terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A mente obtusa não vê os opostos, mas a alerta, sim


Walter da  Silva Barbosa[1]
A frase é de Rohit Mehta[2]. O que significa não ver os opostos? É alimentarmos contradições em nossa fala, atos e pensamentos, achando isso normal, sem perceber ou se importar com o fato de que uma coisa anula a outra. Trata-se da mente obtusa, mergulhada na luta dos opostos, o que é a essência do ego.

Considerando que fazemos essa confusão o tempo todo – desejando viver e alimentando vícios, falando de amor e praticando a agressão física ou verbal, gastando em guerras o que daria para resolver a desigualdade no mundo – concluímos que o estado da mente obtusa predomina na humanidade, não importando o avanço do país.

Apesar de natural que seja assim – pois atingimos pouco mais que a metade da evolução humana, sendo o conflito um dos elementos do processo – o sábio Patânjali[3] nos adverte: “O sofrimento que não veio é aquele que pode ser evitado”.

Entre as fábulas de Esopo, narra-se a história de uma ovelha que estava bebendo água no rio quando o lobo apareceu. De dentes à mostra ele se pôs a berrar:
- Sua ovelha porcalhona, vou devorá-la por sujar a água que estou bebendo.
- Como posso sujar sua água se estou mais abaixo que o senhor?
- OK – disse o lobo, tratando de achar outra justificativa – então vou devorá-la porque soube que no ano passado você falou mal de mim.
- Como posso ter falado mal de você se no ano passado eu nem tinha nascido? Tenho apenas seis meses.
- Se não foi você, foi seu irmão.
- Como pode ser meu irmão se sou filha única?
           
Já impaciente, vendo que a conversa ia longe demais para seu gosto, o lobo berrou furioso:
- Se não foi você, foi seu pai, ou sua mãe, ou seu avô, ou alguém da sua família e, NHAC, devorou a ovelha num bocado.

Obviamente o lobo poderia ter simplesmente chegado e abocanhado a ovelha, como de fato acontece no mundo animal, não necessitando o predador de subterfúgios para engolir sua presa. Isso é coisa da condição humana, onde a vida em sociedade – pela dependência que nos une – procura encobrir intenções injustas ou desonestas sob o argumento da justiça e da honestidade, enquanto mantém a convivência e a supremacia do ego. É a lei material da vantagem em tudo.

Porém, o que vai ficar registrado nas contas do carma é aquilo que a intenção tem em vista. “Com Deus não se barganha” diz o apóstolo Paulo. A medida mais próxima de Deus é nossa própria consciência, que jamais se engana.

Não conseguir enxergar os opostos é fruto da natureza reativa da mente. A reatividade nos leva cegamente de um ponto de apego a outro, sob o jogo da atração e repulsão, tornando a mente obtusa. Por ela mesma não há como mudar isso. Vai ser sempre o lobo devorando a ovelha. A fim de que saia desse estado para o de mente alerta, uma decisão terá que partir de nós. Nós quem? O espírito – nosso eu real – que é o verdadeiro dono do corpo, das emoções e da mente (lugar hoje ocupado pelo ego).

Essa condição de “dono” para o espírito surge aos poucos, como essência do processo evolutivo. Quanto mais dominamos nossos corpos por meio do autoestudo, da consciência sobre atos e pensamentos, da pureza progressiva – trabalhando energias de desapego, veracidade e amor – mais colaboramos para que o espírito tome conta dos corpos, eliminando as contradições que são fontes de engano e sofrimento.  


[1] Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência-UNICONS.
[2] MEHTA, Rohit. “Yoga – a Arte da Integração”, Editora Teosófica.
[3] I.K.Taimni. “A Ciência do Yoga”, Editora Teosófica.

Nenhum comentário: