Walter da Silva Barbosa[1]
O espírito –
Deus em nós – é a fonte de toda consciência. Tudo que vive (e a vida está
presente em tudo) cresce na direção dessa consciência, tendo por objetivo
chegar à plenitude que ela representa. Seu significado pode ser resumido na
célebre frase da Escada de Ouro: “Há
uma paz que ultrapassa o entendimento”. De fato só mesmo a Deus se pode atribuir
essa paz, porque está além de toda expectativa humana.
Agarrando-se
sempre a coisas concretas – por falta de vida interior, pela pequenez do
coração – as pessoas limitam sua plenitude exatamente àquilo que agarram: o carro,
a esposa, os filhos, o emprego. Tudo isso, porém, um dia desaparece, tornando
pó nossa sensação de plenitude. Até mesmo os ideais que alimentamos, quando
baseados em algum tipo de aquisição em torno do ego, seguem esse mesmo destino.
A plenitude de
fato só existe fora dos domínios do tempo, só pode significar o que é
permanente. Contudo, o que é permanente? Temos real noção disso, mergulhados
que vivemos nos altos e baixos da alegria e da tristeza, movidas a sensações?
Trazendo para
perto de nós o sentido da plenitude que nos espera, Tolle[2]
a sintetiza em três palavras: amor, alegria e paz. “Nenhuma novidade” – podemos
pensar, acreditando que em algum momento já desfrutamos isso. Pode ser que sim.
Mas apenas como lampejos, coisa de instantes, pois esses dons supremos fazem
parte de nossa natureza espiritual.
“Amor, alegria e
paz são estados profundos do Ser, ou melhor, três aspectos do estado de ligação
interior com o Ser”, diz Tolle. “Assim, não possuem opositores pela simples
razão de que surgem por trás da mente. As emoções, por outro lado, sendo uma
parte da mente dualística, estão sujeitas à lei dos opostos. Isso quer dizer,
simplesmente, que não se pode ter o bom sem que haja o mau”.
A dualidade é
algo inerente à vida neste mundo físico. O amor que desfrutamos, sempre baseado
em trocas, está sujeito a terminar com a morte do ser amado ou pelo abandono
(além de alternar-se com a raiva enquanto existir). A alegria cede rapidamente
lugar à tristeza quando o objeto do prazer se extingue – porque decepcionou, virou
rotina ou pela descoberta de um novo brinquedo – na insaciedade que contamina
todo prazer. A paz só nos acompanha enquanto a guerra adormecida dentro de nós não
encontra bons motivos para eclodir. E eles estão acontecendo a cada momento.
Mostrando a
fatalidade desse dualismo, a sabedoria chinesa diz: “Tudo que está cheio tende
a se esvaziar. Tudo que está vazio tende a se encher”. A mente é a fonte dos opostos.
Nossos amores e alegrias são manifestações mentais, baseadas em emoções. Não têm
existência real. Segundo Tolle, “O amor verdadeiro não permite que você sofra.
Como poderia? Não se transforma em ódio de repente, assim como a verdadeira
alegria não se transforma em sofrimento”.
Conforme nos
acena a Escada de Ouro, a paz que
ultrapassa o entendimento “mora no coração daquele que vive no Eterno”. Fazendo
parte dela, o amor e a alegria que buscamos só podem ser atingidos nos estados
além da mente. Essa é a proposta da iluminação, o caminho do Yoga, apesar de
tais sensações poderem ocorrer quando nossos corações – fazendo parar o tempo, enganando
a mente – vibram na mais pura entrega ao ser amado. Nessa condição muito
especial poderemos sentir uma genuína alegria, sendo levados a acreditar, por alguns
instantes, que vamos “amar para sempre”.
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