quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

“Sede perfeitos como vosso Pai que está nos céus”


 Walter S. Barbosa(*) 
Como alcançar a perfeição de Deus? A frase crística não deixa a menor dúvida quanto a essa possibilidade. Então, por que as pessoas que dizem acreditar “na palavra” não buscam os caminhos para a perfeição com tudo que essa busca implica?

Como em outras passagens desafiadoras da bíblia, há aqui uma grande interrogação. Prisioneiros da mente concreta – ou intelecto – e de um corpo cheio de limites, sentimos mais afinidade com a frase “Do pó vieste e ao pó voltarás” também do texto bíblico, simbolizando o ego que se renova em cada vida. Alheios à imortalidade e grandeza do Ser interno, somos como o elefante que, amarrado a uma estaca desde pequeno, fica preso ali depois de adulto, desconhecendo sua força.
           
Porém, se Jesus nos instiga a alcançar a perfeição do Pai, a evolução não pode se limitar a uma pobre vida de 70 anos. Deve ser um processo infinito, baseando-se em muitos retornos ao reino humano – como indica a volta do profeta Elias com o nome de João Batista (Lucas 1:13 e Mateus 17:10) – avançando depois para reinos e dimensões superiores, onde atuam seres como Jesus e outros mais adiantados.

Consciências de inumeráveis grandezas estão por trás da criação, desde os pequeninos construtores que trabalham na modelagem de uma flor ou na geração do feto no ventre materno, até aqueles que, na condição de governantes de mundos, presidem a evolução de planetas, sistemas solares e galáxias. Essa é a meta que nos aguarda.

O infinito é, entretanto, uma proposta incompreensível para a mente humana. Não poucos intelectuais já confessaram negar Deus por não terem conseguido entendê-lo. Ora, isso não seria como tentar enfiar o oceano inteiro na estreiteza de um cálice?

Nos tempos em que por imposição religiosa a Terra era o centro do universo, Deus tinha pouco mais que a estatura de um homem. Para alguns, isso continua. Mas hoje se sabe que nosso planeta é um parceiro minúsculo no sistema solar. Este, por sua vez, é um grão de areia na Via Láctea, a galáxia a que pertencemos, com bilhões de sóis e planetas.

Para atravessar nossa galáxia, a luz – na velocidade de 300.000 km por segundo – leva 30.000 anos viajando. Essa mesma luz, porém, dá sete voltas e meia em torno da Terra em um segundo! Como entender Deus? A perplexidade do intelectual não é sem razão. Sem razão é o ato de negar o que não alcança, ao invés de se abrir para outros níveis de percepção, ajudando a reduzir a ignorância no mundo.

Faminto de segurança, o ego não vai além do que rotula. Porém, faz isso mesmo quando desconhece o assunto, como se viu em reportagem recente sobre experiências de “quase morte”, onde pessoas em coma veem a si mesmas fora do corpo. Para um dos cientistas entrevistados, tudo não passa de alucinação gerada pela química do cérebro. Por que não dizer apenas: “Não estudei o assunto, nada posso dizer a respeito”?

Apesar dos estreitos limites de nossas certezas e julgamentos, é por meio deles que agimos e nos comunicamos com as pessoas, daí sendo possível compreender os abismos que nos separam. Mas também é possível captar algo mais precioso: a rota de saída desse labirinto, onde nos satisfazemos em nomear as coisas ao invés de viver sua essência.

A mente concreta enfeita e alimenta o corpo. Contudo, é impotente para o vôo na direção do infinito, que apenas o infinito pode realizar. Essa é uma aventura para o coração. Conectado à mente divina – fonte da razão pura – é nessa miniatura do universo que se esconde, no próprio homem, a perfeição do Pai que está nos céus.
(*) Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.

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