Walter da Silva Barbosa[1]
O ego – nossa
parte humana, em oposição à espiritual – quer sempre estar certo como garantia
de sobrevivência. Mesmo quando sua posição vai contra as leis o ego encontra
meios de justificar-se, até contando com a proteção divina, “Graças a Deus”.
Exemplo disso é o
vídeo intitulado “Profissão ladrão”, onde um jovem de 30 anos classifica sua atividade
como fonte de emprego para o repórter que o entrevista, além do delegado, policiais
e a estrutura do judiciário. Todos estariam desempregados sem sua colaboração.
Quanto às pessoas prejudicadas, a resposta é rápida e de certo modo original: “São
mais pecadores do que eu, do contrário Deus não permitiria”.
A mente é a
raposa que guarda o galinheiro. A raposa, naturalmente, é o ego. Nessa
condição, quando é possível ele estar certo?
Segundo Tolle[2]
“Estar certo é tornar o outro errado” ou, no mínimo, cúmplice do erro. O jovem
do vídeo não faz outra coisa. Mesmo aparentando ter pouca ou nenhuma instrução,
seus argumentos o deixam perfeitamente à vontade. Do que são capazes então, as
mentes buriladas em argumentos refinados, sutileza e astúcia?
“Queixar-se,
assim como encontrar erros nos outros ou assumir uma atitude reativa, fortalece
o sentido de limite e de separação característico do ego e do qual ele depende
para sobreviver. Mas todas essas ações também o reforçam de outra maneira,
dando-lhe uma sensação de superioridade que o faz se expandir”.
A reatividade
movimenta as águas do passado. Nada de novo nisso, pois o ego é a própria cara
do passado, construída desde nossa infância quando os primeiros traços do “eu”
e do “meu” surgiram com o nome e o primeiro brinquedo que ganhamos. Quanto
esforço não fazem os pais, a fim de evitar que a inveja entre irmãos acabe em
brigas e até ressentimentos para toda a vida? Daí em diante o patrimônio do ego
não cessa de crescer, englobando, além dos tesouros materiais, os psicológicos –
como pontos de vista e julgamentos – decerto mais arraigados e difíceis de
superar em razão da invisibilidade.
“O ego leva tudo
para o lado pessoal. Surge a emoção, assim como a atitude defensiva, talvez até
a agressão. Estamos defendendo a verdade? Não, a verdade nunca precisa de
defesa. Nem a luz nem o som se importam com o que eu, você ou qualquer outra
pessoa pense. Estamos protegendo a nós mesmos ou então a ilusão de nós mesmos,
o substituto produzido pela mente”, diz Tolle.
Em relação a determinada
coisa, qual a distância entre nossa opinião e o fato que ela representa? A
própria opinião, que nada tem a ver com a coisa. “O ego é sempre um mestre da
percepção seletiva e da interpretação distorcida. Apenas por meio da consciência
– e não do pensamento – somos capazes de diferenciar entre fato e opinião.
Somente por intermédio da consciência uma pessoa consegue ver o seguinte: esta
é a situação e aqui está a raiva que sinto dela”. Quando conseguiremos chegar a
isso?
Na condição
separatista que o alimenta, o ego jamais pode estar certo. A verdade que ele busca
– e pela qual pode injuriar, matar – não depende de qualquer autoridade ou elemento
externo para existir: é Deus, nosso próprio Ser. Assim, o que o ego defende?
Algo tão condenado à extinção como ele mesmo: apenas um ponto de vista. Nada
mais que “um punhado de pensamentos”.
2 comentários:
explicado de forma simples e clara.
explicado de forma simples e clara.
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