terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Deus: a suprema realidade do Ser


Walter da Silva Barbosa[1]
Que significa Deus para cada um de nós? Talvez, considerando a grande maioria, não mais que um rótulo. Grandioso para seus crentes ou devotos, carregando atributos além de toda compreensão humana – como “onipotente”, “onisciente” e “onipresente” – que são apenas outros rótulos. Fora do círculo dos crentes, talvez não signifique nada.
           
Entretanto, o universo é bem visível para nós. Nós o apalpamos em suas diversas faces o tempo todo. Ele não pode ter vindo do nada, porque o nada não produz coisa alguma. A proposta de um Big Bang capaz de gerar essa fantástica diversidade a partir do nada é uma incompreensível diminuição da inteligência humana.

Tudo que surge tem vida real em sua própria semente. E a semente tem vida real em algo que vem antes dela. Assim também é o nosso corpo, como fruto aparente desse universo, que se encontra nos ossos, nervos, músculos e sangue desse corpo. Ele realmente é produto da geração de muitos reinos que o antecederam: o mineral, o vegetal e o animal, cada um lhe dando algo. Mas nós somos muito mais que ele porque, na condição de semente pequenina, carregamos a natureza daquele que produziu tudo. Deus é o nosso Ser em trabalho de parto constante, forcejado nas trevas da matéria e movido a milênios.
           
Misteriosamente, porém, a menos que tenhamos vivido experiências de “quase morte” (percebendo-nos como consciência fora do corpo), ou tenhamos desenvolvido a capacidade de realizar conscientemente “viagens astrais”, o corpo físico é nossa identidade com a vida, sendo a única parte que vemos de nós mesmos. É natural, portanto, confundirmos a vida com ele.
           
Apesar de justificável nosso engano, confundir a vida com o corpo mortal é causa de muito sofrimento, pois abrigamos ao mesmo tempo a ânsia de viver, que não é só uma questão de apego à vida, mas principalmente a percepção intuitiva de nossa natureza imortal. Tudo que fazemos tentando materializar os sonhos de onipotência do ego, sujeito ao pó, encerra esse grito de eternidade. A ânsia de viver e realizar o eterno naquilo que é passageiro torna-se então uma angústia, um conflito, uma luta para extravasar em coisas sujeitas à morte aquilo que em nós não morrerá jamais: a consciência, a realidade do Ser – que é tão somente o predomínio de Deus em nós. Como dar fim a esse paradoxo?
           
O mistério que não nos deixa enxergar a realidade de nossa natureza chama-se maya na filosofia hindu, significando “ilusão” ou “encantamento”. Como ensina I. K. Taimni[2], é uma barreira subjetiva que permeia a consciência humana e a consciência divina. Porém, aquele que criou a barreira – Deus – “tem também o poder de removê-la quando quiser”. Assim, é algo fora de nosso controle, obedecendo, porém, à Lei do Amor.
           
“Que força é essa que compele mesmo Deus a exercer esse extraordinário poder? Amor. Nada senão puro e generoso amor na forma de intensa devoção pode operar esse milagre, e eis por que a devoção é geralmente considerada como o mais eficiente meio de encontrar Deus” diz Taimni.
           
Portanto, a autoentrega é a chave para o “reino dos céus” (que está aqui, agora), requerendo direcionar a Deus todos os atos, pensamentos e sentimentos, que assim se purificam. A palavra de passe é amor. “Puro e autêntico amor a Deus é o único motivo da busca, e é somente assim que Deus aparece”.
           
Se o anseio por recompensa se intrometer, Deus não surgirá. Que os verdadeiros devotos de todas as religiões – não importando os rótulos que imaginem para Deus – possam estar cientes dessa realidade, aumentando mais e mais Sua presença consciente no mundo!

[1] Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência – UNICONS.
[2] “Autorrealização pelo Amor”, Editora Teosófica.

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