Walter da Silva Barbosa[1]
Sem dúvida, o melhor presente que
poderíamos desejar a alguém é mais consciência, colocando nós mesmos no topo da
lista (em geral, achamos que os outros precisam mais). Contudo, ninguém recebe
isso de presente.
Misteriosa como todos os dons
divinos, a consciência é um processo interno que depende do externo
(relacionamentos); deve ser buscada com ardor e deixada de lado (o espírito não
está sob controle); é pessoal como experiência, mas vai além do eu pessoal
(ego), sendo ele um obstáculo e também nossa ferramenta neste mundo.
Tanta contradição explica porque
homens santos são uma raridade, mostrando ainda a causa de nossos conflitos. O
maior deles – tendo por trás a maior dádiva – é desejarmos paz buscando agitação,
tentando preencher o buraco deixado em nós pela alegria dos tempos em que “Deus
falava com os homens” (primeiras raças). Ante os barulhos mentais a paz é algo insuportável,
o que nos torna indisponíveis para o paraíso que sonhamos.
Consciência é um processo em expansão. Não
depende de ser criada, forçada, imaginada. Só podemos abrir-lhe caminho com emoções
e pensamentos puros, onde a agitação não tem morada. “Des-envolver” é tirar o véu
de algo que está escondido.
No reino mineral, a consciência é
inteligência nos átomos, onde a união polarizada das partículas (assemelhando-se
ao jogo sexual humano) gera elementos químicos e substâncias. No reino vegetal,
animal e humano a consciência dá vida às células, formando os corpos que
habitamos. Enfim, no reino humano ela é o espírito individual em cada um (daí,
a expressão indivíduo, ou indiviso), pronta
para “des-envolver” nele o potencial do Pai. É o coroamento da evolução nos
reinos da natureza, representada nessas três fases – sob ação de três energias[2] –
pelo ensinamento da trindade egípcia: Hórus (filho), Ísis (mãe) e Osíris (pai).
Deus presente em tudo: no planeta, em nossos corpos, em nossa consciência.
Como desenvolver o potencial de
Deus em nós? Na condição de processo natural, fazemos isso todo dia por meio
dos relacionamentos, só que muito devagar, ao longo de milhões de anos.
Trata-se de um ponto extremamente concentrado de consciência[3],
pois o universo está ali. Os portões que
levam a ele - a mente infinita, abstrata - devem ser abertos para que aconteça a
iluminação, a vida plena da consciência. Porém, a mente concreta (com que operamos
no dia a dia) está presa aos cinco sentidos, voltada para fora, bloqueando o
acesso à mente infinita com apegos, cristalizações, preconceitos.
Para saída desse labirinto os
dois principais atalhos são conhecimento e amor. O primeiro leva-nos a conhecer
nossa natureza real. As resistências do intelecto são quebradas, capacitando-nos
a desvendar os segredos do universo nas asas da mente infinita. Já o amor –
conectando-nos aos Mestres – põe abaixo qualquer obstáculo, além de purificar-nos.
Ao final, esses dois caminhos se fundem no amor-sabedoria, livre de medo e egoísmo.
Às vezes citado como fonte de
consciência, o sofrimento tem esse efeito apenas se o aceitamos como resultado
da ignorância, sem revolta. Ninguém dá mais do que tem. Isso leva à compreensão
das falhas nossas e dos outros, o que é compaixão.
Assim, o sofrimento pode criar uma manifestação de amor.
Em virtude de seu “raio”, algumas
pessoas tendem para o trabalho mental e outras para a senda do coração. Umas
têm mais aptidão para o cálculo (ciências exatas, “como as coisas funcionam”),
outras para se relacionar (ciências humanas, “como as pessoas funcionam”), que
são tendências naturais no homem e na mulher. Encarnações alternadas em sexos opostos
contribuem para nos levar um dia à condição de homens e mulheres perfeitos,
vivendo relacionamentos perfeitos, em direção à família cósmica.
Em qualquer caso, a prática da meditação na senda do Yoga é ajuda essencial, fazendo a mente interiorizar-se, aplicando preciosas energias no ponto ultraconcentrado de consciência que é Deus em nós, a fim de desdobrar esse ponto, tirar seus véus. Segundo os Mestres, ele reside em nosso coração. Possamos nós em 2012 estar mais perto das soluções apontadas por ele – com entrega, sinceridade, aceitação, contentamento – e assim mais perto do Pai.
[1] Membro
da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência – UNICONS.
[2] Fohat, prana e kundalini (sânscrito),
cfe. H.P. Blavatsky, em “A Doutrina Secreta”, Editora Pensamento.
[3]
I.K.Taimni, “O Segredo da Autorrealização”, Editora Teosófica.
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