Walter Barbosa[1]
O que é a
verdade? Questões dessa natureza não podem ser apresentadas à mente que pesa,
mede e julga nossas operações em busca da sobrevivência diária. O que podemos
fazer? Propô-las ao nosso universo interno e, a partir daí esquecê-las. Em
algum momento o universo responderá.
Uma expressão
muito comum na boca de todos nós – em todos os tempos, raças e línguas – é “a
busca da verdade”. Isso vale para tudo, porque tudo tem um componente de
informação para a consciência, deve ser tocado por ela, sendo a medida desse
toque proporcional ao que nossa mente deixa passar. Quanto mais a mente permite
que passe da realidade do objeto – não interferindo com preconceitos, fantasias
etc. – mais verdade a consciência capta a respeito dele, passando a governar
nossa vida.
Quando vamos
comprar um par de sapatos examinamos sua verdade quanto à
estética, à qualidade, à compatibilidade do preço, e assim por diante. Nos atos
mais simples buscamos a verdade. Se nos detivermos na aparência, a verdade se limitará
a isso, mudando de acordo com as alterações na forma que encantou os olhos, na palavra
que agradou os ouvidos, no sentimento que embalou a alma. E aparências costumam
mudar rápido. A isso chamamos desilusão: o retorno para a verdade.
Seja qual for o objeto,
a verdade com que podemos contar e que nos leva a tomar decisões “certas” ou “erradas”
não depende de ninguém, é algo solitariamente resolvido dentro de nós. Mesmo
quando somos enganados, a culpa não é do outro: nós é que nos enganamos (às
vezes conscientemente). O vendedor do sapato poderá tentar nos sugestionar,
induzir a compra de um modelo mais caro de qualidade inferior, mas a verdade (ou
sentimento) que já tivermos captado sobre o assunto é que prevalecerá na decisão.
A escolha é sempre nossa, de acordo com a verdade que já alcançamos (assim,
pode-se dizer que não há decisão errada: é sempre a possível em cada momento).
Quanto mais
verdade – medida por sabedoria – já tivermos dentro de nós, mais duradouras e
felizes serão nossas decisões. Em que lugar ela se encontra? Naquilo que somos:
o Ser, a consciência, o espírito. Por isso ela nunca se move, está sempre aqui.
Pelas várias aplicações que enseja, essa constatação tem um valor
extraordinário. Em princípio, significa que podemos ser independentes da mesma
forma – igualmente assistidos na busca da verdade – seja no mais remoto deserto
ou no burburinho mundano.
“Aquilo que é”.
Essa é uma resposta que pode surgir quanto à pergunta “O que é a verdade?”, indicando
tratar-se de uma totalidade, a essência do objeto, além de todo julgamento ou definição.
Não depende de lugar, tempo ou fato sob análise – seja um par de sapatos ou o
amor de nossa vida – pois tudo é apenas segmentação do corpo indivisível da
verdade. Uma vez descoberto um pedacinho desse corpo ele está sempre conosco, como
se fosse uma lente de aumento, mostrando suas pegadas luminosas onde quer que se
prenda nossa atenção. É a mão de Deus apontando “o caminho das pedras”.
Assim, a verdade
está onde você está. Você não precisa ir a lugar algum para encontrá-la. Paradoxalmente,
enquanto estiver caminhando nessa busca, estará levando consigo aquilo que
procura. Conseqüentemente, ninguém poderá dar-lhe ou tirar-lhe a verdade. Outro
aspecto fundamental: seja qual for o preço, ninguém jamais poderá vendê-la a
você. A não ser, é claro, que você esteja enganando a si mesmo.
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