Walter da Silva Barbosa[1]
A frase acima
foi dita por um amigo que, em matéria de cultura intelectual, pouco domina além
de escrever o próprio nome. Com relação ao essencial, contudo, tem algo a
ensinar até para portadores de títulos acadêmicos (sendo estes freqüentemente
causa de cristalizações mentais e vaidades que nos desviam do conhecimento
real).
“Saber” é ir
além do comportamento reativo que caracteriza a maioria das pessoas, deixando
de alimentar o dia de ontem, a reprodução interminável do passado (em grande
parte, a miséria do mundo), abrindo-se para as oportunidades de consciência de
cada instante. Saber nesse nível é enxergar além das aparências, correspondendo
à frase crística: “Vejam os que têm olhos de ver”, significando a mente limpa em
certa medida para que a intuição possa fluir (o verdadeiro “terceiro olho”, segundo
Helena Blavatsky).
Intuir alguma
coisa nada tem a ver com pensar, nada a ver com palavras. É a linguagem da
consciência, a manifestação do Ser que o pensamento ao invés de ajudar, contamina.
Há um pensador funcionando ininterruptamente em nós, falando sozinho no chamado
“diálogo interno”, como aquelas pessoas que às vezes encontramos nas ruas
expressando-se em voz alta para uma platéia invisível, como lembra Tolle[2].
A diferença a nosso favor (talvez nem por isso sejamos “sãos”) é que conversamos
na solidão de nossa massa cinzenta. O ego é o veículo desse pensador.
Relembrando
emoções fortes, desejos insatisfeitos e até pensamentos que captamos de outras
pessoas, o pensador mantém a tagarelice de nosso corpo mental, que se reflete no
cérebro físico. Aliás, tudo que está no físico é reflexo do sutil.
Quando vamos
reencarnar, o processo começa “de cima para baixo” com a formação do corpo
mental, vindo depois o emocional (ou astral) e o duplo etérico (também chamado
vital ou energético). O corpo físico que se forma a partir da fecundação no
útero materno é uma cópia do duplo etérico, onde se encontram também os
“chacras” ligados ao físico, alimentando esse corpo de prana, a energia de vida
emanada do sol (alimento primordial). Todos esses corpos são formados com a
ajuda dos seres da natureza, atuantes também nos demais reinos de vida.
A cegueira dos
que não têm “olhos de ver” é causada pelos conteúdos do corpo mental, onde os
sentidos na verdade funcionam. Quando aqueles conteúdos estão sujos (luxúria,
inveja, medo, ciúme), tudo que captamos por meio dos relacionamentos (afeto, palavras,
sabor, odor, sons, imagens) só pode ser apreciado no nível mais grosseiro. Por
outro lado, ficam também prejudicadas as percepções espirituais a respeito deste
mundo físico, que é justamente o que nós, como espíritos, viemos buscar aqui.
Assim como a
sujeira mental nos impede de desfrutar obras ou prazeres refinados – porque não
conseguimos enxergar sua beleza – também afasta-nos de pessoas que vibram numa
condição mais sutil. Empenhadas no cultivo de valores permanentes, exigindo esforço
e renúncia, tais pessoas representam tudo que o ego considera mortal. Por isso
disse o Cristo: “Dize-me com quem andas e te direi quem és”.
Saber é a
capacidade de enxergar a realidade do fato por meio da consciência. Entre a
consciência e o fato encontra-se, porém, o espelho da mente. Se ele está sujo é
impossível enxergar algo. Percebemos tudo de maneira distorcida, sendo essa a
causa de nossos erros diários. Então, como disse meu amigo, quem não sabe é
porque não enxerga. Considerando, porém, que a própria capacidade de enxergar
se limita à consciência já desenvolvida, pode-se dizer que quem não enxerga é
porque não sabe.
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