terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Limite para os filhos: restrição ou crescimento?

                                                                                                       Walter da Silva Barbosa(*)
Sob autoria de Ivan Hartmann, o texto abaixo oferece novas reflexões sobre a questão da liberdade. Por que ela nos é tão cara? Por embasar a própria consciência. Apesar de não ocupar espaço – por situar-se além da forma – em confinamento a consciência não se expande, dependendo de contatos livres de medo com o mundo. É assim que acumulamos a bagagem do “Filho Pródigo”, a ser depositada aos pés do Eterno ao final de nossa jornada no reino humano. Porém, quando não há limite nesse processo, o que ocorre?

 “Contam como verdade”, inicia Hartmann. “Em um grande supermercado de Novo Hamburgo, na fila do caixa, um senhor era atormentado pelo carrinho de trás. Empurrado por um menor sob o olhar complacente da mãe, o carrinho tinha como alvo as canelas do infeliz cliente. Com justa irritação, após várias batidas, o homem virou-se para reclamar da postura do menino. E ao dialogar com a mãe do garoto, chamou a atenção dos demais presentes. Longe de simplesmente agradecer e tomar as providências que o caso merecia, a mulher saiu-se com esta: – Meu filho ainda é pequeno e estou criando ele com liberdade!”.

Qual o efeito desse ponto de vista na formação da criança? Estamos preparando-a para uma vida em paz com os outros e consigo mesma, ou para o conflito permanente, onde a liberdade – em lugar de crescer – pode terminar no cárcere? Conforme noticiado no portal do “Yahoo”, o caso adiante pode responder essa pergunta.

“O estudante de desenho industrial Vítor (...) foi espancado na madrugada desta quinta-feira (02/02/12), na Ilha do Governador, Rio de Janeiro,  ao tentar proteger um mendigo que estava sendo agredido a chutes por cinco jovens. Vítor está internado com fraturas na face em uma clínica particular e terá que ser submetido a uma cirurgia”. A questão foi parar na polícia, com o reconhecimento e captura dos agressores.

Ocorrências desse tipo sempre voltam ao noticiário. Onde foram aprendidas? Nos próprios lares. Nesta situação – aprofundando o que Blavatsky**  chama de “heresia da separatividade” – pais e mães estabelecem com sua prole uma relação de indiferença quanto ao resto do mundo. Limites? Nem dentro de casa. “Criança vê, criança faz”. E criança frequentemente vê muito mais do que imaginamos.

Quanto ao caso relatado por Hartmann, como finalizou? Um senhor na fila, atrás daquela mãe despreocupada, “sem maiores delongas, abriu a embalagem de ovos que levava, tirou um deles e encostou-o na cabeça da distinta dama, esmagando-o”. A mulher virou-se para trás aos gritos: “Mas o que o senhor está pensando?”. O homem respondeu: “Minha senhora, eu também fui criado com liberdade”.

Pode-se imaginar o caos no interior daquela mãe, com seus cabelos pingando clara e gema de ovo, tendo ainda que enfrentar os aplausos dos presentes? Magoada e furiosa, abandonou o carrinho de compras e saiu correndo para o estacionamento, puxando pela mão um garoto assustado, sem entender nada. Seu destino pode ter tido melhor direção a partir dali. Pelo sofrimento, o mundo corrige a omissão dos pais.

Se em confinamento a consciência não se expande, sem limites – e sob domínio do ego – a inconsciência predomina. Tendemos a embrutecer, extravasando em confusão, agressividade e quiçá na experiência mortal das drogas. Cabe-nos encontrar o “caminho do meio”, construindo-o na inspiração amorosa da própria consciência.
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(*) Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.
(*) BLAVATSKY, Helena P. "A Voz do Silêncio", Editora Teosófica.

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