Walter da Silva Barbosa[1]
A frase é de Rohit Mehta[2]. O
que significa não ver os opostos? É alimentarmos contradições em nossa fala,
atos e pensamentos, achando isso normal, sem perceber ou se importar com o fato
de que uma coisa anula a outra. Trata-se da mente obtusa, mergulhada na luta dos
opostos, o que é a essência do ego.
Considerando que fazemos essa
confusão o tempo todo – desejando viver e alimentando vícios, falando de amor e
praticando a agressão física ou verbal, gastando em guerras o que daria para
resolver a desigualdade no mundo – concluímos que o estado da mente obtusa predomina
na humanidade, não importando o avanço do país.
Apesar de natural que seja assim –
pois atingimos pouco mais que a metade da evolução humana, sendo o conflito um
dos elementos do processo – o sábio Patânjali[3]
nos adverte: “O sofrimento que não veio é aquele que pode ser evitado”.
Entre as fábulas de Esopo,
narra-se a história de uma ovelha que estava bebendo água no rio quando o lobo
apareceu. De dentes à mostra ele se pôs a berrar:
- Sua ovelha porcalhona, vou
devorá-la por sujar a água que estou bebendo.
- Como posso sujar sua água se
estou mais abaixo que o senhor?
- OK – disse o lobo, tratando de
achar outra justificativa – então vou devorá-la porque soube que no ano passado
você falou mal de mim.
- Como posso ter falado mal de
você se no ano passado eu nem tinha nascido? Tenho apenas seis meses.
- Se não foi você, foi seu irmão.
- Como pode ser meu irmão se sou
filha única?
Já impaciente, vendo que a
conversa ia longe demais para seu gosto, o lobo berrou furioso:
- Se não foi você, foi seu pai,
ou sua mãe, ou seu avô, ou alguém da sua família e, NHAC, devorou a ovelha num
bocado.
Obviamente o lobo poderia ter
simplesmente chegado e abocanhado a ovelha, como de fato acontece no mundo
animal, não necessitando o predador de subterfúgios para engolir sua presa.
Isso é coisa da condição humana, onde a vida em sociedade – pela dependência
que nos une – procura encobrir intenções injustas ou desonestas sob o argumento
da justiça e da honestidade, enquanto mantém a convivência e a supremacia do
ego. É a lei material da vantagem em tudo.
Porém, o que vai ficar registrado
nas contas do carma é aquilo que a intenção
tem em vista. “Com Deus não se barganha” diz o apóstolo Paulo. A medida mais
próxima de Deus é nossa própria consciência, que jamais se engana.
Não conseguir enxergar os opostos
é fruto da natureza reativa da mente. A reatividade nos leva cegamente de um ponto
de apego a outro, sob o jogo da atração e repulsão, tornando a mente obtusa.
Por ela mesma não há como mudar isso. Vai ser sempre o lobo devorando a ovelha.
A fim de que saia desse estado para o de mente alerta, uma decisão terá que
partir de nós. Nós quem? O espírito – nosso eu
real – que é o verdadeiro dono do corpo, das emoções e da mente (lugar hoje
ocupado pelo ego).
Essa condição de “dono” para o
espírito surge aos poucos, como essência do processo evolutivo. Quanto mais
dominamos nossos corpos por meio do autoestudo, da consciência sobre atos e
pensamentos, da pureza progressiva – trabalhando energias de desapego,
veracidade e amor – mais colaboramos para que o espírito tome conta dos corpos,
eliminando as contradições que são fontes de engano e sofrimento.
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