quarta-feira, 25 de abril de 2012

“Grande trabalhador”: você se orgulha de ser um?


Walter S. Barbosa[1]
Se você respondeu “sim” à questão acima, então esse pode ser um de seus grandes defeitos. Nada que cai no exagero é bom, nem quando se trata de virtude. Tal lição, enfatizando o equilíbrio, constitui um dos ensinamentos centrais do Budismo.

Ser um grande trabalhador pode significar muita consideração e respeito. Também crescimento, alavancando as finanças, o sucesso naquilo em que você trabalha. Isso pode ter origem numa ambição de grande porte. Grandes egos obviamente têm grandes ambições, requerem muitas conquistas para colocar ao lado de sua autoimagem. E depois necessitam de uma moldura bem grande para o “quadro” que irá conter tudo isso.

Em notícia recente, ficamos sabendo que determinada pessoa havia mandado construir uma mansão com 14 suítes em Hollywood. Uma notícia comum, de certa forma, repetindo comportamento de outros tantos brasileiros “bem sucedidos”. Mas fiquei pensando: para que ela deseja 14 suítes?

Grandes egos são assim (e pode haver um latente em todos nós): a partir de certo momento, eventualmente não cabem mais no país nativo. E quando constroem casas colocam muitos quartos, salas, porque, afinal - sendo grandes - necessitam de espaço proporcional. Possivelmente nunca venham a ocupá-lo fisicamente, mas é o que menos importa. O ego ocupa o resto e pode até querer mais, de preferência colocando ali muito ouro, brilho, pois este deve ser tão ofuscante quanto possível.

A atividade excessiva também pode vir da compulsão, até por disfunção hormonal nunca suspeitada. Simplesmente, não se consegue parar e, aí, além de vício é doença. Qual seria, porém, a origem da doença?

Na obra “A Doença como Caminho”, Thorwald sugere que a doença está indicando algo distorcido em nosso comportamento, sob motivação do desejo, das ambições. E aí, alterado o comportamento, a doença também desaparece. Ou seja, não somos doentes por causa do organismo desequilibrado, mas sim por causa da doença na mente, por mais sãos que pareçamos. O corpo é apenas o reflexo.

O problema também pode ter raiz psicológica, ocultando por meio da atividade um grande vazio interior. Assim, evita-se qualquer autocobrança mais profunda, aparentemente dando um “cala-boca” à consciência.

A consciência, porém, não se deixa enganar facilmente. E, no máximo, só por algum tempo, pois é a voz de nosso “Deus Pessoal”, que nunca dorme, jamais se cansa e não tira férias em tempo algum, tendo a seu favor a  própria eternidade. Volta e meia comparece outra vez em nossa tela mental, perguntando: “E aí, quanto àquele assunto?”

Caindo no oposto da preguiça, a atividade excessiva é um vício. Por que? Pelo fato de estar fora de nosso controle. Tudo que não conseguimos parar, às vezes mesmo nos “esforçando”, é um vício. Além disso, é uma condição essencial da matéria, não do espírito. Este “nunca faz nada” como ensina o Bhagavad-Gita.

Então, pode-se perguntar: o espírito é um eterno desocupado? Não, ele é o próprio Deus Interno, a consciência original, a causa de tudo. Seu trabalho neste mundo é “conhecer e dominar a matéria”, sua ferramenta para o autoconhecimento. Quando ele domina a matéria, nada mais nos domina: seja a raiva, a preguiça, o trabalho excessivo, a inveja ou o orgulho, sendo este, por sinal, o problema maior dos “grandes egos”.


[1] Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.

Nenhum comentário: