Walter S. Barbosa(*)
O que é estar morto? Pelo ângulo
“favorável”, é deixar para trás os problemas. Isso vale tanto para os
materialistas – que nada esperam para depois – como para os crentes em algo após
a morte. Nossas contas bancárias e afetivas, tudo que era oneroso ou importante,
como cabides pendurados no guarda-roupa do ego, fica para os vivos.
Na visão dos espiritualistas, além
do ganho consciencial, levamos para o outro
lado o saldo final das experiências terrenas (que o mundo está aprendendo a
denominar “karma”). Isso não deixa de ser um “problema” se o saldo é negativo:
a morte não resolve tudo. Tal circunstância afeta também os descrentes, pois a
lei não deixa de funcionar só porque a ignoramos.
A diferença a favor dos
espiritualistas é (ou deveria ser), alguma preparação para a continuidade após o suspiro final,
sabendo que apenas o corpo morre. Cientes disso, naturalmente não ficaríamos
identificados com essa pasta de carne, colocando em seus contornos e
profundidades toda a expectativa de vida. Isso é, porém, o que ocorre?
Os céticos dizem: “com a morte
tudo acaba”. Haverá então uma identificação plena com o corpo. A vida só depende
dele. Entre as ilusões decorrentes, encontra-se decerto a da fuga pelo
suicídio, quando o sofrimento no mundo parece insuportável. O choque é enorme, porém,
quando levantamos do corpo – como deixamos a cama – e percebemos o revés da
saída prematura: a dor continua. É até maior porque, antes psicológica – razão
maior do ato desesperado – a dor agora se agrava com o remorso da destruição do
vaso físico (às vezes, num suplício bem real, provando seu definhar na
sepultura).
Além disso, estaremos então num corpo
que é pura emoção: o corpo astral. Não há o anteparo físico para filtrar a dor.
Esse é o quadro que as religiões exibem, pintando o inferno eterno em
caldeirões de fogo. Finalizando-se com a “purgação” das energias astrais densas,
há de parecer, contudo, interminável para os que lá se encontram no mesmo caldeirão vibratório. Será que apenas os
descrentes se matam? Estariam só eles submissos ao corpo e assim escravos do
círculo de prazeres e dores que ele oferece?
Materialistas ou não – igualmente
propensos a arruinar o corpo, inclusive pelos vícios e alimentos incorretos – de
fato estamos identificados com ele. E assim tememos a morte. A propósito, falando
de 2012 segundo o “Calendário Maia”, Eckhart Tolle questiona: por que temer o
fim do mundo? Caso sobrevenha, já não ocorre para milhares de pessoas diariamente?
E nos incita a pensar: “O segredo da vida é morrer antes que você morra”.
Nessa questão, a lógica
cristalina é: não conseguimos viver enquanto presos no emaranhado dos medos e ambições
pessoais, separados do agora, o
momento em que a vida acontece. E não conseguimos até pelo medo antecipado da
morte em suas muitas formas – perda do amor, do prestígio e outras – que representam
a morte psicológica.
Onde se localiza o medo? Na parte
de nós sujeita a morrer, assim como o corpo: o “eu” transitório chamado ego. Propondo
eliminar esse medo na fonte, o sábio Ramana Maharshi diz: “Se alguém que amamos
morre, isso causa sofrimento àquele que continua vivo. A maneira de se livrar
do sofrimento é não continuar vivendo. Mate o sofredor. Assim quem estará lá
para sofrer? O ego deve morrer, é o único jeito”.
Na jornada diária para a
conquista do Ser, feita de cada momento, a extinção do ego é o nascimento para
a vida plena, inclusive afetiva, sem competitividade, ciúme ou receio de
perdas. Como assinalam os Mestres, sem pendências de passado ou futuro, a vida no
agora é uma serena antecipação da que vem depois. Por sinal, vencida a prisão
do tempo – onde a mente é zelosa carcereira – o que é o depois?
(*) Membro da Sociedade Teosófica
e da Universidade Livre para a Consciência.
4 comentários:
Que o Ego precisa morrer eu sinto todos os os dias, porém me diga como por favor?
Ok! Mas como faço isso? Que ele precisa morrer ei sinto todos os dias qdo acionou conteúdos do passado que nas relações me causam sofrendo... Como matar o Ego?
Oi Patrícia! Obrigado pelo comentário. Como matar o ego... eis a grande questão. E talvez a questão final de nossas vidas. Vivemos esse desafio todos os dias, frequentemente várias vezes no mesmo dia! Para não ir mais longe, estava lidando com ele no exato momento em que acessei seu comentário! Minha resposta para o seu "Como matar o ego?" está sendo correr atrás do prejuízo, ou seja, reconhecer que tive uma reação baseada puramente no ego e, em seguida, contatar a pessoa que motivou aquela reação (muito obrigado por expor meu monstrinho interno!). Isso significa pedir desculpas etc. Eis aí uma pequena amostra de como matar o ego, agindo na direção contrária às exigências dele! Algo simples, mas bastante doloroso, com um sabor típico de "morte"!
Oi Patrícia! Obrigado pelo comentário. Como matar o ego... eis a grande questão. E talvez a questão final de nossas vidas. Vivemos esse desafio todos os dias, frequentemente várias vezes no mesmo dia! Para não ir mais longe, estava lidando com ele no exato momento em que acessei seu comentário! Minha resposta para o seu "Como matar o ego?" está sendo correr atrás do prejuízo, ou seja, reconhecer que tive uma reação baseada puramente no ego e, em seguida, contatar a pessoa que motivou aquela reação (muito obrigado por expor meu monstrinho interno!). Isso significa pedir desculpas etc. Eis aí uma pequena amostra de como matar o ego, agindo na direção contrária às exigências dele! Algo simples, mas bastante doloroso, com um sabor típico de "morte"!
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