terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A educação religiosa

                                                                                                                    Radha Burnier (*)
Normalmente a educação religiosa é reconhecida como sectária, ensinando as tradições de determinada religião e inculcando dogmas e princípios específicos desta religião, promovendo assim atitudes e sentimentos de exclusividade. Mas o mundo necessita de unidade, o que significa destruir as barreiras e divisões mentais. Com isto em mente, é insuficiente uma avaliação dos princípios das outras religiões, enquanto se continua a enfatizar a grandiosidade de determinado enfoque. Tolerância não é generosidade.

Para a mente ser benevolente ela deve ser mais do que tolerante. Esta benevolência resulta somente da percepção do Eu único como o eu em todos os seres. A verdadeira educação religiosa deve facilitar esta percepção. Entre outras coisas ela deve indicar que no nível físico todas as substâncias materiais estão constantemente circulando. A matéria que compõe nossos corpos, que aparentemente nos pertence, está de fato por algum tempo emprestada e estará, geralmente em um futuro próximo, à disposição da terra ou de outra criatura. Isto acontece mais ainda em níveis mentais e emocionais. Todas as substâncias pertencem ao “espírito único da vida”.

A compreensão de que o indivíduo não é diferente da sociedade, e que estamos afetando constantemente esta sociedade mesmo pelas pequenas coisas que pensamos, sentimos e fazemos também deve ser parte essencial da educação religiosa.

Atualmente há informação suficiente para mostrar que “seu” próprio bem-estar está intimamente ligado ao bem-estar de todos os outros. Juntos afundamos ou flutuamos na “espaço-nave terra”. O conceito de fraternidade universal, que é tão importante e um dos objetivos da Sociedade Teosófica, implica na erradicação do auto-interesse e dos preconceitos que muitas pessoas têm como parte de sua auto-identidade.

Na Índia antiga, as pessoas eram constantemente lembradas de que os inimigos do homem estão dentro e não fora dele. A educação deve ajudar adultos e jovens a reconhecerem atitudes desfavoráveis e hostis em suas próprias mentes, o que corrompe o indivíduo e envenena a sociedade.

Além disto, os valores que cada indivíduo basicamente absorve devem ser de natureza universal e não regional, sectária ou provinciana. Por exemplo, a compaixão é um valor universal e eterno. Não faz parte da pessoa “religiosa” mais do que do agnóstico; não pode ser reivindicada apenas pelos credos hinduísta, muçulmano ou cristão. Os valores universais têm poder de união, enquanto virtudes e valores secundários podem ser separativos.

A ecologia, o conhecimento científico, a ética e muitos outros campos de estudo podem reforçar ou desencorajar a percepção da unidade da existência. A verdadeira educação religiosa, a que é necessária tanto a jovens como a velhos, deve reforçar a percepção desta unidade.
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(*) Presidenta Internacional da Sociedade Teosófica (Extraído da revista  The Theosophist, maio de 1999).

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