Walter S. Barbosa[1]
Onde se encontra a intuição? Considerando que não
parece estar disponível o tempo todo - ao contrário, surgindo em momentos raros
- tem a conotação de algo incomum, fora de nosso controle. Pode às vezes ser
tomada como a “voz da consciência”, ou do “anjo bom” que, por passar com muita
rapidez em nossa tela mental, é freqüentemente percebida como lembrança só
depois que o fato intuído já passou. Tarde demais...
Para as pessoas que costumam meditar, esses
instantes fugazes são mais freqüentes. A razão é simples: tais pessoas
começaram a desenvolver o que se poderia chamar “atitude meditativa”, que se
vai ampliando quanto mais a meditação é praticada. Essa atitude tem os olhos
focados no presente, onde a vida acontece.
O poder da meditação é extraordinário. E também de
efeitos rápidos se a meditação é diária, constante, sendo o efeito perceptível
como um estado de tranqüilidade que perdura o dia inteiro, mesmo que se tenha
meditado apenas alguns minutos pela manhã. Nesse tempo deve-se ter procurado
criar um estado de “mente vazia”. É especialmente na condição “sem pensamento”
que o insight ou intuição aflora.
Considerando que vivemos a situação do pensamento
incessante o tempo todo, criar o estado de “não pensamento” na hora da
meditação, mesmo que por alguns segundos, é tarefa nada fácil. A coisa muda de
figura se outra condição for criada: a da “atitude meditativa”, como algo a ser
praticado o dia inteiro pela receptividade, pela atenção.
Há um aspecto da existência humana que as pessoas
reconhecem, não o inserindo, porém, na sua prática: tudo muda na vida, exceto o
fato de que tudo muda. Não levando isso em conta, planejamos e agimos como se
nada fosse mudar.
Planejamento é importante, até fundamental, facilitando
o alcance de nossas metas. Contudo, a possibilidade de sucesso é até maior se a
impermanência é considerada, pois estaremos conscientes das mudanças enquanto
elas ocorrem, no agora, podendo também mudar nosso caminho, garantindo a
realização da meta.
Paradoxalmente, é pelo fato de estarmos em busca de
garantias, de segurança, que acabamos reduzindo as garantias. A ansiedade que
turva nossos olhos para as possibilidades do presente é uma decorrência direta
do apego ao que desejamos, ao que planejamos, sem considerar a impermanência, o
fato de que não há coisa alguma sob nosso controle. A própria vida é um fluxo.
Cada minuto neste corpo é garantido por 12 a 20 respirações, ou 60 a 80 batidas
do coração. A maior parte de nossas angústias e dores vem do fato de vivermos
tentando segurar o vento.
De onde vem essa angústia? Da infantilidade do
nosso eu superficial, mental, que ainda não se convenceu de que tudo muda,
fazendo-nos agir até a velhice com a onipotência característica dos jovens. Se buscamos,
porém, a vida interior pela meditação e outros caminhos, surge uma
possibilidade maior: fazer a entrega de nossas metas e de todo esforço ao Eu
profundo, ao Deus Interno. Somente Ele tem o controle das coisas.
Por esse caminho, podemos, no caso de qualquer
dúvida, usar uma técnica ativa para intuição: dirigir a Ele a pergunta, seja
qual for, e aguardar tranqüilamente a resposta. Esta poderá vir por meio de uma
idéia ou sensação súbita, mas bastante clara, só nos cabendo ficar atentos, receptivos,
no agora. É nesse estado que Deus fala conosco.
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