impura, como comida pesada (feijoada, etc.), ódio, inveja, ciúme, maledicência? É algum tipo de restrição física, percebido como dor, calafrios, ansiedade, medo, falta de clareza mental e assim por diante. Difícil escapar disso em nosso dia-a-dia, não é?
           
Um efeito extraordinário é que a simples observação desses estados, sem julgamento – com o olho da atenção, da consciência – basta para que o mal-estar diminua ou desapareça, levando junto sua causa (rancor, por exemplo). Com isso, estaremos também limpando o templo do Espírito e deixando-o ao alcance da serena alegria e da Paz.        


[1] Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.

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