Walter S. Barbosa[1]
Em busca de segurança física e
psicológica, ansiamos por controle externo. Ou seja, controle sobre o outro. Esse
é o alimento da guerra de egos
existente no mundo, incluindo a busca da supremacia religiosa baseada na
divisão, ao invés da união dos povos.
Identificados com o jogo de
mercado – outro reflexo da nossa natureza egocêntrica – nos tornamos servos
dele, fazendo da habilidade de acumular bens o sentido da vida. Daí ser visto como
saudável o estímulo à competitividade, ao destaque pessoal, escapando-nos,
porém, a causa da miséria. De onde vem o terrorismo, a corrupção e todo esse
desequilíbrio que salta aos olhos? É o próprio ego tentando entender.
Conseguirá?
A Lei do Carma (ou de Causa e
Efeito) é continuamente acionada para restaurar o equilíbrio arruinado pela
ação humana, atingindo outros homens, os animais, a natureza. Justificando a
máxima “Tudo está certo como está”, a balança cósmica nivela os pratos outra
vez a despeito de nossa vontade, mantendo a harmonia desde as vidas pequeninas na
sociedade das abelhas e das formigas, até a marcha colossal dos sóis e dos
planetas.
Insensíveis a isso, de cabeça
baixa em nosso pequeno mundo, quantas vezes somos levados a fazer coisas que,
para nossa surpresa, resultam algo bem distinto do planejado, indo até na
direção contrária? Isso porque tal direção é determinada não exatamente por
nossos planos. Quando eles dão certo é porque estavam de acordo com a lei
natural, seguindo o fluxo do rio, como ocorre na vida das pessoas harmoniosas,
receptivas.
No Universo há uma só Vida, uma
só Consciência: a do Criador, origem de todas as “centelhas” ou espíritos
individuais, nós mesmos. À semelhança dos raios do sol, que jamais separam-se
dele, estamos ligados à consciência divina, o que nos torna irmãos em todos
reinos. Em razão disso, os Mestres de Sabedoria são chamados Irmãos mais Velhos,
enquanto os animais são nossos irmãos mais novos. Essa é a Fraternidade
Universal.
Tremendo engano vem a ser então a
idéia de separatividade que nos põe em guerra mútua, sob a natureza mental do
ego. A matéria mental, muito fina, penetra tudo. É o oceano onde os pensamentos
atraem-se instantaneamente, por semelhança vibratória.
Num acidente de avião, por
exemplo, pessoas estranhas entre si – mas relacionadas com algo infeliz no
passado – juntam-se para resgate coletivo. Quem providenciou esse reencontro? Escolhemos
relacionamentos de acordo com certa preferência. É o que pensamos. Contudo, tais
parcerias acabam trazendo lições imprevistas que, sendo rejeitadas, reaparecem
adiante em nosso caminho. O externo só
muda a partir do interno.
O Carma nos dá liberdade para
agir, mas não para evitar o fruto da ação. Entretanto, esse fruto pode ser
abortado quando, percebendo o erro, de imediato atuamos sobre a causa,
eliminando-a. Ou quando, agindo de forma desinteressada na linha do “karma
yoga”, encerramos causa e efeito na própria ação original. Nada sobra para o
futuro.
Assim, é infrutífero qualquer
controle artificial ou esforço para “escapar à lei”. Mesmo o controle interno –
sobre emoções e pensamentos – deve ceder lugar à auto-observação, à suave luz
da consciência, tornando o reto pensar
nossa única alternativa. De acordo com essas idéias, as “quatro leis da espiritualidade”
ensinadas na Índia, dizem:
1)
“A pessoa que vem é a pessoa certa”. Nossos atos,
desejos ou pensamentos atraíram essa pessoa para algum projeto, ou lição que
devemos aprender juntos.
2)
“O que aconteceu é a única coisa que podia ter
acontecido”, significando o efeito criado por nosso limite de consciência. Não
há recompensa nem castigo.
3)
“Toda vez que
você iniciar é o momento certo”, conjugando pessoas, lugares e circunstâncias na
sincronicidade, para a ação já formada e decidida no plano mental. Não existem
milagres. Nada surge do acaso. Assim, também,
4)
“Quando algo termina, termina!” Muito sofrimento evitaríamos
estando perceptivos disso. Tal condição, entretanto, é muito rara, pois tem a
conotação de sabedoria.
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