quinta-feira, 26 de abril de 2012

“Indagação interior”: um caminho para a intuição

Walter S. Barbosa[1]
Onde se encontra a intuição? Considerando que não parece estar disponível o tempo todo - ao contrário, surgindo em momentos raros - tem a conotação de algo incomum, fora de nosso controle. Pode às vezes ser tomada como a “voz da consciência”, ou do “anjo bom” que, por passar com muita rapidez em nossa tela mental, é freqüentemente percebida como lembrança só depois que o fato intuído já passou. Tarde demais...

Para as pessoas que costumam meditar, esses instantes fugazes são mais freqüentes. A razão é simples: tais pessoas começaram a desenvolver o que se poderia chamar “atitude meditativa”, que se vai ampliando quanto mais a meditação é praticada. Essa atitude tem os olhos focados no presente, onde a vida acontece.

O poder da meditação é extraordinário. E também de efeitos rápidos se a meditação é diária, constante, sendo o efeito perceptível como um estado de tranqüilidade que perdura o dia inteiro, mesmo que se tenha meditado apenas alguns minutos pela manhã. Nesse tempo deve-se ter procurado criar um estado de “mente vazia”. É especialmente na condição “sem pensamento” que o insight ou intuição aflora.

Considerando que vivemos a situação do pensamento incessante o tempo todo, criar o estado de “não pensamento” na hora da meditação, mesmo que por alguns segundos, é tarefa nada fácil. A coisa muda de figura se outra condição for criada: a da “atitude meditativa”, como algo a ser praticado o dia inteiro pela receptividade, pela atenção.

Há um aspecto da existência humana que as pessoas reconhecem, não o inserindo, porém, na sua prática: tudo muda na vida, exceto o fato de que tudo muda. Não levando isso em conta, planejamos e agimos como se nada fosse mudar.

Planejamento é importante, até fundamental, facilitando o alcance de nossas metas. Contudo, a possibilidade de sucesso é até maior se a impermanência é considerada, pois estaremos conscientes das mudanças enquanto elas ocorrem, no agora, podendo também mudar nosso caminho, garantindo a realização da meta.

Paradoxalmente, é pelo fato de estarmos em busca de garantias, de segurança, que acabamos reduzindo as garantias. A ansiedade que turva nossos olhos para as possibilidades do presente é uma decorrência direta do apego ao que desejamos, ao que planejamos, sem considerar a impermanência, o fato de que não há coisa alguma sob nosso controle. A própria vida é um fluxo. Cada minuto neste corpo é garantido por 12 a 20 respirações, ou 60 a 80 batidas do coração. A maior parte de nossas angústias e dores vem do fato de vivermos tentando segurar o vento.

De onde vem essa angústia? Da infantilidade do nosso eu superficial, mental, que ainda não se convenceu de que tudo muda, fazendo-nos agir até a velhice com a onipotência característica dos jovens. Se buscamos, porém, a vida interior pela meditação e outros caminhos, surge uma possibilidade maior: fazer a entrega de nossas metas e de todo esforço ao Eu profundo, ao Deus Interno. Somente Ele tem o controle das coisas.

Por esse caminho, podemos, no caso de qualquer dúvida, usar uma técnica ativa para intuição: dirigir a Ele a pergunta, seja qual for, e aguardar tranqüilamente a resposta. Esta poderá vir por meio de uma idéia ou sensação súbita, mas bastante clara, só nos cabendo ficar atentos, receptivos, no agora. É nesse estado que Deus fala conosco.


[1] Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.

 

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