Walter da Silva Barbosa[1]
“Cada um deve
colher o fruto de seus atos”. Teria outro significado a frase crística acima? Além
de qualquer influência que os homens possam ter exercido ao traduzir ou
reeditar os textos sagrados ao longo dos séculos, sobram intocáveis as frases
luminosas que indicam sua origem sobre-humana. Essa é a condição crística exemplificada
por Jesus e que cada um de nós traz dentro de si, conforme declaração do apóstolo
Paulo: “sofro de novo as dores de parto até que Cristo seja formado em vós”.
Na palavra de
Jesus, a frase “Sede perfeitos como vosso Pai que está nos céus” também não
deixa dúvidas. Temos que chegar à perfeição do Pai, o que só é possível pelo
trabalho de eras incontáveis, partindo de um ponto em que Deus já se faz
presente - o nosso coração - pois nada se desenvolve do nada no contexto do
plano evolutivo.
Uma sementinha,
por mais invisível que seja, é sempre o princípio a ser expandido até alcançar
a plenitude que ela traz embutida. Essa é uma regra na natureza e daí o
fatalismo da evolução. Deus é a garantia da realização de Seu próprio plano.
Nessa trajetória,
justificando as leis universais e a sede de liberdade no homem, o livre-arbítrio
é fundamental, sob ajuste pela Lei do Carma. Contudo, quem de fato dispõe de
livre-arbítrio? Apenas os iluminados, os Santos Seres. Tendo superado a cadeia
dos vícios, eles têm a vontade livre, limitando-se, porém, a cumprir a vontade
do Pai.
Por meio do
livre-arbítrio entramos em contato com infinitas possibilidades, fazendo como a
criança que na fase oral experimenta tudo que encontra: o brinquedo, a chave do
carro da família e outros objetos, que vamos tirando de sua frente. É preciso
que o façamos. O bebê humano é o mais dependente e insensato de todos porque
não tem a retaguarda da “alma-grupo” que protege os animais. Ele é uma alma
individual, Deus em plena autodescoberta, a caminho de desenvolver Sua
potência. Mas se o bebê engolir a chave do carro, apesar de nossos cuidados, de
nada adianta oferecer nosso corpo para retirá-la: o bebê terá que sofrer a cirurgia,
por mais dolorosa que seja.
Reproduzindo a
imaturidade infantil, engolimos energias indigestas por meio de músicas
agressivas à psique, vícios e alimentos impuros ou cruéis que detonam o corpo
físico, além de pensamentos de inveja, maledicência, luxúria ou vingança que paralisam
e deformam o corpo mental. A dor da cirurgia nos ensinará a pensar diferente,
purificando tais energias em direção ao “corpo de luz”: único capaz de entrar
no Reino dos Céus.
Conseqüência é regeneração
e percepção das regras da vida. Um dos efeitos de ignorar isso é praticar
verdadeiro “furto consciencial” ao retirar desafios da jornada dos filhos, pensando
ajudá-los, mas tornando-os crianças grandes e mimadas.
A Lei do Carma, porém,
não se engana. Deus não mima suas criaturas até porque vive em seu interior. As
leis universais não são, como as humanas, sujeitas a caprichos. Seria sensato admitir
para Deus menor sabedoria que a de um pai interessado no crescimento do filho,
responsabilizando-o pelo fruto de seus atos? Não. Mas na prática, ao invés de aceitar
o esforço que leva à perfeição do Pai, preferimos a ilusão dos atalhos. Assim, ao
invés de ler no texto bíblico: “Toma tua cruz e segue-me”, lemos: “Dá-me tua
cruz que a levarei”. Vemos o que a mente deseja. Ela é a raposa que guarda o
galinheiro.
Com as hastes
vertical e horizontal simbolizando a união do Espírito com a Matéria, a cruz indica
o Criador preso na criatura. É o Cristo em trabalho de parto no ser humano. Querendo
atuar de maneira consciente nesse trabalho, acelerando-o, devemos saber que
nada substitui a revisão e purificação da vida como Jesus ensinou, além de,
naturalmente, aceitar o fruto doce ou amargo de nossas escolhas. Carma não é
castigo. É a chance de elevação infinita para Deus. É a própria confiança e dignidade
do Pai em nós.
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