Walter S. Barbosa (*)
Revivendo uma perplexidade
antiga, no dia 11 de março deste ano um religioso americano queimou o Alcorão
em praça pública, gerando protestos e mortes no Paquistão, contra os próprios
paquistaneses.
Tendo se tornado a primeira
república islâmica do mundo em março de 1956, o Paquistão é 96% muçulmano. Tal população
rivaliza-se, porém, entre sunitas e xiitas (minoritários) por discordância sobre
quem são os legítimos sucessores de Maomé.
Vitimando tais rixas seus
próprios crentes, o mundo se perguntou sem entender nada: qual a ligação com o
ato impensado do religioso americano? Difícil encontrar em termos lógicos, até
porque a relação entre a violência e a lógica está mais nos domínios da
psiquiatria. À loucura de um lado respondeu-se com outra, não restando dúvidas
quanto à motivação bem terrena para o sangue derramado em nome de Alá.
Enfocando um reduto mais a oeste,
a Palestina, Voltaire Schilling escreve: “Se a
região, sob o ponto de vista econômico, material, foi sempre modestíssima, não
tendo minas de ouro ou de mármore, nem sequer poços de petróleo (...), o mesmo
não se aplica ao que ela representou na imaginação religiosa e sobrenatural dos
homens. Não há, nem nunca houve, em mais de cinco mil anos de história, um
território tão disputado e tão conflagrado como a área da Palestina e do antigo
Reino de Israel”.
A questão religiosa, que deveria
unir as pessoas, sempre esteve entre as mais freqüentes para conflitos, sendo
incontáveis as campanhas guerreiras sob a figura do Cristo, que só tem por
bandeira o amor. Tal contradição é uma identidade comum nas relações do homem
com a busca da verdade, a partir do fato de que ela se encontra nele próprio, o
que a torna o tesouro mais bem escondido do mundo.
Se a verdade não estiver dentro
do homem não está em lugar algum porque, seja no homem ou fora dele, nada surge
do nada. De outra forma seria um milagre, e este só ocorre na limitação de
nosso juízo, vendo causas extraordinárias naquilo que desconhecemos. O universo
é regido por leis imutáveis, como ocorre no fenômeno da eletricidade. Nisso é
que se baseia todo o trabalho da Ciência.
Só assimilamos de fora o que já
tem raiz em nosso âmago, num processo de gradativa “expansão” da verdade – ou
seja, da consciência – como acontece na brotação da uma semente. Tudo está
dentro dela, e vai surgindo na medida em que fatores externos, como a luz do
sol e a água, exercem os estímulos certos.
Diante disso, a existência de
religiões em si é um grande paradoxo, envolvendo edificações suntuosas,
rituais, sacerdotes e outros intermediários para aquilo que, a rigor, não
necessita de intermediação alguma. Porém, como poderia o homem sem ajuda
externa descobrir a verdade que é ele mesmo? Não pode, ao menos enquanto seu
aprendizado é tão dependente dos 5 sentidos, daquilo que ouve, daquilo que vê.
É pelos relacionamentos que o
homem se conhece, usando a mente que está voltada para fora, examinando o
mundo. Por meio desse espelho, e aprendendo a voltar-se para dentro, cada um pode encontrar o Self ou Deus Interno,
sob a armadura do ego. Essa condição parece estar na essência do universo, onde
o Criador – manifestado em seus múltiplos pedaços, como ensina o épico hindu
Bhagavad-Gita – descobre a si mesmo em cada criatura. Pelo ponto de vista da criatura, é o que chamamos de "iluminação".
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