quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

“A verdade é uma terra sem caminhos”


Walter S. Barbosa(*)
A frase acima foi pronunciada por Krishnamurti em 1929, ao dissolver a extensa organização que se criara em torno dele, rejeitando assim a possibilidade de vir a ser adorado como um Messias ou originar novos credos, apesar de ter atraído multidões como um autêntico instrutor espiritual, até sua morte aos 90 anos.

Segundo ele, “A crença é uma questão puramente individual, e não podemos nem devemos organizá-la. Se assim o fizermos, ela morrerá, ficará cristalizada; tornar-se-á um credo, uma seita, uma religião para ser imposta aos outros”.

Nessa questão, quando estabelecemos caminhos as possibilidades se reduzem, transformando aquilo em fonte de segurança, rigidez mental. Então, o caminho que deveria ser trilhado como lembrança ou direção, torna-se um rótulo, um patrimônio, restringindo o significado da vida espiritual que é viver em harmonia com toda a criação.

Porém, como poderia o homem descobrir a verdade que está em seu próprio interior sem a ajuda externa que as religiões propiciam, enquanto seu aprendizado é tão dependente daquilo que ouve, daquilo que vê? Em nome do próprio Krishnamurti organizações se criaram a fim de divulgar seus ensinamentos.
           
Tomé acreditou porque viu. “Benditos são aqueles que não viram e creram”, disse Jesus. Enquanto não somos capazes de aprender no silêncio da alma – por meio da auto-observação, da meditação – as religiões têm seu papel, avivando no mundo a lembrança do Eterno, chamemos a ele Deus ou Alá. O que torna as religiões fonte de desequilíbrio é se constituírem núcleos de poder, intitulando-se “únicas possuidoras da verdade” pela boca de seus representantes. Isso tem a ver com o aspecto humano, não com o Eterno.
           
Na filosofia esotérica, Deus – “o Ser supremo e inefável, incompreensível para a inteligência humana”, como define Helena Blavatsky – é a fonte da Vida Una, que nada exclui de si mesma, sendo por isso a matriz da verdade. Diferenças no sexo, cor da pele ou religião referem-se ao transitório homem externo. E a verdade? É aquilo que “é”, podendo apenas ser vivida. Como um raio de sol, o amor ou a paz, ninguém a possui. Tão só experimenta-se. Assim, testemunha o contrário aquele que em nome de seu credo (ou grau de consciência) diz ser dono da verdade, provocando divisões e dor.
           
Também, a não ser pela retidão que os Mestres de Sabedoria exemplificam, convidando-nos a segui-los, a verdade não precisa de defensores. Se puramente mental, a defesa torna-se negativa, prejudicando o que se defende. Avessa a pressões, a verdade atua no tempo próprio, às vezes como a descoberta que fazemos, indagando surpresos: “Como não vi isso antes?”. Aquilo sempre esteve ali. Freqüente na meditação, essa experiência surge também nos relacionamentos. É o espelho do mundo apontando o Ser.
           
Como “aquilo que é”, a verdade é o fato que só vemos com a mente nua, isenta de motivos. O motivo distorce o fato e mata a verdade, como também mata o amor. Sem motivos, a mente vê mas não julga, deixando agir os poderes intuitivos do coração, baseado em sentimento, não em palavras. Enquanto a mente polariza, discrimina – perdendo-se na diversidade – o coração agrega, relacionando causas e efeitos. Como do alto de um monte, aquele que está “além da mente” enxerga na planície o quase invisível traço de união que totaliza a diversidade no Uno.
           
Imprescindível para as operações diárias, a mente é parcial no tratamento com pessoas. Aí dividida, está sempre se agarrando, dizendo que a verdade é isto ou aquilo, em busca de supremacia. Já o coração prefere o silêncio ante o conflito, pois distingue a verdade em toda parte ao focar o permanente e não o transitório. Por essa razão, como ensina Ramana Maharshi, para os seres iluminados “tudo é real”.
           
Também segundo Maharshi, o coração – que indicamos ao dizer “eu”, colocando a mão sobre o peito – é a morada do Deus Interno: o templo a que podemos nos recolher a qualquer momento. Sem pagar taxa alguma, sem depender

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