Walter S. Barbosa[1]
Segundo o
teósofo I. K. Taimni[2],
o maior problema do mundo é a ignorância, significando esquecimento de nossa
natureza divina. Daí confundirmos essa natureza com o corpo de carne e sua
condição mortal. Baseada na vida separada do ego, essa confusão origina o maior
medo – perda do corpo e seus atrativos – sustentando o maior desejo, ainda que
inconsciente: recuperar o sentimento de imortalidade e comunhão com toda vida, simbolizada
no “paraíso”.
Conforme a
gênese bíblica, no paraíso desfrutávamos de “intimidade” com Deus, significando
a existência em corpos etéricos (primeiras raças humanas), sem percepção do mundo
físico. Na terceira raça-raiz, ao descer
para os planos materiais mais densos (fato lembrado como “A Queda dos Anjos”), entramos
no “conhecimento do bem e do mal”, esquecendo a plenitude daquela união. Formou-se
então a mente concreta e o falso eu que ela sustenta, chamado ego, com as lutas
e sofrimentos decorrentes.
Em compensação
(elas sempre chegam para o sacrifício evolutivo), abriu-se diante de nós – centelhas
divinas em corpos humanos – a oportunidade de conhecer e dominar a matéria,
transformando em poderes e virtudes os defeitos gerados pelo ego. Com isso,
reduz-se também a dualidade “bem e mal” em nossa natureza (atração e repulsão),
trazendo de volta a unidade perdida. Ela vem acrescida, porém, de algo que não
tínhamos no “paraíso”: a consciência do Poder de Deus, habilitando-nos a criar
em todos os planos onde a vida se manifesta (o destino do homem, segundo a
teosofia, é tornar-se um Logos ao fim de sua evolução).
A Lei ou Princípio
da Unidade é a origem da verdade, sendo Deus o ponto focal da consciência
presente em tudo. Fora
dele, o que chamamos verdade é somente um “punhado de pensamentos”, com
capacidade para gerar tragédias imensas. A partir dos conflitos familiares, todos
se baseiam nisso. A verdade não julga, não condena, não mata. A verdade não se
vale de dogmas. Não tem preferência de qualquer natureza: povos, religiões ou
pessoas. A verdade não tem lados. É a própria Vida Una, fundamentada no Amor,
na Lei do Sacrifício.
Sendo a ausência
da verdade a base dos conflitos, e querendo evitá-los, que indicação temos para
isso? Além de ser a Vida Una a fonte natural da verdade – levando-nos a rever comportamentos
egoístas, inclusive quanto às plantas e animais – uma expressão utilizada por Eckhart
Tolle[3]
designa a verdade como “aquilo que é”.
Qual o
significado da frase? È indicar a condição da realidade, seja como permanência
ligada ao Ser, seja como um fato de nossa natureza inferior (raiva, orgulho,
inveja) que devemos reconhecer – pondo consciência nele – se quisermos mudar.
Assim, “aquilo que é” lembra também a consciência possível neste momento, condicionada
pela qualidade da energia presente em nossos corpos: “Cada um faz o que pode e
dá o que tem”.
Nesse contexto,
onde fica a “nossa verdade”? Estando carregada de frustração, raiva, separatividade,
é mero esguicho de pensamento. Como fato, trata-se de uma mentira, com potencial
destrutivo proporcional à sua distância da realidade e à nossa convicção sobre
ela, quase sempre motivada pelo orgulho. “A mente é assassina do real”, diz Helena
Blavatsky[4].
A verdade nunca
é o que pensamos que ela seja. Razão
óbvia: qualquer pensamento é interpretação de nossas memórias. Rohit Mehta[5]
diz que onde entra o pensamento, entra a impureza. Conhecemos a verdade apenas quando
isolamos a mente do processo, levando o fato – pelo “observador” em nós – direto
à consciência. Purificada nesse trabalho, a mente age então como ponte de luz entre
o espírito e a matéria, trazendo justiça e paz a este mundo.
Assim, a maior chance de nos
aproximarmos da verdade, em qualquer situação, é abandonar a tentação do
julgamento. Como sinal de consciência, esse importante esforço abre caminho
para a renúncia do ego quanto à “sua” verdade – espada com que tem vitimado inimigos
reais ou imaginários em todas as épocas – possibilitando que a verdade possa efetivamente
brotar, como água cristalina, do fundo do nosso coração.
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