Walter da Silva Barbosa[1]
Que significa Deus
para cada um de nós? Talvez, considerando a grande maioria, não mais que um
rótulo. Grandioso para seus crentes ou devotos, carregando atributos além de
toda compreensão humana – como “onipotente”, “onisciente” e “onipresente” – que
são apenas outros rótulos. Fora do círculo dos crentes, talvez não signifique
nada.
Entretanto, o
universo é bem visível para nós. Nós o apalpamos em suas diversas faces o tempo
todo. Ele não pode ter vindo do nada, porque o nada não produz coisa alguma. A proposta
de um Big Bang capaz de gerar essa
fantástica diversidade a partir do nada é uma incompreensível diminuição da
inteligência humana.
Tudo que surge
tem vida real em sua própria semente. E a semente tem vida real em algo que vem
antes dela. Assim também é o nosso corpo, como fruto aparente desse universo,
que se encontra nos ossos, nervos, músculos e sangue desse corpo. Ele realmente
é produto da geração de muitos reinos que o antecederam: o mineral, o vegetal e
o animal, cada um lhe dando algo. Mas nós somos muito mais que ele porque, na
condição de semente pequenina, carregamos a natureza daquele que produziu tudo.
Deus é o nosso Ser em trabalho de parto constante, forcejado nas trevas da
matéria e movido a milênios.
Misteriosamente,
porém, a menos que tenhamos vivido experiências de “quase morte” (percebendo-nos
como consciência fora do corpo), ou tenhamos desenvolvido a capacidade de realizar
conscientemente “viagens astrais”, o corpo físico é nossa identidade com a
vida, sendo a única parte que vemos de nós mesmos. É natural, portanto, confundirmos
a vida com ele.
Apesar de
justificável nosso engano, confundir a vida com o corpo mortal é causa de muito
sofrimento, pois abrigamos ao mesmo tempo a ânsia
de viver, que não é só uma questão de apego à vida, mas principalmente a
percepção intuitiva de nossa natureza imortal. Tudo que fazemos tentando
materializar os sonhos de onipotência do ego, sujeito ao pó, encerra esse grito
de eternidade. A ânsia de viver e realizar o eterno naquilo que é passageiro torna-se
então uma angústia, um conflito, uma luta para extravasar em coisas sujeitas à
morte aquilo que em nós não morrerá jamais: a consciência, a realidade do Ser –
que é tão somente o predomínio de Deus em nós. Como dar fim a esse paradoxo?
O mistério que
não nos deixa enxergar a realidade de nossa natureza chama-se maya na filosofia hindu, significando
“ilusão” ou “encantamento”. Como ensina I. K. Taimni[2],
é uma barreira subjetiva que permeia a consciência humana e a consciência
divina. Porém, aquele que criou a barreira – Deus – “tem também o poder de
removê-la quando quiser”. Assim, é algo fora de nosso controle, obedecendo,
porém, à Lei do Amor.
“Que força é
essa que compele mesmo Deus a exercer esse extraordinário poder? Amor. Nada
senão puro e generoso amor na forma de intensa devoção pode operar esse
milagre, e eis por que a devoção é geralmente considerada como o mais eficiente
meio de encontrar Deus” diz Taimni.
Portanto, a
autoentrega é a chave para o “reino dos céus” (que está aqui, agora), requerendo
direcionar a Deus todos os atos, pensamentos e sentimentos, que assim se
purificam. A palavra de passe é amor. “Puro e autêntico amor a Deus é o único
motivo da busca, e é somente assim que Deus aparece”.
Se o anseio por recompensa
se intrometer, Deus não surgirá. Que os verdadeiros devotos de todas as
religiões – não importando os rótulos que imaginem para Deus – possam estar
cientes dessa realidade, aumentando mais e mais Sua presença consciente no
mundo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário