quinta-feira, 26 de abril de 2012

As “quatro leis da espiritualidade”


Walter S. Barbosa[1]
Em busca de segurança física e psicológica, ansiamos por controle externo. Ou seja, controle sobre o outro. Esse é o alimento da guerra de egos existente no mundo, incluindo a busca da supremacia religiosa baseada na divisão, ao invés da união dos povos.
           
Identificados com o jogo de mercado – outro reflexo da nossa natureza egocêntrica – nos tornamos servos dele, fazendo da habilidade de acumular bens o sentido da vida. Daí ser visto como saudável o estímulo à competitividade, ao destaque pessoal, escapando-nos, porém, a causa da miséria. De onde vem o terrorismo, a corrupção e todo esse desequilíbrio que salta aos olhos? É o próprio ego tentando entender. Conseguirá?         
           
A Lei do Carma (ou de Causa e Efeito) é continuamente acionada para restaurar o equilíbrio arruinado pela ação humana, atingindo outros homens, os animais, a natureza. Justificando a máxima “Tudo está certo como está”, a balança cósmica nivela os pratos outra vez a despeito de nossa vontade, mantendo a harmonia desde as vidas pequeninas na sociedade das abelhas e das formigas, até a marcha colossal dos sóis e dos planetas.
           
Insensíveis a isso, de cabeça baixa em nosso pequeno mundo, quantas vezes somos levados a fazer coisas que, para nossa surpresa, resultam algo bem distinto do planejado, indo até na direção contrária? Isso porque tal direção é determinada não exatamente por nossos planos. Quando eles dão certo é porque estavam de acordo com a lei natural, seguindo o fluxo do rio, como ocorre na vida das pessoas harmoniosas, receptivas.         
           
No Universo há uma só Vida, uma só Consciência: a do Criador, origem de todas as “centelhas” ou espíritos individuais, nós mesmos. À semelhança dos raios do sol, que jamais separam-se dele, estamos ligados à consciência divina, o que nos torna irmãos em todos reinos. Em razão disso, os Mestres de Sabedoria são chamados Irmãos mais Velhos, enquanto os animais são nossos irmãos mais novos. Essa é a Fraternidade Universal.
           
Tremendo engano vem a ser então a idéia de separatividade que nos põe em guerra mútua, sob a natureza mental do ego. A matéria mental, muito fina, penetra tudo. É o oceano onde os pensamentos atraem-se instantaneamente, por semelhança vibratória.
           
Num acidente de avião, por exemplo, pessoas estranhas entre si – mas relacionadas com algo infeliz no passado – juntam-se para resgate coletivo. Quem providenciou esse reencontro? Escolhemos relacionamentos de acordo com certa preferência. É o que pensamos. Contudo, tais parcerias acabam trazendo lições imprevistas que, sendo rejeitadas, reaparecem adiante em nosso caminho. O externo só muda a partir do interno.
           
O Carma nos dá liberdade para agir, mas não para evitar o fruto da ação. Entretanto, esse fruto pode ser abortado quando, percebendo o erro, de imediato atuamos sobre a causa, eliminando-a. Ou quando, agindo de forma desinteressada na linha do “karma yoga”, encerramos causa e efeito na própria ação original. Nada sobra para o futuro.
           
Assim, é infrutífero qualquer controle artificial ou esforço para “escapar à lei”. Mesmo o controle interno – sobre emoções e pensamentos – deve ceder lugar à auto-observação, à suave luz da consciência, tornando o reto pensar nossa única alternativa. De acordo com essas idéias, as “quatro leis da espiritualidade” ensinadas na Índia, dizem:
1)      “A pessoa que vem é a pessoa certa”. Nossos atos, desejos ou pensamentos atraíram essa pessoa para algum projeto, ou lição que devemos aprender juntos.
2)      “O que aconteceu é a única coisa que podia ter acontecido”, significando o efeito criado por nosso limite de consciência. Não há recompensa nem castigo.
3)       “Toda vez que você iniciar é o momento certo”, conjugando pessoas, lugares e circunstâncias na sincronicidade, para a ação já formada e decidida no plano mental. Não existem milagres. Nada surge do acaso. Assim, também,
4)      “Quando algo termina, termina!” Muito sofrimento evitaríamos estando perceptivos disso. Tal condição, entretanto, é muito rara, pois tem a conotação de sabedoria.


[1] Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.

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