Walter da Silva
Barbosa[1]
“Querer é poder” – diz uma frase conhecida. Da
maneira que geralmente entendemos e praticamos, contudo, querer tem mais a
conotação de desejar. E desejar não é poder, apenas abrindo a “possibilidade
para”, como impulso em determinada direção.
Desejar é um movimento passageiro,
ainda que contínuo, ligado às ofertas ou necessidades do mundo material. Desejamos ter um carro,
obter um emprego, alcançar certo “status”. Quando a meta desejada se realiza, o
movimento do desejo muda de direção – e tudo recomeça – porque a rotina do
desejo tem a natureza da insaciabilidade, gerando por isso os males da
insatisfação, da intriga, da inveja, do adultério e tantos outros.
Não à-toa a filosofia budista tem
talvez como ensinamento máximo as “Quatro Nobres Verdades”, resumidas: 1) na
verdade do sofrimento, 2) na verdade do desejo como a causa do sofrimento, 3) na
verdade da extinção do sofrimento pela remoção do desejo e, finalmente, 4) na
verdade do “Óctuplo Caminho” para a extinção dos desejos.
Uma proposta de “extinção dos
desejos” há de parecer à grande maioria das pessoas um absurdo completo.
Afinal, nosso mundo gira em torno dos desejos. A filosofia esotérica, contudo,
propõe que comecemos “substituindo desejos”. Que gradativamente coloquemos no
lugar dos desejos mais grosseiros, escravizadores, aqueles que podem nos
elevar, nos libertar.
“O ser humano é um bicho estranho.
Está sempre querendo ver a onda chegar”. Assim uma de nossas amigas definiu o
produto mais avançado da criação divina na face da Terra. A permanente
expectativa da “onda”, por ela referida, refere-se ao nosso mundo voltado para
as sensações, para o resultado dos sentidos externos.
A necessidade de repetir as sensações
prazerosas fundamenta o nosso mundo de desejos. Sensações, contudo, têm começo
e fim. Daí o sentimento unânime de que a felicidade ou é algo impossível de
alcançar, ou efetivamente se resume em apelos mercadológicos como “Compre este
carro e leve a felicidade para casa”. Ou “encontre a felicidade neste
hambúrguer”.
O poder, contudo, não tem começo nem
fim, como um atributo completo em si mesmo. Não deriva do desejo, mas da
Vontade. E, como ela, não é uma meta externa estabelecida, é um estado de espírito,
crescendo com o gradativo domínio de nossos desejos e busca de sensações.
Poder – com “p” maiúsculo – é o
atributo máximo do Espírito. Em essência, é o que viemos buscar no trato com as
coisas do mundo, desenvolvendo-o na medida em que compreendemos o próprio
mundo, a partir de sua realidade dentro de nós. Começa com aquela pequenina
“sensação de poder” que temos, por exemplo, quando um vício é suplantado.
Segundo Lindemann & Oliveira[2],
“É conhecido o fascínio que o ser humano tem pelo poder e as mórbidas
‘necessidades’ daí decorrentes. Talvez seja mesmo a vaidade e o anseio pelo
poder que criem todo esse cruel panorama no mundo. Curiosamente, essa ‘necessidade’
de impor a sua vontade e exercer o poder sobre os outros se apresenta, de modo
geral, diretamente proporcional à incapacidade de o ser humano dominar-se a si
mesmo. Pode haver maior contradição?”
O poder sobre esse nosso mundo
interno é o único verdadeiro e, portanto, o único que perdura, pois não depende
dos outros. É um daqueles tesouros que os “ladrões não roubam e nem a traça
corrói”, como mencionado na Bíblia. Justamente por essa condição, é também o
desafio mais difícil, segundo o filósofo Tales de Mileto, resumindo-se na
célebre frase “Conhece-te a ti mesmo, e conhecerás o Universo e os deuses”.
Ainda
segundo Lindemann & Oliveira, “O ideal da filosofia platônica, como teria
considerado Sócrates, era que o homem se tornasse senhor de si mesmo, após ter conhecido a si próprio”.Também
o Bhagavad-Gita; épico da literatura hindu, pela boca de Krishna sentencia: “Mais
glorioso não é quem vence em batalhas milhares de homens, mas sim quem vence a
si mesmo”.
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