Walter S. Barbosa[1]
Verbo originário do latim
“educare”, educar quer dizer “extrair”, “sacar fora”. Tal perspectiva está de
acordo com a visão de grandes educadores (como Paulo Freire), segundo os quais
“ninguém educa ninguém”. O que se pode é fornecer elementos – em especial, o
exemplo, a força da “imagem” – para que a educação se desenvolva a partir da
consciência do próprio educando, fazendo emergir sua “luz interior”.
Países cujos governantes priorizam a educação são
certamente privilegiados. E pessoas que têm amigos também. De um deles, o
teósofo Raul Branco, recebi o texto abaixo, de 14 séculos atrás. Apesar de tão
antigo, traz em sua narrativa uma certeza contemporânea: se a sociedade
enfatizasse o Ser em sua prática educativa – em lugar do intelecto e da competitividade
– haveria drástica redução dos gastos públicos com segurança, controle de
drogas, saúde e outros tantos aspectos onde o desregramento impera. A partir
dos lares, tais conflitos iriam se minimizar. As guerras provavelmente
cessariam. Segue-se a história:
“No século VII a.C. viveu em Esparta um
legislador chamado Licurgo. Conta-se que Licurgo foi convidado a proferir uma
palestra a respeito da educação. Aceitou o convite e pediu o prazo de seis
meses para se preparar. Esse pedido causou estranheza, pois todos sabiam que
ele tinha capacidade e condições de falar a qualquer momento sobre o tema.
Passados os seis meses,
Licurgo compareceu perante o povo em expectativa. Postou-se
à tribuna e logo em seguida entraram dois criados, cada qual portando duas
gaiolas. Em cada uma havia um animal, sendo duas lebres e dois cães. A um sinal
previamente estabelecido, um dos criados abriu a porta de uma das gaiolas e a
pequena lebre, branca, saiu a correr espantada. Logo em seguida o outro criado
abriu a gaiola em que estava o cão e este saiu na correria atrás da lebre.
Alcançou-a com destreza e a matou rapidamente.
A cena chocou a todos. Um
grande silêncio tomou conta da assembléia e os corações pareciam saltar do
peito. Ninguém conseguia entender o que Licurgo desejava com tal agressão.
Licurgo nada falou.
Tornou a repetir o sinal e
a outra lebre foi libertada. A seguir, o outro cão. O povo mal continha a
respiração. Alguns, mais sensíveis, levaram as mãos aos olhos para não ver a
reprise da morte bárbara do indefeso animalzinho que corria e saltava pelo
palco. No primeiro instante, o cão investiu contra a lebre. Contudo, em vez de
mordê-la, bateu-lhe com a pata e ela caiu. Logo a lebre ergueu-se e se pôs a
brincar com o cão. Para surpresa de todos, os dois ficaram a demonstrar
tranqüila convivência, saltitando de um lado a outro do palco. Então, Licurgo
tomou a palavra:
– Povo de Esparta. O que
acabais de assistir é uma demonstração do que pode a educação. Ambas as lebres
são filhas da mesma matriz, foram alimentadas igualmente e receberam os mesmos
cuidados. Assim, igualmente, os cães. A diferença entre os primeiros e os
segundos é, simplesmente, a educação que lhes dei – E prosseguiu vivamente o
seu discurso, dizendo das excelências do processo educativo:
– A educação, baseada numa
concepção exata da vida, transformaria a face do mundo. Eduquemos nossos
filhos, esclareçamos sua inteligência, mas, antes de tudo, falemos aos seus
corações, ensinemos a eles a se despojarem de suas imperfeições. Lembremo-nos
de que a sabedoria por excelência consiste em nos tornarmos melhores.
Percebe-se, portanto, que a educação não se constitui em mero estabelecimento
de informações, mas sim em se trabalhar as potencialidades interiores do ser, a
fim de que floresçam”.
Aí, perguntamos: Que
projeto educacional poderia “trabalhar as potencialidades interiores do ser”?
Que tipo de educação nos lares poderia gerar melhor convivência entre nós, com
os demais reinos de vida e com o planeta – este que, de tão vilipendiado,
parece caminhar irremediavelmente para o colapso, levando junto a raça humana?
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