Walter da Silva Barbosa[1]
Ante
qualquer resistência, sempre pensamos que pelo uso da força resolvemos nossos
problemas e, por extensão, os problemas do mundo. Ao longo dos tempos, o medo
tem sido o instrumento básico para gerar obediência, sendo substituído pela
propina quando a violência não é possível, ou não é desejável. Quantas vezes, a partir dos lares, a chantagem tem ocupado o lugar da consciência em nossas relações?
O que
representa a obediência? Subordinação do ego, determinando sua renúncia ao
livre-arbítrio. Quando a obediência é imposta, vindo de fora para dentro, essa
renúncia é temporária – dependendo da presença de quem coage – porque fermenta a
revolta, o desejo de fuga e revide naquele que obedece. É uma questão de
tempo, sob influência da “re-atividade”, que é a atividade moldada na energia
do passado.
Se,
entretanto, a obediência vem de dentro para fora, como aceitação de um fato – mesmo ante a violência externa – a revolta é
substituída pela paz. É um sentimento de anuência ao fluxo ininterrupto da
vida, que inclui o dedo invisível mas onipresente do Carma. O passado morre
aí, eliminando a reatividade e a guerra dos egos, que vai desde a necessidade diária de ganhar discussões, de estar sempre certo, até os conflitos mundiais.
Quando a
obediência é gerada em nosso interior, seu berço é a consciência. Nesse caso, o
eu pessoal (ego) está abrindo lugar ao Ser. Por meio dessa abertura, o novo
começa a surgir à nossa volta. É um grande salto, pois a energia da
separatividade – defendendo o patrimônio do ego –
tem alergia à convivência com aquilo que busca unir, transcendendo as barreiras de segurança. Nada é mais temível que o novo, pois coloca em risco o status
acumulado em torno de uma pessoa ou sistema. Para a matéria “qualquer tipo de
concessão representa a morte” (literalmente, a morte do ego).
Enquanto
a aceitação se baseia no Ser, a reatividade é fruto da mente. Para Mehta[2],
todos os pensamentos são reativos, como energias do passado. Em razão disso,
não são capazes de solucionar conflitos, apesar das montanhas de
dinheiro gastas nessa tentativa pelos governos em todo o mundo. Agindo sobre a
projeção de nossos problemas, esses esforços são puramente mentais, e
a habilidade da mente se resume em criar problemas e não em eliminá-los, como lembra Tolle[3].
A verdade
a esse respeito é constatada em nosso dia a dia. No seio das famílias os
conflitos se arrastam interminavelmente, sob o impulso da energia de ontem.
Esse é o espaço-tempo do ego. Fora disso ele não vive. Em compensação, enquanto
ele vive, lentamente definhamos como Ser, apagando a energia de vida que só
encontra expansão no agora. Essa é a magia da criança, onde o novo é descoberto
a cada instante, sob o impulso da imaginação desprovida de medos.
A
divisão de nossa realidade entre “Ser” (eu superior) e “ego” (eu inferior),
como estabelece a filosofia esotérica, explica nossa dualidade consciencial. A
ela se refere o apóstolo Paulo quando diz "Não faço o bem que quero, mas o
mal que não quero esse faço".
Gerada na dualidade espírito-matéria e refletida na própria mente – uma sutil, ligada ao espírito, outra mais densa, ligada à matéria – tal divisão é no entanto fictícia para Maharshi[4]. Segundo ele, a única coisa existente é o Ser. Tudo que interessa é chegar a essa realidade, num movimento que não precisa ir a lugar algum para fazer seu trabalho: triturar o ego e seus conflitos, decantando no fundo da bateia a gema radiante da sabedoria, pelas mãos do Divino Garimpeiro. Trata-se apenas de mudança vibratória, focando permanentemente nossa atenção naquilo que é mais elevado.
Estando, porém, identificados com a ilusão das posses e dos sentidos físicos, no campo mais grosseiro da mente, nos encantamos com a forma, o cheiro, o sabor. Tudo isso passa, como bem sabemos. Mas é tal identificação que cria o ego. Ainda que considerado um "falso eu", ele origina dores bem verdadeiras em nosso caminho, sendo o autor de todas as atrocidades cometidas no mundo.
A saída para o dilema pode estar na expressão "Orai e vigiai" ensinada pelo Cristo. Orar é buscar a comunhão com o Ser, criando a vibração do retorno. Meditar é uma das chaves para isso. Estar no Agora (a meditação permanente) é outra, pondo atenção plena em tudo que fazemos, como canais do Eterno. A partir daí, vigiar é estar consciente dos pensamentos e sentimentos, como reflexos dos movimentos da vida, encontrando a solução dos problemas segundo a "melhor ordem" do amor.
Gerada na dualidade espírito-matéria e refletida na própria mente – uma sutil, ligada ao espírito, outra mais densa, ligada à matéria – tal divisão é no entanto fictícia para Maharshi[4]. Segundo ele, a única coisa existente é o Ser. Tudo que interessa é chegar a essa realidade, num movimento que não precisa ir a lugar algum para fazer seu trabalho: triturar o ego e seus conflitos, decantando no fundo da bateia a gema radiante da sabedoria, pelas mãos do Divino Garimpeiro. Trata-se apenas de mudança vibratória, focando permanentemente nossa atenção naquilo que é mais elevado.
Estando, porém, identificados com a ilusão das posses e dos sentidos físicos, no campo mais grosseiro da mente, nos encantamos com a forma, o cheiro, o sabor. Tudo isso passa, como bem sabemos. Mas é tal identificação que cria o ego. Ainda que considerado um "falso eu", ele origina dores bem verdadeiras em nosso caminho, sendo o autor de todas as atrocidades cometidas no mundo.
A saída para o dilema pode estar na expressão "Orai e vigiai" ensinada pelo Cristo. Orar é buscar a comunhão com o Ser, criando a vibração do retorno. Meditar é uma das chaves para isso. Estar no Agora (a meditação permanente) é outra, pondo atenção plena em tudo que fazemos, como canais do Eterno. A partir daí, vigiar é estar consciente dos pensamentos e sentimentos, como reflexos dos movimentos da vida, encontrando a solução dos problemas segundo a "melhor ordem" do amor.
Sem
substância real – como o próprio ego – são nossas disputas em torno dele. Quanto
mais depressa admitirmos isso, segundo os Mestres, mais rapidamente abandonaremos o círculo da
ignorância e do sofrimento, elevando nosso campo vibratório pelo serviço
altruísta, pela purificação física, emocional e mental, permitindo que Deus em
nós se manifeste através desse campo. Buda resume isso na seguinte frase:
“Deixar de fazer o mal, fazer o bem, purificar a mente – tal é o ensinamento
daqueles que despertaram”.
[1]Membro
da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.
[2]
MEHTA, Rohit. “Yoga – a Arte da Integração”, Editora Teosófica.
[3]
TOLLE, Eckhart. “O Poder do Agora”, Editora Sextante.
[4]
MAHARSHI, Ramana. “Os Ensinamentos de Ramana Maharshi em suas palavras”,
Editora Advaita.
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