Walter S. Barbosa(*)
Como alcançar a perfeição de
Deus? A frase crística não deixa a menor dúvida quanto a essa possibilidade.
Então, por que as pessoas que dizem acreditar “na palavra” não buscam os
caminhos para a perfeição com tudo que essa busca implica?
Como em outras passagens
desafiadoras da bíblia, há aqui uma grande interrogação. Prisioneiros da mente
concreta – ou intelecto – e de um corpo cheio de limites, sentimos mais
afinidade com a frase “Do pó vieste e ao pó voltarás” também do texto bíblico,
simbolizando o ego que se renova em cada vida. Alheios à imortalidade e grandeza
do Ser interno, somos como o elefante que, amarrado a uma estaca desde pequeno,
fica preso ali depois de adulto, desconhecendo sua força.
Porém, se Jesus nos instiga a
alcançar a perfeição do Pai, a evolução não pode se limitar a uma pobre vida de
70 anos. Deve ser um processo infinito, baseando-se em muitos retornos ao reino
humano – como indica a volta do profeta Elias com o nome de João Batista (Lucas
1:13 e Mateus 17:10) – avançando depois para reinos e dimensões superiores, onde
atuam seres como Jesus e outros mais adiantados.
Consciências de inumeráveis grandezas
estão por trás da criação, desde os pequeninos construtores que trabalham na
modelagem de uma flor ou na geração do feto no ventre materno, até aqueles que,
na condição de governantes de mundos, presidem a evolução de planetas, sistemas
solares e galáxias. Essa é a meta que nos aguarda.
O infinito é, entretanto, uma proposta incompreensível para a mente humana. Não
poucos intelectuais já confessaram negar Deus por não terem conseguido
entendê-lo. Ora, isso não seria como tentar enfiar o oceano inteiro na
estreiteza de um cálice?
Nos tempos em que por imposição religiosa a Terra era o centro do
universo, Deus tinha pouco mais que a estatura de um homem. Para alguns, isso
continua. Mas hoje se sabe que nosso planeta é um parceiro minúsculo no sistema
solar. Este, por sua vez, é um grão de areia na Via Láctea, a galáxia a que
pertencemos, com bilhões de sóis e planetas.
Para
atravessar nossa galáxia, a luz – na velocidade de 300.000 km por segundo –
leva 30.000 anos viajando. Essa mesma luz, porém, dá sete voltas e meia em
torno da Terra em um segundo! Como entender Deus? A perplexidade do intelectual
não é sem razão. Sem razão é o ato de negar o que não alcança, ao invés de se
abrir para outros níveis de percepção, ajudando a reduzir a ignorância no mundo.
Faminto
de segurança, o ego não vai além do que rotula. Porém, faz isso mesmo quando
desconhece o assunto, como se viu em reportagem recente sobre experiências de “quase
morte”, onde pessoas em coma veem a si mesmas fora do corpo. Para um dos
cientistas entrevistados, tudo não passa de alucinação gerada pela química do
cérebro. Por que não dizer apenas: “Não estudei o assunto, nada posso dizer a
respeito”?
Apesar
dos estreitos limites de nossas certezas e julgamentos, é por meio deles que
agimos e nos comunicamos com as pessoas, daí sendo possível compreender os
abismos que nos separam. Mas também é possível captar algo mais precioso: a
rota de saída desse labirinto, onde nos satisfazemos em nomear as coisas ao
invés de viver sua essência.
A
mente concreta enfeita e alimenta o corpo. Contudo, é impotente para o vôo na
direção do infinito, que apenas o infinito pode realizar. Essa é uma aventura
para o coração. Conectado à mente divina – fonte da razão pura – é nessa miniatura
do universo que se esconde, no próprio homem, a perfeição do Pai que está nos céus.
(*)
Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.
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