terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Estamos todos condenados a envelhecer?


Walter da Silva Barbosa[1]
Muitas vezes tenho refletido sobre a questão da velhice. Em parte, naturalmente, porque dela me aproximo. Seria um estado do corpo ou da alma?

Conheci um senhor que durante a vida inteira fora muito ativo, realizador no sentido material, e também muito vaidoso por isso. Para externar essa vaidade, sempre necessitou de platéias, contando-lhes repetidamente histórias carregadas de valores do “ego”: autoridade, valentia e superação dos outros. Aos 92 anos, porém, as forças e a memória haviam decaído muito, enquanto a “platéia” se reduzira a ele próprio. Uma experiência inteiramente nova bateu-lhe à porta. Seu nome? Solidão.
           
A alma, como ensina a Teosofia, não nasceu com o corpo. É milenar. As diferenças entre os homens não são apenas uma questão de idade física ou oportunidades desta vida. Além de, provavelmente, termos entrado no reino humano em épocas diferentes, seguimos caminhos determinados por nossas escolhas (e pelo carma conseqüente). Milhares de anos de experiência podem separar um homem do outro, apesar de estarem vivendo lado a lado.
           
Quanto aprendemos em cada encarnação? Depende, em grande parte, da maturidade com que entramos nela. Apesar de os fatos desta vida praticamente nos igualarem em termos de oportunidades de consciência das famílias carnais às “comunitárias” aqueles mais adiantados naturalmente aprendem mais rápido, pois “consciência chama consciência”. Assim, o significado da velhice também difere para cada um de nós.

Quantas senhoras e cavalheiros perseguem inutilmente a juventude esticando peles ou entornando “Viagras” ao passo que outros, menos dependentes do brilho do “ego”, envelhecem com serenidade, colhendo os suaves frutos que só a maturidade pode oferecer?

A Dra. Burkhard[2], médica antroposófica, escreve sobre as experiências próprias dessa fase extraordinária da vida, onde normalmente não mais sofremos as pressões da sobrevivência ou da reprodução da espécie, mas, em compensação, o corpo também já não responde como antes, libertando energias dos músculos, do sistema digestivo e do baixo ventre (levando à menopausa e à andropausa). Ela diz: “A liberação de forças desses órgãos possibilita uma nova criatividade, que cada um tem de achar por si numa área que lhe seja conveniente”.

Tal criatividade pode estar voltada para o exterior, aí surgindo “os últimos impulsos para a realização do carma”, mas “essa criatividade pode dirigir-se também para o íntimo, ao olharmos para nossa oficina interior e descobrirmos novas obras que possam ser buscadas lá dentro”. Realizações internas! Eis o que a vida parece estar nos pedindo, ao menos quando o tempo das realizações externas concretamente se findou.

Parecendo um tesouro, o ego (eu material) na verdade é prisão ingrata, cujos muros não conseguimos enxergar. Relembrando aquele senhor, vê-se que superara muitos homens ao longo da vida, mas chegava ao fim sem conseguir vencer seu maior inimigo: ele mesmo. A solidão o engolia por estar centrado no “eu” sedento de poderes (aqueles que só existem se houver o “outro”). Sua identidade era prisioneira do “outro”, mas também das armas para “vencê-lo”: o corpo e a memória. Estando estes decadentes, o que lhe restava?

Aceitar o envelhecimento não significa encarquilhar-se com o corpo. Temos na alma muitíssimo mais idade do que no corpo, mas enquanto este se enruga, ela não. Identificando-nos com a alma, vemos no “outro” um companheiro de jornada ao invés de adversário e no corpo aquilo que ele é: um acessório com suas próprias leis. Deixamos então que siga seu caminho, enquanto seguimos o nosso. Ele é pó, nós somos consciência.

[1] Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência – UNICONS.
[2] BURKHARD, Gudrun, “Livres na Terceira Idade”, Editora Antroposófica.

Nenhum comentário: